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60 anos da regulamentação da profissão de economista


19/08/2011

19/08/2011

Luiz Alberto Machado[1]

A meteorologia é o consolo do economista"
Eduardo Giannetti

13 de agosto é o dia em que se comemora o Dia do Economista. Isto se deve ao fato de que foi num 13 de agosto, no ano de 1951, que a profissão de economista foi regulamentada no Brasil. De lá para cá a profissão de economista viveu bons e maus momentos, e é uma reflexão sobre isso que vou me permitir fazer a seguir. Tal reflexão parece-me oportuna, considerando que a profissão, após uma fase em que despertou enorme interesse no Brasil, vem atravessando uma fase de certo esvaziamento nos últimos tempos, o que se constata pela procura cada vez mais reduzida pelas vagas oferecidas nos processos seletivos das faculdades de economia espalhadas pelo País.

Há muito tempo venho me preocupando com essa situação, razão pela qual tenho procurado fazer uma análise sistemática dos motivos que possam estar por trás desse desencanto com o curso de Economia e com a carreira de economista. Em minha opinião, quatro são os principais motivos:

1º) Duração e grau de dificuldade do curso de Economia

Desde a reforma curricular ocorrida em 1985, os cursos de Economia deixaram de ser vistos como muito atrativos pela maioria dos estudantes de ensino médio. A par dos inegáveis avanços que a referida Resolução trouxe aos cursos de Economia, temo que possa de alguma forma ter contribuído para a queda do interesse verificada nos últimos anos por duas razões: a primeira diz respeito ao grau de dificuldade do curso
a segunda, ao caráter excessivamente teórico que acabou assumindo na maior parte das faculdades, além de certo viés macroeconômico. Muitos dos alunos que se encontram na idade de fazer a opção pelo curso superior não possuem a maturidade necessária para uma escolha de tamanha importância e, nesse sentido, acabam optando por cursos que lhes exijam menor dedicação ao estudo e, se possível, maior chance de se formar num curto espaço de tempo. Exigindo sólida formação teórica, além de abrangentes conhecimentos de história e de métodos quantitativos, o curso de Economia desponta como um dos mais rigorosos e exigentes, desencorajando muitos dos estudantes que escolhem o curso a partir desses critérios.

2º) Relação entre desempenho da economia e qualidade dos economistas

Ingressei na faculdade quando o Brasil vivia ainda os anos do então chamado "milagre econômico". As excepcionais taxas de crescimento econômico daqueles anos superavam a já expressiva taxa média de crescimento da nossa economia observada ao longo de todo o século. A euforia tomava conta de boa parte da sociedade (estimulada por ampla propaganda do governo militar) e os economistas eram muito festejados. A relação candidato/vaga dos cursos de economia cresceu nesse período, indicando aumento de prestígio da profissão. De certa forma, associava-se o bom desempenho da nossa economia à excelente qualidade dos nossos economistas. O bom desempenho da economia brasileira, no entanto, não se manteve nas décadas seguintes. A década de 1980, diga-se de passagem, tornou-se conhecida em toda a América Latina como "a década perdida", uma vez que o crescimento do PIB por habitante foi de -8,3% na região, de acordo com dados da CEPAL - Comissão Econômica para América Latina e Caribe, citadas no excelente livro Qual Democracia?, do ex-ministro Francisco Weffort (Companhia das Letras, 1992). O Brasil, nesse período, apresentou um crescimento negativo de -0,4%, com a euforia cedendo lugar a uma realidade em que se combinavam estagnação prolongada, inflação crônica e crescimento descontrolado da dívida externa. A imagem do economista não resistiu à reversão do quadro e sucumbiu junto com as taxas de crescimento da nossa economia.

Acredito que este seja um falso paralelo, pois assim como o bom desempenho verificado até ao década de 1970 não foi produto exclusivo da competência de nossos economistas, também as dificuldades que se seguiram não podem ser atribuídas à sua incapacidade. Mas, ao que tudo indica, as pessoas costumam fazer esse paralelo.

3º) Descolamento entre previsões e resultados

Outro fator que contribuiu para a perda de prestígio da profissão deveu-se ao fato de que o economista foi confundido muitas vezes com um futurólogo. À medida que as incertezas se tornavam um dos traços mais marcantes da nossa conjuntura, mais as pessoas mostravam-se desejosas de saber qual seria o comportamento futuro dos principais indicadores macroeconômicos. E, nesse sentido, diversos economistas eram contratados, muitas vezes a peso de ouro, para desenharem os prováveis cenários. Erros e acertos ocorreram em grande quantidade, mas, como é normal em situações dessa natureza, os erros foram muito mais enfatizados do que os acertos.


4º) Falta de preocupação social

Um último possível fator explicativo da perda de prestígio da profissão estaria relacionado ao fato de que o economista é visto muitas vezes como um profissional desprovido de sensibilidade social. Tendo como vetor permanente a busca da eficiência, o economista só consegue pensar em si mesmo ou nos interesses da empresa a que está vinculado. Suas ações e decisões, nesse sentido, não levariam em conta os problemas da sociedade em que está inserido.


Ainda que esse tipo de crítica possa ser válido quando se observa o comportamento de alguns profissionais, não seria correto estendê-la a toda a categoria, pois há um volume considerável de exemplos mostrando exatamente o contrário, ou seja, ações e decisões de economistas, tanto do setor público como do privado, caracterizadas por elevado grau de solidariedade e responsabilidade social.

Não gostaria de concluir este artigo sem fazer uma confissão. Apesar de pensar muito a respeito dos motivos que levaram à redução do interesse pelo curso de Economia, tenho plena convicção de que continua sendo um curso capaz de formar um dos profissionais com formação mais adequada às exigências do mundo contemporâneo. A sólida e abrangente formação do economista dá a ele condições plenas para desempenhar uma ampla gama de ocupações no competitivo mercado de trabalho. Sua presença continua sendo indispensável em empresas, grandes ou pequenas, públicas ou privadas, que têm suas preocupações voltadas para além do curto prazo. Sua visibilidade é elevada, como se pode observar na presença constante dos economistas em diferentes veículos da mídia. Notícia recém divulgada pelo Wall Street Journal informa que o interesse pelo curso de Economia cresceu acentuadamente nos Estados Unidos nos últimos anos, depois de ter passado por um período de declínio. Quem sabe o mesmo não esteja para acontecer no Brasil?


[1] Luiz Alberto Machado é economista formado pela Universidade Mackenzie (1977), vice-diretor da Faculdade de Economia da FAAP e conselheiro do COFECON - Conselho Federal de Economia."


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