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A chacina do Rio de Janeiro


18/04/2011

15/04/2011
Gilberto de Mello Kujawski*
O massacre dos estudantes de uma escola no Realengo, Rio de Janeiro, na manhã de 7 de abril de 2011, assume o feitio de uma catástrofe nacional e coloca todo o país em estado de choque.
As autoridades locais, governador e prefeito, balbuciam palavras meio desconexas, atordoados pela brutalidade da ocorrência, com ampla e imediata repercussão no exterior. Só a Secretária da Segurança, Marta Rocha, manteve a cabeça fria e o discurso coerente. A Presidente Dilma ficou arrasada, à beira do pranto quando chamou as pequenas vítimas de aqueles brasileirinhos".
A consternação foi geral e a perplexidade congelou a mente das pessoas, que não podiam entender o que se passava. No calor dos acontecimentos as lições a tirar dessa explosão de violência contra tantas pobres crianças, são poucas e de estremecer. Acabou nossa paz coletiva, entramos em estado de convulsão emocional tomando conta de toda a sociedade e do próprio governo. Eis aqui o resumo das lições a serem lembradas no futuro:
Primeiro - O episódio da escola do Realengo pode repetir-se a qualquer momento em outros grandes centros do país, em função do contágio social nas pessoas predispostas ao mesmo tipo de desatino. E não há como prevenir eficazmente a repetição da ocorrência. A cruzada contra a venda de armas não passa de mero paliativo, assim como a vigilância policial redobrada em cada escola, muito difícil na prática.
Segundo - No Brasil esta espécie de atentado era inédita, mas no Primeiro Mundo, sobretudo nos Estados Unidos e no norte da Europa é cada vez mais frequente a invasão de escolas por estudantes ou ex-estudantes, armados até os dentes e dispostos a matar indiscriminadamente até morrer.
Terceiro - Existem alguns traços comuns na concepção e na prática desses atentados de execução em massa: são crimes de jovens contra jovens, perpetrados em locais cheios de crianças e adolescentes, as escolas ou universidades. No Realengo foi assim.
Quarto - O detalhe mais frequente e intrigante, tanto que pode significar não apenas um detalhe, mas o nó da questão, está no desfecho deste tipo de chacina, com o suicídio espetacular do ou dos agentes, disparando a arma contra a própria cabeça. Depois de matar dezenas de vítimas, cercados pela polícia e sem saída, aprisionados numa situação que eles mesmos provocaram, põem fim à vida, como se estivessem perecendo em morte heróica. Pode ser um último relance do delírio, pode ser mera chantagem emocional, mas querem passar, na derradeira cena da tragédia, de vilões a vítimas ou heróis.
Quinto - Esta circunstância do SUICÍDIO, erigido em ato final da tragédia desencadeada pelos mesmos protagonistas com sua violência cega, levanta a hipótese de que o extermínio em massa de tantos colegiais nada mais seria que o ponto culminante de um ritual de AUTOEXTERMÍNIO, de uma façanha espetaculosa de autodestruição dos agentes do massacre, devidamente aberta à publicidade e à mais ampla visualização na mídia, tudo na pauta de uma perspectiva narcisista e teatral. Ao atirar nas crianças e nos jovens indefesos, o assassino sente que está atirando nele mesmo.
Os protagonistas da tragédia armam o cenário e atuam num enredo de extermínio impiedoso, com a finalidade de criarem o teatro mais adequado ao ato final, ao último gesto na despedida da vida, que é seu próprio extermínio, neste nosso mundo dominado pela publicidade, no qual todos podem ter seus 15 minutos de glória.
Sexto - Esta suspeita de que a causa final de tantas atrocidades, repetidas em diversos países, é o suicídio espetacular do agente, foi percebida também por Contardo Calligaris, com sua cara meio de bruxo.
No entanto, a conclusão final, que ainda não foi denunciada, é que a juventude voltou-se contra ela mesma, consumida num processo trágico de autofagia. Os jovens, no fundo, perderam o sentido da concórdia, da disposição de conviverem em paz e harmonia uns com outros. Estão fragmentados em tribos isoladas e inimigas, presos em seus preconceitos de todo tipo, políticos, sociais, raciais, sexuais, estéticos, religiosos, filosóficos, alimentares, multiplicando seus signos tribais, as tatuagens cada vez mais ostensivas e aberrantes. Este isolamento do jovem, encarcerado em sua tribo, aprisionado na estreiteza de sua individualidade, é o responsável pela disposição ao extermínio em massa de outros jovens, vistos como inimigos irreconciliáveis só dignos de ódio, a serem sacrificados em banhos de sangue. Esta é a verdadeira tragédia de nosso tempo.
*Gilberto de Mello Kujawski, ex-promotor de Justiça. Escritor e jornalista"


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