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Mesmo com apoio do Partido Democrata, trabalhadores fracassam em criar primeiro sindicato da Amazon nos EUA


11/04/2021

Expressiva vitória da empresa contra movimento que teve apoio até de Joe Biden serve como termômetro para o país e enfraquece onda sindical

 

Em uma histórica eleição para decidir sobre a criação do primeiro sindicato de trabalhadores da Amazon, em Bessemer, no Alabama, os defensores da proposta, que tinha o apoio do Partido Democrata, sofreram uma retumbante derrota. Mais de dois terços dos funcionários da gigante do comércio eletrônico na unidade votaram contra o estabelecimento de um sindicato.

O resultado da eleição, cuja apuração demorou mais de uma semana, é um final anticlimático para um movimento de trabalhadores que tinha ao seu lado até o presidente Joe Biden, em um momento em que um sentimento pró-direitos trabalhistas e sindicatos se dissemina nos Estados Unidos.

Os funcionários concederam 1.798 votos contra a criação do sindicato, mais de 70% do total das cédulas contadas, em comparação a 738 votos favoráveis à sindicalização.

O resultado desequilibrado no depósito onde trabalham 6 mil pessoas em Bessemer — uma cidade majoritariamente negra, o que acentuou o significado da eleição — significa um duro golpe para os líderes do movimento de trabalhadores e seus aliados democratas.

A Amazon atualmente é o segundo maior empregador privado dos Estados Unidos, atrás só do Walmart, e sempre foi muito refratária à sindicalização de seus funcionários. Desde 2014, quando a empresa era muito menor, não havia uma eleição desse tipo.

Dentro da gigante do comércio eletrônico, sempre predominou uma cultura profissional conhecida como "primeiro dia", em geral comparada à de start ups. Para muitos funcionários, esta cultura significava ter um volume muito pesado e um ritmo muito intenso de trabalho, com atrasos de várias horas do horário de almoço, idas ao banheiro controladas e todo tipo de ação para facilitar as entregas para os clientes. Nas últimas semanas, eclodiu em redes sociais uma acalorada discussão sobre se os funcionários urinavam em garrafas, de modo a economizar tempo, e a empresa precisou desmentir os boatos.

—  A Amazon está reorganizando a própria natureza do trabalho de varejo, algo que tradicionalmente é fisicamente pouco exigente e tem uma grande quantidade de tempo de inatividade. Querem reorganizar em algo mais parecido com uma fábrica, que nunca cessa — disse ao New York Times Spencer Cox, um ex-funcionário da Amazon que está escrevendo uma tese de doutorado na Universidade de Minnesota sobre como a empresa está transformando a mão de obra.

Muitos de seus funcionários, especialmente aqueles que fazem trabalhos em depósitos, começaram a verbalizar que a empresa os pressiona além de seus limites e põe a sua saúde em risco, por baixos salários. A tentativa de sindicalização era uma resposta a isso.

O movimento em Bessemer ganhou força sobretudo nos últimos 12 meses, com a pandemia. O aumento das vendas da empresa, enquanto os funcionários corriam o risco de se contaminar com o coronavírus, aumentou a insatisfação, conseguindo superar anos de bloqueio a tentativas de organização sindical.

O líder dos trabalhadores pró-sindicato em Bessemer foi Darryl Richardson, de 51 anos, que, vindo da indústria automobilística, se decepcionou como o novo emprego ao testemunhar como colegas eram demitidos por não cumprirem cotas de produtividade, e ver como os salários estavam muito aquém do pagamento que ele recebia anteriormente.

Após contatar a central sindical Sindicato do Varejo, Atacado e Loja de Departamentos (RWDSU), Richardson conseguiu obter apoio suficiente para conduzir uma eleição.

Era esperado que o sindicato de Bessemer servisse de inspiração para outros, o que diminuiria o controle da Amazon sobre a sua força de trabalho e poderia afetar os enormes lucros da empresa nos últimos anos.

O movimento ganhou força pelo país. O senador progressista Bernie Sanders, de Vermont, foi um entusiasta defensor da iniciativa, e chegou a visitar o depósito no Alabama antes da votação. “Se os trabalhadores da Amazon conseguirem formar um sindicato, isso significa que o mesmo poderá ser feito em todo o país”, ele disse em uma rede social.

Até o presidente Joe Biden manifestou apoio ao movimento, embora sem citar explicitamente a Amazon. Biden tem defendido a sindicalização de trabalhadores nos Estados Unidos, em seu esforço para fortalecer a classe média e remunerar melhor o trabalho.

Contexto: Com viés pró-trabalho, política econômica de Biden está à esquerda das de Clinton e Obama

Em um discurso no dia primeiro de março, quando havia denúncias de que a Amazon intimidava funcionários que queriam se sindicalizar, ele afirmou:

— Os sindicatos colocam o poder nas mãos dos trabalhadores. Eles nivelam o campo de jogo. Eles dão a você uma voz mais forte, para sua saúde, sua segurança, salários mais altos, proteção contra discriminação racial e assédio sexual — disse Biden. — Não deve haver intimidação, coerção, ameaças, nem propaganda anti-sindical.

O apoio, contudo, não conseguiu superar uma campanha intensa promovida pela empresa, que  supostamente contratou um consultor anti-sindical por um preço alto para defender que seus trabalhadores têm acesso a empregos gratificantes e bem remunerados sem precisar de sindicatos.

A empresa exigiu que os trabalhadores participassem de um treinamento anti-sindical, enviou mensagens para seus telefones e afixou cartazes contra o sindicato em suas instalações.

“Nossos funcionários sabem a verdade: salários a partir de US$ 15 ou mais (por hora), assistência médica desde o primeiro dia e um local de trabalho seguro e inclusivo ", disse um porta-voz da Amazon em um comunicado.

A vitória deixa a Amazon livre para lidar com os funcionários em seus próprios termos, após uma onda de contratações expandir sua força de trabalho para mais de 1,3 milhão de pessoas.

Margaret O’Mara, professora da Universidade de Washington que pesquisa a história das empresas de tecnologia, disse que embora fosse apenas um armazém, a eleição atraiu tanta atenção que se tornou um "termômetro". A vitória da Amazon provavelmente fará com que trabalhadores pensem que "talvez não valha a pena tentar em outros lugares".

A central RWDSU, que liderou a campanha, atribuiu sua derrota ao que disse serem as táticas anti-sindicais da Amazon antes e durante a votação, que foi conduzida do início de fevereiro até o final do mês passado. O sindicato disse que questionaria legalmente os resultados das eleições e que vai pedir a fiscais federais do trabalho para que investiguem a empresa por criar uma “atmosfera de confusão, coerção e / ou medo de represálias”.

— Nosso sistema está quebrado — disse Stuart Appelbaum, o presidente do sindicato.  — A Amazon tirou proveito disso

A Amazon disse em um comunicado que “o sindicato dirá que a Amazon ganhou esta eleição porque intimidamos os funcionários, mas isso não é verdade”. Acrescentou ainda: “A Amazon não ganhou; nossos funcionários optaram por votar contra a adesão a um sindicato”.

A eleição teve um total de 3.215 votos, ou 55% dos 5.805 eleitores elegíveis. Cerca de 500 cédulas foram contestadas, em grande parte pela Amazon, disse o sindicato. Essas cédulas não foram contadas.

 

Fonte: O Globo




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