UGT UGT

Filiado à:


Filiado Filiado 2

Notícias

Que lição o Ocidente tirou da Praça Tahrir?


15/02/2011

Com relação aos países árabes sempre nos deparamos com uma narrativa ocidental amplamente aceita: a de que todos os movimentos populares nos países árabes levarão a regimes radicais islâmicos.

Possuindo uma história longa e problemática, a noção despontou de modo particularmente forte em resposta à revolução iraniana em 1979 e se consolidou em algo semelhante a uma doutrina ortodoxa no contexto do 11 de Setembro.

Essa voz corrente teve sérias consequências. Ela nos encorajou a ver todos os movimentos populares no mundo árabe, seculares ou islâmicos, como sendo janelas perigosas para o Islã militante. Consequentemente, nós relutamos em apoiar movimentos democráticos da forma como faríamos em outras partes do mundo.

No debate internacional sobre o levante na Praça Tahrir, esse ponto de vista novamente veio à tona. Eu também acredito que é fundamental que as coisas deem certo no Egito. Mas também acredito que os eventos no Egito e na Tunísia nos convidam a reconsiderar seriamente a narrativa comum de levantes populares no Oriente Médio.

Esses eventos demonstram que a revolução nas comunicações da última década mudou a política. Ela acentuou a influência de movimentos populares seculares e com propósito específico em países sem instituições democráticas. Ela criou redes de movimentos não liderados por um grupo ou ideologia individual. Isso é especialmente significativo no Oriente Médio, com seus muitos regimes autoritários, populações jovens ávidas por uma vida melhor e uma língua comum.

Além disso, esses levantes também ilustram que o mundo islâmico não é reduzível a um estereótipo comum. O levante não é controlado nem por grupos islâmicos e nem baseado em sentimentos principalmente islâmicos. E mesmo os movimentos islâmicos envolvidos parecem ser bem mais pragmáticos do que sugere a imagem predominante no Ocidente.

Esse contexto também vale além do Egito. Muitas sociedades islâmicas possuem populações jovens com acesso à nova tecnologia da informação e com uma visão de mundo mais global. Muitas possuem facções islâmicas moderadas e construtivas. E apesar de grupos radicais e fundamentalistas islâmicos obviamente existirem, eles frequentemente ganham força ao se transformarem em alvo dos regimes domésticos e por análises ocidentais ansiosas que os projetam como agentes centrais.

Logo, que lições devemos tirar, como praticantes da política internacional, da Praça Tahrir?

Nós precisamos refutar ativamente o estereótipo popular de que todos os movimentos políticos contemporâneos no mundo árabe contêm sentimentos radicais islâmicos perigosos. Nós não podemos continuar baseando nossas políticas no medo de que tudo repetirá o Irã de 1979 ou abrirá outro campo fértil para a Al Qaeda. Em vez disso, nós precisamos nos tornar mais hábeis em distinguir entre nossos estereótipos e a realidade empírica de fato no solo.

As políticas do Ocidente para o Oriente Médio precisam responder ao fato de que o futuro da região será cada vez mais moldado pelas vozes de uma sociedade civil jovem e pluralista. Como vimos, muitos governos no Oriente Médio têm grande dificuldade em interpretar e responder aos sinais enviados pela sociedade civil. Mas nós no Ocidente também precisamos melhorar nossa capacidade de fazê-lo.

Como ressalta o hábil processo de desenvolvimento de Estado do primeiro-ministro palestino, Salam Fayyad, os processos de paz não podem se concentrar exclusivamente em negociações da elite. Nós precisamos de soluções políticas que sejam ancoradas na esfera popular: desenvolvimento econômico, promoção da saúde, desenvolvimento de instituições e iniciativas de apoio à paz em solo. Fazer isso significa que levamos a sério a população no Oriente Médio da mesma forma que fazemos em nossos próprios contextos democráticos.

Finalmente, nós precisamos ver a importância do diálogo político com grupos que são diferentes de nós. Esse diálogo é uma ferramenta crucial em um mundo no qual a tecnologia da informação dá mais influência para a voz de grupos difusos. Dada a situação atual, não teria sido valioso ter promovido um diálogo sério com a Irmandade Muçulmana e outros grupos islâmicos antes?

Eu acredito ser um grave erro permitir que nosso julgamento das capacidades democráticas do mundo árabe seja baseado em nossos piores temores. No mínimo, nós temos que assegurar que os estereótipos negativos não distorçam nossas políticas. Ao fazê-lo, talvez possamos ajudar as populações não-ocidentais jovens e otimistas a florescer de acordo com os direitos humanos essenciais que elas também merecem.

(Declaração feita por Jonas Gahr Store é o ministro das Relações Exteriores da Noruega.)

Fonte: Tribune Herald


Categorizado em: UGT,


logo

UGT - União Geral dos Trabalhadores


Rua Formosa, 367 - 4º andar - Centro - São Paulo/SP - 01049-911 - Tel.: (11) 2111-7300
© 2023 Todos os direitos reservados.