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Propostas apresentadas pela UGT, representada pelo presidente Ricardo Patah e John Fernandes, na última reunião do FMI e Banco Mundial, em Washington, com as principais centrais sindicais do mundo


01/02/2011



A grande recessão: quem deve pagar pelos danos?

John Fernandes*

A proposta desse documento é destacar, rapidamente, alguns dos principais aspectos da recente turbulência financeira, a batalha perdida para tomar as medidas urgentemente necessárias para reduzir o impacto da próxima crise na economia real e, sugerir um jeito mais efetivo de como assegurar que bancos e instituições financeiras entendam que elas vão ter que pagar por qualquer efeito colateral para a economia real que resulta de atividades de negócios não voltados para à sociedade.

A grande recessão tem suas causas, suas lições, suas conseqüências e seus custos. O maior problema enfrentado, principalmente por países desenvolvidos, é chegar a um acordo sobre os fatores que permitiram os alicerces da crise e a fragilidade e vulnerabilidade exarcebadas pela sombra do sistema bancário, que finalmente engatilharam a crise. Um acordo sobre tais fatores é um primeiro passo importante para tomar as medidas necessárias para reduzir a gravidade e repercussões da próxima crise.

Isso é essencial já que há uma aceitação crescente na crença de que crises similares são inevitáveis, sendo parte integral da ordem mundial econômica estabelecida. Alan Greenspan, em sua apresentação para a instituição Brookings no dia 19 de março de 2010, não deixou dúvida quanto a esse fato, A não ser que haja uma escolha da sociedade de abandonar mercados e níveis dinâmicos através de alguma forma de planejamento central, o medo que previne as bolhas, no fim, se transformará de forma desproporcional. Saciar suas consequências parece ser o melhor a se esperar."

Peter Boone e Simon Johnson observam similaridades gritantes entre a próxima crise e o problema da reciclagem dos dólares do petróleo depois da crise de 1973. Eles nos alertaram para o "Ciclo Global Apocalíptico", do qual parece não haver uma saída segura. Seu ceticismo é parcialmente baseado no fato que os que os que "regularam e controlaram as políticas enquanto a bolha se formava, são os que agora estão desenhando nosso resgate do sistema que eles ajudaram a criar." Em outras palavras, toda vez que bancos e seus credores são libertados, as condições são firmadas para a próxima crise. Numa apresentação entregue na 12ª Conferência Anual Internacional de Bancos do Banco Federal Reserve de Chicago sobre "A Crise Internacional Financeira: as regras financeiras mudaram?", em 25 de setembro de 2009, Andrew Haldane e Piergiorgio Alessandri a esse ciclo de eclosão-liberação como a "Volta da Destruição". Esse se tornou um ponto inicial aceito em muitas discussões sobre o futuro da economia.

As causas e sua gravidade

O que foi inicialmente indicado como uma crise relacionada a hipotecas sub-prime, posteriormente se tornou a crise financeira global e, como resultado dos danos colaterais à economia real, é atualmente reconhecida como a grande recessão. Houveram inúmeros fatores que, em graus variados, participaram na origem do colapso do sistema financeiro. Geralmente chega-se ao consenso que crises financeiras são um resultado de excessos monetários. A crise recente de fato não foi uma exceção. Foi um resultado de economia e gastos excessivos, políticas monetárias negligentes, dinheiro excessivamente barato subsidiado disponível para o sistema bancário, prática de assumir riscos em hipotecas sub-prime e a excessiva complexidade e rápido crescimento da securitização e o mercado de derivativos. No entanto, nenhum desses fatores teria o poder de provocar tal desastre se o desequilíbrio global, que, através da rede financeira internacional, não tivesse inundado o mercado com oceanos de liquidez procurando por retornos mais elevados ou um porto seguro. Em outras palavras, se a hipótese de um mercado eficiente tivesse funcionado para corrigir tal desequilíbrio, como teoricamente era esperado, o peixe estaria restrito a nadar em rios locais, acessando apenas o oceano com propostas de otimizar sua relocação.

Já que o oceano de liquidez se aprofundou e a direção da liquidez em forma de tsunami encontrou novas costas para esmagar, pode ser significativo reconhecer suas fontes. Primeiro, existe o enorme superávit de poupanças em alguns países asiáticos, principalmente na China, mas também em alguns membros da OPEP, no Oriente Médio, e na Alemanha. O superávit de investimentos na Ásia, de longe o maior contribuinte dessa fartura, pode ser atribuído a três fatores, uma tradição predominantemente de economizar (isso tem muito a ver com a cultura de economizar da maioria dos asiáticos orientais), lições aprendidas com a crise financeira asiática no final dos anos 90 e políticas macroeconômicas voltadas para a exportação. Decisões políticas que estão sendo tomadas agora não irão corrigir o desequilíbrio entre os grandes gastadores e os grandes guardadores. Na verdade, existe um risco real do próximo abalo sísmico financeiro emanar de países emergentes. E esse pode ser um problema sério: o vício dos setores bancários em subsidiar fundos. Esse subsídio continua mesmo após seu fracasso, através de viabilizações e da diminuição da taxa de juros que efetivamente impuseram uma taxa para investidores, permitindo que bancos obtivessem lucros ainda maiores.

Quanto ao déficit, existem inúmeros países desenvolvidos, especialmente os Estados Unidos, que tem uma forte cultura de gastar mais do que ganham. Não surpreende o fato de que eles se tornaram o epicentro da crise.

No dia 2 de setembro de 2010, o presidente do Fed, Ben Bernanke, apresentou à Comissão de Investigação da Crise Financeira, com a compreensão da Fed, as causas da crise e os principais obstáculos para conter sua precipitação. Ele reconheceu que "as vulnerabilidade do sistema, junto com as lacunas no pacote governamental de resposta à crise, foram as principais explicações do porquê da crise ter sido tão severa e ter provocado efeitos tão devastadores em toda a economia." No problema já discutido amplamente e apresentado pelas instituições financeiras que são "grandes-demais-para-falhar", Ben Bernanke enfatizou que o perigo contínuo que tais instituições desempenharam e continuam a desempenhar, "há pouca dúvida de que empresas que são grandes-demais-para-falhar e assumiram riscos de forma excessiva, contribuíram para a crise significativamente, sendo Fannie Mae e Freddie Mac exemplos proeminentes...Se a crise gerou uma única lição, é que o problema grande-demais-para-falhar deve ser resolvido."

Quase todas as pessoas fora de círculos relacionados a bancos concorda plenamente com Ben Bernanke que o problema não se restringe somente aos bancos grande-demais-para-falhar, mas também ao tamanho desproporcional do setor financeiro em relação à economia real, e o rápido desenvolvimento da securitização impulsionado por enormes fortunas a serem feitas nas finanças modernas. Infelizmente, a gestão de riscos não se desenvolveu tão rapidamente quanto a capacidade de criar risco. As 10 maiores instituições financeiras detêm 70% dos ativos financeiros nos EUA, 10% a mais do que em 1990. Mas, ninguém fora do setor bancário pode entender porque a solução lógica e mais óbvia, de derrubar tais instituições que, devido ao seu tamanho absoluto e o entrosamento presente do risco sistêmico, não tem sido discutida pelos que têm poder de o fazer. Essa medida é agora justificada e ainda mais necessária considerando as conclusões do Relatório IMF de Genebra de 2007 sobre "Estabilidade Financeira Internacional" que encontrou "a consolidação sem precedentes no setor financeiro na década anterior que levou a ganhos de eficiência não significativos, sem economias de escala além de um baixo limiar, e a nenhuma economia de largo alcance."

Governos sucumbiram à situação de "reféns" que eles se colocaram. Uma razão importante pela qual nós fomos pegos em um círculo vicioso de piora da crise financeira é a incapacidade dos governos de tirar o poder político do setor financeiro. Tanto assim que é inaceitável que acionistas de bancos falidos sejam resgatados à custa de contribuintes. Países da zona do Euro, assim como os EUA, tem poucas escolhas a não ser recapitalizar os bancos. Em um artigo recente para o Financial Times, apropriadamente chamado de "A Europa deveria salvar seus bancos antes dos Estados Unidos", George Soros colocou a realidade em perspectiva, uma vez que os ovos são chocados, eles deveriam ser salvos antes da galinha.

Ben Bernanke, infelizmente, não chegou perto de levantar uma questão muito importante sobre como lidar com instituições financeiras "grandes demais para falhar". Em vez disso, devemos acreditar que amarrar suas mãos com nós múltiplos como Basiléia III, o Ato Dodd Frank e alguns outros menores de efeito duvidoso, irá fazer o truque, sabendo muito bem que o setor financeiro poderia ensinar a Harry Houdini alguns truques. A diferença importante é que Houdini permanecia calmo enquanto os nós e os cadeados eram presos nele. Por outro lado, os bancos estão lançando centenas de milhões de dólares e"


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