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Assessor do Sindicato encabeçou greve de Osasco aos 21 anos, durante a repressão política


31/05/2010

José Ibrahin, 64 anos, colabora com a luta dos comerciários diariamente. Entre 1967 e 1968, presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e região, foi preso e torturado pelo regime militar. Teve de se exilar em 1969 e voltou para continuar a luta pelos trabalhadores brasileiros. Na luta, antecipou a mobilização que seria feita no fim dos anos 70 pelo hoje presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista ao jornal Voz Comerciária, o militante falou da história pessoal e de que como os comerciários podem alcançar mais vitórias. Confira entrevista abaixo:

Jornal Voz - O que pode fazer o comerciário para levar à vitória as bandeiras da categoria?

Ibrahin - O comerciário deve ter a consciência do que é essa função e o valor que isso tem na sociedade. É uma categoria importante, que cresce muito e vai continuar crescendo, junto com todo o setor de serviços. É uma categoria estratégica e há muito que avançar. Tem pessoas que trabalham mais de 50h por semana. Nas lutas atuais, como a defesa da redução da jornada, esse quadro é absurdo. O Sindicato levanta essa bandeira, mas é necessária a participação dos trabalhadores. Eles têm tudo a ganhar com isso: mais horas de lazer com a família, mais descanso, mais tempo para cultura etc. Todos têm que entender o sindicato, não só como a sua casa, mas como a grande ferramenta de luta. Nós conquistamos a liberdade sindical: não tem mais prisão, tortura, risco de morte. Agora, não é voz isolada, é coletiva. O sindicato pode questionar o patrão, ao contrário do empregado, se ficar sozinho.

Jornal Voz - Os comerciários podem ter o mesmo papel dos metalúrgicos nas últimas décadas?

Ibrahin - Na etapa que vivemos, o comércio e serviços se destacam. A hora e a vez, hoje, em todo o mundo, é essa área comercial. Imagine uma grande rede de distribuição de eletroeletrônicos que para de operar? Isso gera uma enorme capacidade de pressão. A importância de uma categoria deve ser vista ao longo da história. Em cada etapa, existem ciclos econômicos. Assim, determinada categoria ganha papel mais relevante que outras. No início, em 1950, eram os ferroviários
em 1960, eram os têxteis
em 1970, com a indústria automobilística, foram os metalúrgicos. Portanto, essa categoria teve uma capacidade de pressão e negociação muito forte.

Jornal Voz - As pessoas são mais individualistas hoje, do que na década de 1960?

Ibrahin - Na minha época, não tinha celular, internet... o mundo é outro. As pessoas devem saber que as novas tecnologias não substituem o contato humano, os valores coletivos. Precisamos colocar as novas tecnologias a serviço do bem de todos, do coletivo.

Jornal Voz - O que esperar do resultado das urnas nas eleições de outubro?

Ibrahin - Depois da ditadura, avançamos muito. As candidaturas postas à Presidência têm história com a nação. Por outro lado, a renovação do Congresso Nacional é mais importante ainda que definir o presidente. Precisamos votar pelos compromissos que tem o candidato e não esquecer quem escolhemos. Os trabalhadores devem priorizar a eleição de deputados e senadores. Pensem agora: dos 513 deputados federais, quantos realmente representam os trabalhadores?

O Sindicato é uma grande ferramenta para alcançarmos uma sociedade justa, igualitária e solidária"

Em 1967, o governo militar permitiu eleições nos sindicatos, o que daria a chance de tirar da diretoria os interventores que vieram com o golpe de três anos antes. Por causa da intervenção, o grupo de Ibrahin tinha dificuldades de frequentar a entidade.

"Tínhamos de construir representatividade para romper essa situação. E era tudo sob as prisões e ameaças dos órgãos de repressão do governo", descreve Ibrahin. O sindicalista trabalhava na Cobrasma desde os 14 anos e montou uma comissão de fábrica para facilitar a luta trabalhista. O grupo venceu as eleições.

Com o fim da estabilidade e surgimento do FGTS, aumentou a rotatividade nas indústrias, com perda salarial. A articulação da equipe de Ibrahin começa a dar resultados, também ocorrem algumas paralisações e o sindicato passa a integrar o Movimento Intersindical Antiarrocho Salarial.

Aumentava a insatisfação entre os trabalhadores de Osasco. Em 16 de julho de 1968, começa a greve, que vai parar a Cobrasma e mais três empresas. À noite, o Exército invade o local de trabalho de Ibrahin e prende 600 empregados, com a desocupação. Na noite seguinte, 500 pessoas ocuparam o sindicato para defender a entidade de uma possível invasão, que ocorreu horas depois. O presidente pensava: "Se não fizer a greve agora, não faremos mais. Pois a ditadura não vai deixar fazer." Ele estava certo, como mostrou a reação.

"Quando não houve mais diálogo, o caminho foi responder à violência com violência"

A repressão aos sindicatos e outros militantes de esquerda aumentou em 1968, o que levou parte do grupo de José Ibrahin para a os grupos clandestinos, que também faziam ações armadas. "Estávamos sendo asfixiados e precisávamos reagir. Acabou o diálogo para os trabalhadores e também estavam matando os estudantes que contestavam o governo", descreve o líder de Osasco.

Preso e torturado pelo governo militar, o assessor do Sindicato foi libertado graças a uma troca de prisioneiros. Ele e mais 14 detidos foram trocados pela libertação do embaixador Charles Elbrick. Depois de passar pelo México, Cuba e Chile, ficou na Bélgica por cinco anos, onde atuou como metalúrgico e também presidiu a Casa da América Latina. O órgão recebia refugiados de países com restrições políticas.

Fonte: A Voz Comerciária"


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