22/12/2009
Laerte Teixeira da Costa (*)
No Brasil, a Constituição de 1988 consagrou o SUS (Sistema Único de Saúde), um plano criativo, sujeitando as três esferas de governo em modelo participativo e universal. Por ser ainda imperfeito, o brasileiro gasta muito em planos privados de saúde. Tive oportunidade de testar um dos mais conhecidos sistemas de saúde do mundo, o francês.
Estava em uma loja de departamentos, quando, distraído, tropecei na escada rolante e bati com o joelho esquerdo na quina do degrau, o que provocou corte e sangramento. O pessoal da segurança constatou a profundidade do ferimento e a necessidade de sutura. Obrigaram-me a comparecer ao Hospital Lariboisière. Como em toda emergência, primeiro vieram os trâmites burocráticos. Depois, um pré-exame feito pela enfermeira que fica ao lado do guichê para saber para onde encaminhar o paciente. No pré-exame todas as verificações de rotina (medição da pressão arterial e da glicose, e outros). Fui encaminhado à sala de espera. Demorou, mas quando me chamaram tudo evoluiu rapidamente. Fui examinado pela médica auxiliar, que exigiu radiografia do local para afastar a possibilidade de fratura. Feita a radiografia, ela chamou o médico-chefe que prosseguiu com o trabalho, informando-a dos procedimentos. Certamente, um professor. Ele anestesiou, fez ampla e rigorosa higiene local e suturou. Cinco pontos. Imobilizou, deu a receita, imprimiu sucinto relatório, forneceu a radiografia e me dispensou, não sem antes recomendar uma boa taça de vinho francês.
Não me perguntaram pelo seguro (talvez a loja o tivesse), me atenderam a contento e o problema foi resolvido. Em Rio Preto teria sido resolvido igualmente, tenho certeza. Nos Estados Unidos, sem um documento, nem pensar. Daí as preocupações do novo governo em reformar o sistema de saúde americano. Em outros países (e talvez em outras cidades brasileiras) poderia haver dificuldades. Como no dia seguinte viajei muitas horas em posição incômoda, de Paris a Rio Preto, compareci à emergência local. O joelho estava vermelho e inchado. Recebi a recomendação de antibiótico, associado a antiinflamatório. Enfim, aqui também fui muito bem a tendido. Só estranhei uma informação: a emergência do hospital, no momento adequado, não poderia retirar os pontos porque não fora ela a fazer a sutura. Fiquei pensando que se todos tivessem a mesma postura, deveria voltar a Paris para extrair os pontos. Agradável absurdo! Aí, soube que qualquer farmácia pode fazer isso. Não estou criticando nem comparando, apenas fazendo um relato. Desse episódio extraí duas lições: 1ª) ao viajar para o exterior, é necessário o domínio de, pelo menos, uma língua estrangeira, de preferência o inglês
2ª) possuir seguro de acidentes e de saúde e imprescindível nesses casos (eu os tenho). Gostei do sistema francês de saúde. O SUS do Brasil é um plano bem pensado que, com o tempo e aperfeiçoamentos, poderá inclusive superar os sistemas de outros países desenvolvidos. Nem tudo neste país é ruim.
Laerte Teixeira da Costa é vice-presidente da UGT e Secretário de Políticas Sociais da CSA (Confederação Sindical das Américas).
UGT - União Geral dos Trabalhadores