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O Mundo do Trabalho e as Relações Capital x Trabalho nesses Tempos de Pandemia e de Novas Tecnologias


14/12/2020

O Professor Doutor Dari Krein, do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho (CESIT/UNICAMP), foi o expositor do tema “‘O Mundo do Trabalho e as Relações Capital e Trabalho nesses Tempos de Pandemia e de Novas Tecnologias”, no terceiro dia do Curso de Formação Político-sindical da UGT e Solidarity Center, realizado no dia 10/12, no formato online, para dirigentes sindicais das Regiões Norte e Centro-Oeste do país.

 

Antes da Palestra do professor Dari, a vice-presidente da UGT, Cássia Bufelli, que também foi a mediadora do debate, falou sobre as perdas de direitos e o aumento do desemprego entre as profissionais do setor de bordados de Ibitinga e das várias regiões do país, provocados pelo avanço tecnológico e acentuado pela pandemia do novo coronavírus.

 

Dari Krein, iniciou sua palestra afirmando que a pandemia exacerbou as tendências já existentes, aprofundando a crise que atinge em cheio os direitos dos trabalhadores e os seus sindicatos, o aumento do desemprego, o fechamento de milhares de empresas e, consequentemente, de postos de trabalho. Além desses aspectos, o professor aponta que essa situação pode significar inflexões, ou seja, maiores alterações no mundo do trabalho e na vida das pessoas.

 

O desemprego estrutural e a pandemia do novo coronavírus levou o Brasil a uma crise sem precedentes, com 13,8 milhões de desempregados, 33 milhões de pessoas subutilizadas, 31 milhões de trabalhadores na informalidade e 5,9 milhões de pessoas que desistiram de procurar emprego, os chamados desalentados. Para se ter uma ideia da profundidade dessa crise, em 1 ano o país perdeu 12 milhões de postos de trabalho, sendo 4,3 milhões em apenas 3 meses.

 

Entre os desempregados e os trabalhadores que estão na informalidade, chama atenção a cor da pele: a maioria é negra (preta) e, nesse grupo, a maioria é mulher, ou seja, o desemprego no Brasil tem cor. Além disso, os dados apontam que os trabalhadores de baixa renda e com menor escolaridade foram os mais atingidos pelo desemprego e compõem o maior número entre os informais.

 

Outro dado que chama atenção é o rendimento médio dos trabalhadores ocupados, onde as mulheres negras ganham cerca de R$ 1.573,00, as mulheres brancas R$ 2.646,00 os homens negros R$ 1.950,00 e os homens brancos R$3.467,00. Com esses dados fica demonstrado, mais uma vez, que é preciso enfrentar o problema racial que existe interiorizado na sociedade e que, lamentavelmente, muitos brasileiros teimam em negar. 

 

Na opinião do professor Dari Krein, a pandemia mostrou, também, uma maior visibilidade da importância do trabalho; a incapacidade do Brasil de gerar postos de trabalho; a crescente desigualdade; que as novas tecnologias estão mudando a realidade do trabalho, mas a maioria dos ocupados está mais vulnerável; o crescimento das ocupações precárias, de baixos salários e sem proteção social; o aumento da desigualdade entre os rendimentos do trabalho; e a polarização nas ocupações. Além disso, o professor Dari aponta que a desestruturação do mercado de trabalho é um limitador para retomada da economia.

 

As Novas Tecnologias

 

É importante registrar que o problema do desemprego não é a tecnologia (ela apenas acentua o problema), mas o sentido que ela adquire no contexto histórico concreto. E também não é um problema de qualificação profissional, pois a realidade do mundo do trabalho mostra que existem milhares de pessoas formadas, com vários diplomas universitários e com experiências em suas profissões que estão desempregadas ou trabalhando como motoristas de Uber, por exemplo. 40% dos jovens que se formam nas universidades estão desempregados. Ou seja, é mais uma questão da falta de capacidade do sistema capitalista de dar respostas às necessidades da maioria da humanidade.

 

As Inovações Tecnológicas acentuam a dependência do trabalho às grandes estruturas; a expansão do trabalho por demanda (uberização): plataformas digitais avançam para múltiplos setores como os serviços de entrega, transporte individual, logística, produção de software, ensino, saúde, comércio, entre tantos outros. É a “Procissão de desgraças”, como disse o economista Luís Gonzaga Belluzzo (2020), que vai deixando um rastro de precariedade como a insegurança e vulnerabilidade; a informalização do trabalho, o pagamento por tarefa.

 

O Teletrabalho, o Home Office, o Trabalho Remoto, por exemplo, é uma realidade no Brasil e ganhou nova expressão na pandemia, com mais de 8 milhões de trabalhadores nessas modalidades. É um trabalho flexível, intensificado e de jornadas prolongadas, sobretudo no contexto da pandemia, em que os trabalhadores tiveram que fazer rápidas adaptações. A Pesquisa da Rede de Estudos e Monitoramento Interdisciplinar da Reforma Trabalhista (REMIR), aponta que durante a pandemia essas modalidades de trabalho, em especial o home office, acarretaram uma sobrecarga de trabalho para as mulheres por terem que lidar com a combinação das tarefas domésticas e o trabalho profissional, já que são as principais responsáveis por cuidar dos filhos e da casa.

 

Ainda segundo o Dari, a realidade mostra que não há, por ora, indícios de que as medidas serão as mais favoráveis para a classe trabalhadora, dado o movimento de desconstrução de direitos e as novas regulações do trabalho em patamares cada vez mais rebaixados, situações causadas, principalmente, pela Reforma Trabalhista de 2017, que foi apresentada para a sociedade brasileira como a principal saída ao desemprego, mas que não passou de uma falácia, assim como ocorreu com a Reforma da Previdência.

 

Durante a pandemia, podemos perceber que o sindicalismo, nos setores essenciais, realizou forte ativismo em defesa do emprego, das condições de trabalho e preservação da vida, com ações de agitação, protestos públicos, atos de solidariedade com outras categorias em luta, negociações, iniciativas filantrópicas, ações judiciais, além do esforço de fiscalização nos locais de trabalho e comunicação com suas bases. O interessante é que as entidades que assumem explicitamente um posicionamento político parecem ampliar seus repertórios de ação, com inovação nas formas de comunicação, mas, infelizmente, ainda com pouca formação política. 

 




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