02/09/2020
Resignação com baixo crescimento cobraria um preço elevado do ponto de vista social
A economia brasileira, como já se esperava, levou um tombo no segundo trimestre de 2020 devido à pandemia de Covid-19. Muito disso decorreu diretamente das necessárias medidas de isolamento social e distanciamento físico, mas o quadro de grande incerteza também restringiu o crédito e bloqueou decisões de gasto das famílias e empresas.
As ações emergenciais adotadas pelo governo, a despeito dos problemas de implementação e desenho, mitigaram os efeitos negativos, mas mesmo assim o PIB só não apresentou uma queda de dois dígitos graças à contribuição positiva do setor externo. As exportações cresceram, embora pouco, e as importações despencaram junto com a demanda interna.
Ao que tudo indica, o segundo trimestre foi o pior momento da crise da Covid-19. A questão agora é que tipo de recuperação teremos. O perigo é voltarmos à morosidade que marcou o período 2017-2019.
E isso porque o impacto negativo da pandemia se sobrepôs às perdas anteriores de 2015-2016. Tanto é que, tomados os dados da série com ajuste sazonal, o PIB permanece 14% inferior ao do final de 2014. A resignação com o baixo crescimento cobrará um preço elevado do ponto de vista social e dificultará a modernização do nosso tecido produtivo.
Enquanto não for desenvolvida e distribuída vacina ou tratamento eficaz contra a Covid-19, dificilmente haverá completa normalização das atividades econômicas. Por essa razão, como alertam os organismo multilaterais, pode ser necessária a continuidade dos programas de apoio a empresas e famílias, que devem, entretanto, passar por ajustes graduais e progressivos em adequação às mudanças de quadro.
Dar mais robustez à recuperação também passará pela priorização de gastos públicos com maior efeito multiplicador e pela construção de consensos em torno de importantes reformas estruturais, a começar pela reforma tributária. A redução das atuais incertezas nesta matéria e o avanço na ampla simplificação do sistema de impostos teriam efeitos positivos tanto no longo como no curto prazo.
Fonte: Folha de SP
UGT - União Geral dos Trabalhadores