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Estoques retardam repasse da alta do dólar ao consumidor, diz comércio


06/03/2020

Apesar da manutenção de preços, setores dependentes de importação estão em alerta

 

A escalada do dólar, que encostou em R$ 4,67 nesta quinta (5) e acumula alta de 16% no ano, deixa o comércio dependente da importação em alerta, embora a elevação não tenha sido repassada ao preço ao consumidor.

 

A cadeia de trigo amarga um aumento de 15% a 20% no custo —o câmbio não é o único fator, mas figura entre os principais. A alta deve pressionar o preço da farinha e, assim, de pães, biscoitos e massas.

 

Os moinhos já transferem parte deste custo à farinha, mas fabricantes de alimentos ainda resistem em precificá-lo nos produtos.

 

"Até agora, o valor não foi repassado ao pão e à massa. Isso geraria efeito inflacionário, aumentando o custo da cesta básica. A questão é como as fabricantes vão lidar com esse aumento ao consumidor", diz Rubens Barbosa, presidente da Abitrigo, que reúne a indústria brasileira do cereal.

 

A variação cambial foi de 9,5% nos primeiros 60 dias do ano, o que levou os moinhos à revisão da política de preço.

 

A expectativa da indústria é de um "cenário sombrio" a partir de maio. Isso porque os moinhos brasileiros têm estoques de três meses. Das 11 milhões de toneladas de trigo consumidas por ano no Brasil, 7 milhões vêm do exterior.

 

O setor já transmitiu preocupação aos ministérios da Economia e Agricultura, que examinam o que poderá ser feito, de acordo com Barbosa.

 

As padarias de São Paulo não sentiram o impacto, segundo Rui Manuel, do sindicato que reúne a indústria de panificação e confeitaria.

 

"O quilo do pão francês permanece o mesmo desde o meio do ano passado, de R$ 10 a R$ 13. Se repassar [o custo], não vende. O mercado não aceita aumento. As empresas não passaram às padarias."

 

Outro setor dependente de exportação, o varejo popular, que compra diversos itens da China, também não registrou alta nos preços, de acordo com lojistas. Os estoques, segundo eles, estão dando conta da demanda, mas não é possível prever até quando os valores seguirão na média anterior à alta do dólar.

 

"Neste momento, está ok, mas o cenário vai mudar. Estamos favorecidos porque compramos muito antes da disparada, mas isso é por tempo limitado", afirma Ondamar Ferreira, gerente da Armarinhos Fernando, um dos maiores pontos de venda da rua 25 de Março, em São Paulo.

 

O problema pode ocorrer quando acabar o estoque de brinquedos —no estabelecimento, 90% vêm da China.

 

Segundo o dirigente, será preciso deslocar a demanda para produtos nacionais. Com o surto do coronavírus, muitas mercadorias não saem do país asiático e o que está na importadora precisa absorver a elevação do dólar.

 

"Não sabemos se o lojista vai repassar para o preço final ou segurar o prejuízo. Produtos da China, que deveriam chegar em dezembro, estão chegando agora. É muita incerteza", diz Claudia Urias, assessora-executiva da Univinco, entidade que reúne lojistas da 25 de Março.

 

Alguns produtos podem acabar em breve nas lojas com a demora dos embarques na China. É inevitável que as novas levas de compra saiam mais caras ao lojista.

 

"O pessoal entrou em 2020 com expectativa boa, aí veio chuva, coronavírus e dólar. Bom é que muitos compraram com antecedência", diz Claudia.

 

Na conjuntura de dólar e coronavírus, o turismo é uma das áreas com influência mais visível na variação de preços. As viagens corporativas, em especial, podem canceladas ou remarcadas. O dólar alto não impactou o faturamento das agências em janeiro, mas o cenário no médio prazo é incerto.

 

"A alta do dólar está direcionando o passageiro para outros lugares", diz Aldo Leone Filho, presidente da Agaxtur, agência de viagens e turismo. Apesar da substituição, há quem prefira adiar a viagem, o que acarretaria num cenário de demanda represada.

 

"As pessoas têm medo de viajar para fora e gastar muito. Mas hoje temos conseguido negociar 20%, 25% de desconto. O destino também muda. Sai de Europa e vai para Caribe, Atacama, Bariloche, onde hotel e avião ficam baratos."

 

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, estima um impacto no IPCA (índice de preços ao consumidor) de 0,12 ponto percentual a cada 10% de desvalorização.

 

A moeda já perdeu cerca de 15% de valor, o que elevaria esse efeito para quase 0,20 ponto percentual, para uma meta de 4% (com margem de erro de 2,5% a 5,5%).

 

Na semana passada, a projeção do boletim Focus para o câmbio no final do ano, com economistas consultados pelo Banco Central, subiu de R$ 4,15 para R$ 4,20.

 

"A expectativa ainda é que o câmbio volte para um patamar um pouco menor. Mesmo com essa oscilação, não há preocupação para o cumprimento dessa meta de 4%."

 

Fonte: Folha de SP




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