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Ativo brasileiro disputa capital externo


28/10/2019

Reformas e crescimento prometem reaquecer interesse externo por ações locais

 

Apesar de não ter conseguido reconquistar o investidor externo, o mercado de ações do Brasil tem grandes chances de virar o jogo e voltar ao destaque internacional, em um mundo mais enfraquecido economicamente e com pares emergentes menos atraentes. Na última década, as ações brasileiras perderam um enorme espaço para outras regiões, especialmente a China. Enquanto o gigante asiático apresentou crescimento, a economia local patinou: entrou em crise, enfrentou o impeachment e frustrou investidores, sem clareza de agenda econômica e sem estabilidade política. Agora, porém, o cenário parece outro, segundo gestores ouvidos pelo Valor.

 

Recentemente, a BlackRock, maior gestora global de ativos, com US$ 6,52 trilhões, identificou um fluxo positivo para o fundo de índice (ETF) ligado ao Brasil e administrado pela casa, o iShares MSCI Brazil, ou EWZ, afirma Axel Christensen, estrategista-chefe para América Latina da casa. Ele afirma que ainda não é possível atestar a consistência desse movimento, mas o dado mostra que qualquer melhora do cenário internacional permite um fluxo para Brasil, dada a história do país, seu tamanho e relevância.

 

“O que aconteceu com o Brasil aconteceu em outros mercados emergentes, mas, se olharmos os últimos dados, da semana passada, é interessante notar uma entrada de fluxo. Tem um longo caminho até isso mudar, mas as perspectivas começam a mudar com uma estabilidade na administração do país e de agenda”, diz ele. “O Brasil não está em fim de ciclo [de crescimento] como o mundo e ainda tem uma história de recuperação. 

 

A reforma fiscal, agora aprovada, certamente deve ajudar no processo de confiança.”

 

Levantamento recente do BTG Pactual mostra o tamanho da perda de interesse em Brasil desde 2009. Naquele ano, o país liderava a alocação de toda a indústria de fundos dedicados a mercados emergentes, com fatia de 16,7%, contra 15,3% do segundo colocado, a China. Hoje, o país asiático detém uma fatia de 27,1%, líder nas carteiras dedicadas a emergentes, enquanto o Brasil caiu a 8,3%, atrás de países como Taiwan, Coreia do Sul e Índia.

 

Ainda de acordo com o BTG, a partir de dados da consultoria EPFR, fundos internacionais de vários tipos já retiraram US$ 1,02 bilhão em 2019 da renda variável local, até agosto, a primeira saída em quatro anos. A última vez que o Brasil havia sofrido um saque líquido, em 2015, viu uma retirada de US$ 3,73 bilhões das ações.

 

“Vemos uma rotação para ativos mais defensivos e saída do mercado de ações. Mas isso está mais associado à desaceleração  global e aos efeitos da guerra comercial do que com uma briga dos emergentes por fluxo”, diz Guilherme Loureiro, sócio e economista-chefe da Trafalgar. “Nosso momento é outro. Aqui, temos um bom ambiente para o investimento em ações, enquanto os mexicanos, por exemplo, ainda têm grande espaço para compressão de juros e necessidade de estimular a economia. Por isso, não há uma competição direta por recursos [de ações].”

 

Na avaliação de Marcelo Audi, sócio e gestor da Cardinal Partners, o Brasil pode aumentar seu peso nas alocações internacionais no efeito comparativo, porque o restante dos emergentes está pior e sem a mesma perspectiva de melhora. “Você não vê nenhum emergente tradicional, como México, Rússia e Turquia, com fundamentos tão bons quanto os do BrasilO Chile está economicamente melhor em indicadores, mas há grande instabilidade social lá, além de ser um mercado menor.”

 

Após um caminho longo de ajustes, o Brasil volta a ganhar importância, uma vez que é um dos poucos com expectativas de crescimento mais sólidas no mundo, juro baixo, inflação ancorada e contas externas equilibradas. O país ainda tem uma situação fiscal frágil e registra um dos maiores déficits nominais na comparação com outras economias, mas a previsão é de melhora das contas públicas ao longo do tempo, com a reforma da Previdência.

 

 

 

Para Audi, a Índia pode despontar como grande destino para o investidor global, em virtude do potencial econômico. Por esse raciocínio, prossegue, é difícil que o Brasil ocupe destaque contra países que já consolidaram seu crescimento, caso da China. Ao mesmo tempo, porém, o mercado financeiro mais sofisticado é o Brasil, tanto em termos de qualidade das alternativas de investimento, quanto de governança e regulação, o que pode se traduzir em maior interesse estrangeiro na comparação com a maioria dos pares. “O que faltava para o Brasil era fundamento. Agora, ele existe.”

 

Nos cálculos da B3, o estrangeiro permanece bem longe das ações brasileiras no ano até hoje, mas uma trégua no ambiente de aversão a risco no exterior foi o bastante para o fluxo voltar a melhorar nos últimos pregões. Entre os dias 21 e 23, nas sessões em que o Ibovespa renovou recordes, os estrangeiros colocaram R$ 1,43 bilhão no mercado secundário. Mesmo considerando a entrada em ofertas de ações, de R$ 25,94 bilhões no ano até agora, o fluxo externo total segue negativo em R$ 4,92 bilhões.

 

“A retomada de crescimento e a perseverança nas reformas é o que, ao longo do tempo, vai fazer com que o Brasil segure o estrangeiro aqui”, afirma Guto Leite, gestor de renda variável da Western Asset no Brasil. “Mas não será como uma corrida curta, é como uma maratona. Vai levar tempo.”

 

Leite diz que o risco para a migração do estrangeiro para Brasil reside no fluxo do investidor local, que pode tornar os papéis muito caros e retardar ainda mais a volta do capital externo. Isso, no entanto, não muda a tese de investimento por aqui, de acordo com o gestor da Western

 

“Se em algum momento o Brasil ficar tão mais caro que os demais, um fundo estrangeiro pode reequilibrar a sua posição: se o Brasil se valorizar mais do que o México, por exemplo, isso pode forçar uma correção”, explica Leite. “Mas, quando olhamos para América Latina e a história do Brasil, levando em conta o tamanho dos mercados, ainda somos mais atrativos do que o México ou mesmo o Chile e a Argentina.”

 

Caso o cenário base da maioria dos analistas se confirme e o mundo não entre em recessão, o Brasil deverá ter certa vantagem entre os países latino-americanos. Mas, para isso, a disputa comercial entre China e Estados Unidos precisa caminhar para uma resolução, diz Jack Janasiewicz, estrategista-chefe de portfólio do Natixis Investment Managers. “Se a economia global começar a se recuperar, os investidores provavelmente verão o Brasil como o mais favorável da América Latina. Um retorno ao risco certamente beneficiaria o Brasil em relação a outras oportunidades na região”, diz.

 

Em relatório recente, os estrategistas da Natixis afirmam que, entre suas recomendações dos últimos meses, estão mais otimistas em títulos soberanos dos Estados Unidos, seguidos por ações de mercados emergentes como o Brasil. “Estamos nos tornando mais otimistas com os mercados acionários emergentes e uma resolução comercial entre China e Estados Unidos ajudaria ainda mais este cenário, em que haveria retorno de fluxos para o Brasil mas também certo benefício para a China quando comparamos todos os mercados”, avalia Janasiewicz.

 

Fonte: Valor Econômico 




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