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Bardella aponta Lava-Jato e crise ao pedir recuperação


30/07/2019

A Bardella, fabricante de equipamentos para setores industriais, ajuizou ontem um pedido de recuperação judicial, depois de registrar prejuízo anual por três anos consecutivos e acumular débitos de R$ 387 milhões. A empresa pertence a Cláudio Bardella, importante líder empresarial da indústria de base no período da ditadura militar. Com 108 anos de história, a fabricante não resistiu à queda da demanda por equipamentos, principalmente no setor de óleo e gás, e às consequências que a recessão dos últimos anos teve sobre o setor de bens de capital.

 

Na petição de recuperação judicial, enviada à 9ª Vara Cível de Guarulhos-SP na sexta-feira, a Bardella culpa a deterioração da economia brasileira a partir de 2014 como principal razão para piora da situação financeira da companhia.

 

 

No documento, em que solicita a proteção contra credores da companhia e de três controladas - Barefame Instalações Industriais, Bardella Administradora de Bens e Empresas e Duraferro Indústria e Comércio -, a empresa destaca que a indústria brasileira, principalmente de infraestrutura, entrou em "uma crise sem precedentes na história do país", afetada pela piora da economia e os efeitos da Operação Lava-Jato sobre os projetos da Petrobras e parceiros.

 

 

Segundo o diretor-presidente da companhia, José Roberto Mendes da Silva, a recuperação judicial estava sendo considerada há tempos, mas a decisão foi acelerada no começo do ano, após a perda de um importante cliente, cujo nome não foi revelado pelo executivo.

 

"A empresa tinha uma carteira boa de pedidos, mas no final do ano passado um importante cliente cancelou um grande pedido", disse o executivo ao Valor. Nos anos que precederam a crise, a carteira de encomendas da Bardella girava em torno de R$ 400 milhões ao ano. Em 2018, atingiu R$ 259 milhões.

 

A Bardella já sentia os efeitos da desaceleração do setor de bens de capital antes de 2014, ano citado pela companhia em sua recuperação judicial como o momento em que os problemas se agravaram.

 

Nos últimos dez anos, a empresa encolheu de tamanho e viu sua situação financeira piorar significativamente. Em 2009, segundo a base de dados do Valor, a companhia registrou caixa líquido, ou seja, quando o caixa da empresa é superior ao total da dívida, de R$ 34,6 milhões. No encerramento de 2018, a situação era completamente diferente, com a dívida líquida atingindo R$ 207,4 milhões.

 

A receita líquida passou a cair fortemente já a partir de 2011. No melhor momento do faturamento da companhia nos últimos dez anos, em 2010, a receita foi de R$ 828,3 milhões. No ano passado, encerrou em R$ 93,7 milhões, queda 88,7%. Entre 2009 e 2018, a companhia registrou lucro apenas quatro vezes, e prejuízo outras seis vezes, com o último resultado positivo tendo ocorrido exatamente em 2014.

 

Nos primeiros cinco meses deste ano, a Bardella acumulou um prejuízo de R$ 22,2 milhões, com receita líquida de R$ 16,1 milhões. A empresa não enviou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) os resultados relativos ao primeiro trimestre.

 

O presidente da Bardella explicou que, antes de 2014, a situação era controlável, com alguns dos baixos resultados sendo consequência de situação excepcionais. Ele citou o caso com a MMX, para quem a companhia vendeu equipamentos de mineração, mas que acabaram não sendo pagos depois que essa empresa de Eike Batista entrou em recuperação judicial.

 

"Tivemos clientes dos quais a gente não recebeu, mas foram questões pontuais", disse Mendes. "A situação veio mais forte com a Petrobras. A partir de 2014, todos os setores de infraestrutura paralisaram projetos."

 

Para manter suas atividades, a administração da Bardella foi obrigada a tomar empréstimos de bancos e realocar recursos de outros projetos, além de reduzir o quadro de funcionários, tendo consequências nos resultados. O passivo de curto prazo somou R$ 299,6 milhões nos primeiros cinco meses do ano, com a maior parte deste montante (31%) sendo dívidas com fornecedores, seguida por obrigações sociais e trabalhistas (29,5%). Os empréstimos e financiamentos representam 13% do passivo circulante. Do lado dos ativos, a Bardella registra um total de R$ 278,4 milhões em ativos de curto prazo. O caixa e equivalentes somou apenas R$ 12,2 mil.

 

"Dentro da gestão você vai tentando remediar, pega dinheiro de outro projeto, empréstimos, e vai fazendo composição. Você vai remediando aos poucos, vai sobrevivendo, mas quando ninguém paga ninguém, você tem um problema", disse Mendes.

 

A expectativa do executivo é que o plano de reestruturação seja apresentado em 60 dias, no momento em que for aprovado. Ele não quis revelar as medidas que estão sendo estudadas, mas afirmou que "todas as opções estão na mesa", inclusive venda de ativos.

 

A deterioração da situação financeira se refletiu também no interesse do mercado pelas ações da Bardella nos últimos anos, com o volume financeiro e o preço do papel em forte queda. Nos últimos dez anos, as ações preferenciais, mais líquidas, acumulam desvalorização de 79,5%. O volume financeiro no período tem média diária de R$ 102,3 mil, mas o montante caiu significativamente a partir de 2016.

 

Enquanto em 2009, os papéis da empresa movimentavam por dia R$ 356,1 mil, no ano passado, o volume financeiro médio diário foi de R$ 16,9 mil. Ontem, as ações PN da Bardella fecharam em queda 15,92%, a R$ 10,92. Os 16 negócios do papel movimentaram R$ 29 mil, ante R$ 15 mil na sexta-feira.

 

Fonte: Valor Econômico




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