26/06/2017
Se os efeitos da crise política na atividade econômica são difíceis de serem mensurados, sobre os investimentos o impacto é indiscutível.
Embora ainda falte uma semana para o fim de junho, já é possível dizer que o caos criado pela delação da JBS colocou um ponto final em cinco trimestres consecutivos de ganhos tanto na renda fixa quanto na renda variável.
É o pior desempenho trimestral para os ativos em quase dois anos. O Ibovespa, principal indicador da Bolsa de Valores, perdeu 5,7% no segundo trimestre, até o dia 23.
Os preços das ações, segundo especialistas, costumam antecipar a recuperação econômica e também os períodos mais difíceis.
Por isso, as incertezas em maio chegaram primeiro, e com mais força, à Bolsa de Valores.
Após subir 0,65% em abril, o Ibovespa perdeu 4,12% em maio e cerca de 2% em junho, até o dia 23.
Embora os efeitos mais danosos sejam mais claros na Bolsa, o segundo trimestre também foi o pior para a renda fixa em quase dois anos.
O IMA-Geral, uma carteira que replica os títulos públicos que estão no mercado, rendeu 1% de abril até 23 de junho, segundo a Anbima. O rendimento equivale a apenas 45% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), usado como referência para esse tipo de investimento.
Com exceção do último trimestre de 2016, quando ficou praticamente empatada com o CDI, essa carteira de títulos públicos não perdia para o índice de referência desde o terceiro trimestre de 2015.
Outra carteira que reúne os títulos indexados à inflação, chamada de IMA-B, teve um desempenho ainda pior, ao cair 1,36% em igual período.
Segundo o consultor de investimentos independente Marcelo d'Agosto, mesmo sem sinais mais robustos de recuperação da atividade, a possibilidade de reformas e a queda da inflação e dos juros vinham favorecendo os ativos brasileiros.
"A JBS mudou isso", diz.
Com sobra de recursos, o investidor externo também operava na lógica de que era possível correr mais riscos e isso favorecia os mercados emergentes. Agora, diz o consultor, o Brasil pode ser excluído dessa onda diante do risco bem mais elevado do que seus pares.
É improvável, dizem especialistas, que o mercado acionário consiga recuperar parte do fôlego perdido do trimestre nesta semana final do período porque não há uma melhora no horizonte político-econômico de curto prazo.
Além do cenário continuamente turbulento, a Bolsa ainda incorporou uma variável externa, que foi a queda do preço das commodities no período, diz Carlos Eduardo Rocha, sócio e responsável pela gestora de recursos do Brasil Plural.
"O mercado vai ficar em compasso de espera e em meio a uma volatilidade grande", afirma Rocha.
A perspectiva, diz, é que as oscilações persistam pelo menos até que a reforma da Previdência seja aprovada, mesmo que mais fraca.
Se não houver aprovação nenhuma, diz ele, é de esperar que os mercados piorem. A Bolsa iria abaixo de 60 mil pontos, e o dólar subiria para outro patamar. "Mas sou otimista e acho que com boas empresas você pode ter retornos acima de 10%", diz.
DEIXAR A POEIRA BAIXAR
Ao investidor que dispõe de tempo a recomendação é "esperar e deixar a poeira baixar", diz o planejador financeiro Renato Roizinblit.
"Mas, se ele precisa do dinheiro nos próximos meses para algum compromisso assumido, o cenário pode ficar pior do que está hoje", diz.
Nesse caso, afirma, o melhor é recorrer a ativos pós-fixados, que são os mais conservadores e oscilam conforme a tendência do mercado.
"É melhor realizar a perda [desfazer-se do ativo] no cenário ruim e evitar um momento que pode provocar uma perda ainda pior daqui a dois meses", afirma.
Para d'Agosto, independentemente do cenário, o investidor deve manter a estratégia compatível com o seu objetivo. "Não é bom ficar seguindo a rentabilidade."
Se o horizonte é o curto prazo, afirma, é preciso ficar em uma aplicação mais conservadora mesmo que esteja rendendo menos.
Fonte: Folha de SP
UGT - União Geral dos Trabalhadores