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UGT Press 578: Discussões intermináveis


12/09/2017

ELEITOR SÉRIO E POLÍTICO DESONESTO: J. R. Guzzo, articulista da Revista Veja (2543, de 16-08-17), saiu com essa: “De quem é a culpa pela entrega dos cargos públicos ao que a sociedade tem de pior? A culpa é dos eleitores brasileiros, é claro – ou seria dos eleitores mexicanos? Não há, muito simplesmente, como fugir dessa realidade”. Há controvérsias. Há quem diga – e não é qualquer um – que a sociedade é inculta, despreparada e conformada porque nossa elite a deixou propositalmente iletrada. São os dois extremos de um debate bastante complicado. Entre uma ponta e outra, certamente, há outras explicações. Se fosse tão simples a resposta, bastaria recorrer à frase de Pelé (Edson Arantes do Nascimento) que já nos anos 1970, declarou: “o brasileiro não sabe votar”, frase aliás lembrada por Guzzo.

 

RESPOSTA CÔMODA: o raciocínio que debita aos brasileiros os males da política é falho porque, além de ignorar os percalços da formação da consciência nacional e as imperfeições para a obtenção de uma opinião média consistente, despreza especialmente o DNA (origem, formação e composição) de outras instituições nacionais, especialmente daquelas que não dependem do voto popular para funcionar. Entre estas, a mais importante e fundamental é o sistema judiciário, moroso e avesso à distribuição de justiça e que se esconde no eufemismo da independência dos poderes e na supremacia do voto. Foi assim no Caso Aécio, cujos ilícitos estiveram provados à exaustão. No Caso Renan, há processos com teia de aranha no STF (Supremo Tribunal Federal). Como nos culpar por essas mazelas?

 

ELITE SÓCIA DO ESTADO: entre os argumentos que isentam a patuleia, estão aqueles que discutem a ocupação dos cargos públicos, desde o cafezinho servido às suas excelências aos mais graduados servidores dos três poderes. Quando a funcionária de Marcela Temer consegue, de forma privilegiada, o apartamento funcional e nenhuma “autoridade” contesta ou processa, nem mesmo verifica, estamos diante de inúmeros outros casos semelhantes. Se é norma ou costume o Q.I. (quem indicou), serão igualmente normas a permissão do abuso, a existência do privilégio e, por fim, a tolerância da impunidade. E seguimos. Os exemplos abundam em poderes, autarquias, fundações, estatais e repartições de todos os níveis de governo (União, Estados e Municípios). Em geral, o argumento contra isso é: “mas todos prestaram concursos”. Primeiro, nem todos. Segundo, vagas em concursos são conquistadas pelos mais preparados. Terceiro, os mais preparados são aqueles que frequentaram as melhores escolas. Quarto, os que frequentaram as melhores escolas foram os filhos das elites. Quinto, voltamos ao título deste tópico: “Elites sócias do Estado”.

 

DISCUSSÕES INTERMINÁVEIS: essas discussões, sabemos, são intermináveis e em nome delas forjaram-se ideologias, mudaram sistemas e formas de governo, escreveram-se numerosos e bons livros. Até guerras aconteceram. Infelizmente, o Brasil não se livrou desses assuntos. Foi no fim do século 19 que derrubamos (os militares derrubaram) uma forma de governo (a monarquia) e optamos por outra (a república) e, de lá para cá, nossas práticas governamentais variaram (presidencialismo, totalitarismo e parlamentarismo). Agora, em pleno século 21, o presidente Temer anuncia a intenção de implantar “ainda no meu governo” o parlamentarismo. Com que autoridade, se nem mesmo o “seu” governo, tem total legitimidade? Na verdade, estamos num estágio pré-civilizacional e buscamos ainda o nosso caminho definitivo. Vamos sofrer muito e os atuais ocupantes do Legislativo, eleitos por nós, farão o que quiserem, pois não há mais freios. Nossas demais instituições estão aí para apoiá-los. E nós por aqui com a nossa conformidade. Seguimos.  




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