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UGT Press 577: Poder político sequestrado


05/09/2017

ANTÔNIO DELFIM NETTO: a opinião é insuspeita porque vem de alguém que pode ser considerado um camaleão: o ex-ministro Delfim Netto. Delfim foi um professor de economia bem-sucedido, trabalhou para diversos governos, militares e civis e foi deputado federal eleito pelo poder econômico. Aconselhou vários ex-presidentes e tem sido uma presença constante em Brasília, sempre atuando nos bastidores. Com quase 90 anos, tem uma longa folha de serviços prestados ao país, mas também recaem sobre ele algumas graves acusações. A principal delas é a de ter manipulado, quando ministro, os índices de inflação, o que provocou um dos maiores achatamentos salariais da história do país. Ele disse, em entrevista à Folha de São Paulo (03-07-2017): "O setor privado anulou a única força que controla o capitalismo, que é o Congresso. Não é simplesmente que o Estado e setor privado tenham feito um incesto, produzindo um monstrengo". A última parte da frase é controversa e alguns acreditam que o incesto ainda continua produzindo filhos espúrios.

 

REFORMAS: uma das provas de que o poder político foi sequestrado pelo poder econômico pode ser vista, mais nitidamente, no governo de Michel Temer, quando foi atacada com vigor a Reforma Trabalhista, de interesse dos patrões. Também a Reforma da Previdência e outras têm sido tentadas, mas o que se viu foi somente a aprovação da modificação nas leis trabalhistas. A reforma principal no Estado Brasileiro seria a administrativa: o Brasil está com um brutal rombo na previdência pública, com servidores (principalmente no Legislativo e Judiciário) ganhando altos salários e aposentando-se com os mesmos ganhos da ativa. Há estudos comprovando que uma Reforma Administrativa que colocasse em ordem as relações de trabalho no setor público, poderia levar o país à racionalização dos gastos, com sobras suficientes para promover o desenvolvimento da saúde e educação em nível de primeiro mundo. Isso está escancarado, mas ninguém toma providência e nenhum dos poderes está preocupado com isso, tanto que os aumentos salariais continuam drenando os recursos públicos em direção à elite privilegiada. Agora, trataremos de aumentar os salários dos procuradores. "E temos um negócio tão generoso que a produtividade do trabalho vivo tem que ser igual à do trabalho morto", diz Delfim (veja próxima nota).

 

SERVIDORES QUE GANHAM MAIS SERÃO MAIS PREJUDICADOS: o que o professor Delfim quer dizer com "trabalho vivo" e "trabalho morto" refere-se à integralidade e paridade dos reajustes salariais no serviço público. "É lá que está o problema", diz ele, acrescentando: "O sujeito que ganha dois salários mínimos pensa que vai ter prejuízo. E não vai. Quem vai ter prejuízo é quem ganha 40." Isso já está sendo demonstrado em Estados e prefeituras falidos. Não há como pagar mais os servidores públicos. Acontecerá também em outros entes públicos, inclusive no governo federal. O problema está crescendo a tal velocidade, que resta muito pouco tempo para consertar isso. Esse tipo de fenômeno aconteceu na Grécia, Espanha, Itália, Argentina e outros países. Nesses lugares não foi possível continuar pagando os proventos integrais dos servidores e eles ficaram pobres de uma hora para a outra. Como não enxergam isso, vão todos para a rua defender a integralidade e a paridade. A solução, infelizmente para essa casta, será igualar as aposentadorias no setor público e privado, do pessoal civil e militar. Se não fizermos agora, quando ainda há espaço orçamentário, isso será feito à frente em desastre com proporções de tragédia grega, literalmente.

 

CONGRESSO NACIONAL: Delfim diz que o capitalismo controla o Congresso Nacional, mas precisaria ter acrescentado que esse Congresso é a extensão dessa elite privilegiada que assalta e controla os gastos públicos, desde a presença do primeiro Governador Geral. Se retro-alimenta com polpudos percentuais de aumento. Concede-se ajudas de custo milionárias e controla centenas de milhares de cargos de confiança bem remunerados. Está encastelada no poder e dele faz parte: quem a nomeia são seus parentes e afins. No último mês de julho, quando se discutia o aumento dos salários dos procuradores, com a inédita boa relação entre o que sai e a que entra, a organização não governamental "Contas Abertas" provou por A mais B que é possível tomar outras medidas e sanear o Estado.  

 

CONTAS ABERTAS: a organização não governamental "Contas Abertas" (http:www.facebook.com/Contas Abertas ou e-mail ca@contasabertas.org.br) tem prestado relevantes serviços ao Brasil, especialmente esclarecendo a natureza dos gastos públicos e sua má qualidade. Foi ela quem disse que, no Brasil, neste ano, o Congresso Nacional custou aos cofres públicos nada menos do que R$ 1,15 milhão por hora. O mais caro do mundo. Este ano, com as dificuldades de o governo Temer para se manter no poder, ele tem sido refém de deputados e senadores da base aliada, liberando emendas e recursos da ordem de bilhões de reais. Tudo isso complica ainda mais o quadro econômico nacional. Como Michel Temer não tem força para controlar o apetite de deputados e senadores, também não tem como barrar os aumentos salariais do Legislativo, Judiciário e Militares. E assim vamos. Não sabemos até quando, só sabemos que o país está à beira de um precipício e que o desastre que se avizinha será devastador. Pior para o Brasil que, só neste ano, perde décadas de perspectivas saudáveis.  




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