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UGT Press 571: Conglomerados midiáticos


08/08/2017

MÍDIA, PODER E CONTRAPODER: o interessante livro "Mídia, poder e contrapoder" (Editora Boitempo) é uma coleção de sete artigos: "da concentração monopólica à democratização da informação". Faz, segundo a propaganda da Estante Virtual, "uma reflexão crítica sobre o poder mundial da mídia, a cultura tecnológica, a comunicação globalizada, o jornalismo contra-hegemônico em rede, as políticas públicas de direito à comunicação e à democratização da informação na América Latina". Os autores são Dênis de Moraes, doutor em comunicação (UFRJ), Ignácio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatic (Paris) e Pascual Serrano, diretor de redação do Portal Rebelión (Madri). Todos jornalistas, escreveram a seis mãos o livro, publicado em 2015. Dênis de Moraes, brasileiro, é professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador do CNPq. As opiniões aqui emitidas, grosso modo, refletem as opiniões do professor Dênis e também da editoria de UGTpress. As opiniões do professor Dênis estão entre aspas e constam de entrevista ao jornal "Tiempo Argentino", republicadas no Blog da Boitempo, acessível a todos pela internet.

 

ATORES ECONÔMICOS: A grande imprensa nacional e internacional, as agências de notícias, enfim os grandes meios, transformaram-se em "atores econômicos de primeira linha na era digital". Segundo professor Dênis, eles estão acumulando experiências e diferenciais que não estão acessíveis às organizações pequenas ou de menor porte. As grandes organizações de mídia têm à sua disposição financiamentos garantidos por bancos e fundos de investimentos, tecnologias de ponta, investigação e desenvolvimento de produtos, capacidade industrial, acesso às inovações técnicas, esquemas sofisticados de distribuição e campanhas publicitárias mundializadas. Tudo isso beneficia a concentração e a oligopolização.

 

PODER MODERADOR: é evidente a perda de credibilidade da imprensa, especialmente nos estratos mais esclarecidos ou politizados. Isso, claro, não significa necessariamente a perda de poder ou influência, ainda bem acima de outras instituições. Para quem imagina que "a imprensa poderia ser uma espécie de quarto poder moderador, um contrapeso aos poderes legítimos da democracia, capaz de fiscalizar e denunciar abusos", a realidade mostra que os poderes midiáticos "foram confiscados pelo poder econômico e financeiro e, na atualidade o quarto poder não é mais um contrapoder, e sim um poder complementar para manter a sociedade no estado atual de coisas. O chamado quarto poder perdeu credibilidade pela cumplicidade de grandes grupos de mídia com o poder econômico e político, acentuando ambições lucrativas e domínios monopólicos".

 

NOSSA REALIDADE: não é incomum existirem duras críticas aos nossos grupos de mídia, especialmente indicando parcialidade e falta de independência editorial. Já há décadas a capacidade de publicidade do Estado vem crescendo e cada vez mais há verbas orçamentárias de grande porte destinadas à propaganda dos governos (municípios, estados e União). Em nosso caso, acresce-se o poder de propaganda das empresas estatais. Se você sintonizar qualquer canal (televisão ou rádio), vai deparar com repetidos anúncios governamentais ou propaganda de nossas maiores estatais. Anúncios da Petrobrás, Caixa Econômica Federal (CEF), BNDES, governos federal, estaduais e prefeituras de capitais são onipresentes. É por isso que os titulares desses governos, todos os dias, têm espaços generosos nos grandes jornais, às vezes ganhando até editoriais favoráveis. Em geral, em alguns casos, são políticos corruptos e não cumpridores de suas obrigações primárias. A CEF não contente com as suas volumosas e caras propagandas, é ainda capaz de patrocinar equipes de futebol das séries A e B do campeonato brasileiro.  O povão fica satisfeito com isso e também sai à rua paramentado de torcedor de seu time e de seu patrocinador.

 

DESEMPREGO SETORIAL: há também desemprego no setor de mídia, especialmente naqueles com muitos tentáculos de negócios e há também o desemprego tecnológico. Não estão imunes às crises. Até aí, bastante normal e previsível. Contudo, há algo que vem sendo denunciado pelos sindicatos de jornalistas: a contratação cada vez mais numerosa de estagiários, o uso da terceirização intensa no setor e a queda dos salários dos profissionais de mídia. São poucos os grandes jornalistas bem remunerados, incluindo as celebridades da televisão.

 

IDEOLOGIA: "constata-se que tais grupos exercem um duplo papel na sociedade contemporânea: por um lado, são agentes retóricos, ideológicos e políticos que defendem o neoliberalismo, as hegemonias constituídas e o grande capital; por outro lado, são agentes econômicos de peso. No ranking das 200 maiores empresas não financeiras do mundo, estão nada menos do que 20 empresas de mídia e entretenimento. Ou seja, 10 por cento do total".

 

INTERPRETA A SI MESMA: "a mídia se crê intérprete da vontade geral, não se sabe apoiada em que fundamento crível. Os meios não têm mandato ou delegação popular para apresentar-se como intérprete das aspirações de seus leitores, ouvintes ou telespectadores. Claro que é uma mistificação; a mídia é intérprete de suas próprias vontades e interesses, sobretudo os de natureza econômica e política. Na essência quer permanecer até a eternidade interferindo na definição dos valores e visões preponderantes na sociedade. As consequências mais perversas são o esvaziamento das reivindicações comunitárias nos noticiários, a criminalização de mobilizações sociais e a exclusão dos diferentes pontos de vista da cidadania". Essas contradições e manuseio artificial da opinião pública existem entre nós. Apesar das tentativas isoladas de comportamentos éticos, considerados exceção, ainda estamos longe de uma fórmula adequada e justa para lidar com os meios de comunicação. Mas, há estudos sérios como os do professor Dênis de Moraes. UGTpress recomenda a leitura do "Mídia, poder e contrapoder" (Editora Boitempo).




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