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UGT Press 560: A Turquia preocupa


23/05/2017

IMPÉRIO OTOMANO: o Império Otomano começou a se formar ainda no século XIII, a partir do noroeste da Anatólia. No século XIV cruzaram a Europa e conquistaram os Balcãs. Em 1453, tomaram Constantinopla e acabaram com o Império Bizantino. Seu maior poderio ocorreu durante os séculos XVI e XVII, especialmente quando sob o comando de Solimão, o Magnífico, chegando a dominar o sudeste da Europa, a Ásia Ocidental, o Cáucaso e grande parte da África. Teve influência por aproximadamente seis séculos, nos quais controlava as relações comerciais entre o Oriente e o Ocidente. No século XVIII começou a decadência militar, com sucessivas derrotas. Sempre acalentou o sonho de voltar a ser grande e promoveu reformas neste sentido. Aliado dos alemães na Primeira Grande Guerra, houve sérias denúncias de atrocidades contra outros povos, especialmente armênios e gregos. A derrota na guerra provocou a ocupação e perda de territórios. Ao se libertarem do jugo estrangeiro (Guerra da Independência Turca), surgiu a nova República da Turquia, com grandes e profundas reformas internas, promovidas por Mustafá Kemal Atatürtk, um homem de grandes ambições.

 

MUSTAFÁ KEMAL ATATÜRK: Atatürk nasceu em 1881 e faleceu em 1938. Foi beneficiário da modernização e reformulação do exército otomano, promovidas pelo alemão Goltz Pasha, exatamente durante a primeira década após seu nascimento. Lutou grandes batalhas e conquistou um nome militarmente respeitável. É considerado o herói da independência turca e o pai (Atatürk) da República da Turquia. Eliminou o sultanato (califado), reformulou radicalmente o alfabeto e adotou trajes ocidentais para homens e mulheres, desestimulando o uso de véus. Impôs o calendário ocidental e, mais importante, estabeleceu o secularismo, separando as autoridades religiosas do Estado. Também fechou as cortes religiosas e a Sharia (direito islâmico) foi substituída por um código civil. Atatürk acreditava que a interferência religiosa no mundo da ciência fora responsável pelo atraso do Império Otomano. Segundo o professor Nial Ferguson (Civilização, Editora Crítica), em 1932, ele tirou a Casa de Múltiplas Ciências das mãos dos imanes e passou o ensino das matérias para a Universidade de Istambul, que, mais tarde, abriu as portas a acadêmicos fugidos do regime nacional-socialista alemão. Neste século, inspirou todos os políticos turcos a seguir sua linha, mas isso, parece, corre perigo neste momento.    

 

RUMO AO AUTORITARISMO: os 80 anos entre a posse do presidente Mustafa Kemal Atatürk, em 1923, e a posse do primeiro ministro Recep Tayyip Erdogan, em 2003, não foram suficientes para consolidar na Turquia um Estado de Direito Democrático. Enfeixando cada vez mais poderes e valendo-se de uma retórica nacionalista e populista, Erdogan sufocou os militares e acena com gestos de boa vontade para a maioria muçulmana, saudosa dos tempos em que as autoridades religiosas tinham mais poder. Sua mais recente cartada foi a vitória no plebiscito que, embora apertada, acaba com o parlamentarismo e cria um presidencialismo de amplos poderes e pouca fiscalização (em 2019). A situação na Turquia é de tensão e polarização, com inegáveis retrocessos democráticos (há professores e jornalistas presos sem julgamento). As modificações podem favorecer a permanência de Erdogan no poder por muitos anos mais: ele poderá ter dois novos mandatos de cinco anos. Contudo, não será tão fácil, pois a Turquia vem sofrendo com crises econômicas, tem problemas políticos insuperáveis com os curdos e o Estado Islâmico e a memória de Atatürk permanece viva. Um retorno à era otomana, conforme apregoam analistas, segue sendo difícil, porém não impossível. O caminho para a União Europeia parece fechado neste momento, mas Erdogan vem se utilizando do acordo migratório como uma arma para manter um diálogo mesmo que precário. 

 

DEMOCÍDIO: segundo a Wikipédia, “democídio” é um neologismo controverso e não dicionarizado. Começou a ser utilizado em língua inglesa por Theodore Abel, referindo-se às causas de mortes não naturais. Foi uma tentativa de cobrir as situações não abrangidas pelo genocídio. Foi redefinido pelo cientista político R. J. Rummel como “o assassinato de qualquer povo ou indivíduo por seu governo, incluindo genocídio, politicídio e assassinato em massa”. O termo aparece vez ou outra e voltou exatamente na Turquia, quando da realização do plebiscito. “Alguns observadores chamaram a votação de “democídio”, o assassinato da democracia por meio de eleição”, explicou o professor Karabekir Akkoyunlu, responsável pelos estudos da Turquia Moderna da Universidade de Graz, na Áustria (Estadão, 23/04). O senso comum é que se trata do assassinato de pessoas por parte do governo, daí a frase: “O Estado é o maior assassino da história”. Inclui as mortes decorrentes do “desprezo intencional ou conscientemente imprudente pela vida”. Citam como “democídio” o “Grande Expurgo”, de Stalin, o “Grande Salto Adiante”, de Mao, o Holocausto, na Alemanha Nazista de Hitler e a política colonial belga no Congo. 

 

PERGUNTA IMPERTINENTE: se “democídio” é o “desprezo intencional ou conscientemente imprudente pela vida”, podemos perguntar: as mortes nos corredores dos hospitais públicos brasileiros, decorrentes da falta de recursos drenados pela corrupção endêmica, são “democídios” praticados pelo Estado brasileiro?




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