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Salário terá o menor reajuste deste 2005


16/09/2013

A crise chegou ao bolso do brasileiro. Depois de dois anos seguidos de baixo crescimento e de inflação elevada, os trabalhadores começam a pagar a fatura da desordem econômica. A oferta de empregos esfriou e o peso da frustração com o Produto Interno Bruto (PIB) recai, agora, sobre a renda das famílias, até então o sustentáculo do país. Cálculos do Bradesco mostram que o reajuste real médio dos salários em 2013 será de 2,5% — o menor ganho em nove anos. A instituição projeta ainda uma desaceleração do consumo para 2,7%. No ano passado, essa taxa havia sido de 3,1%.

 

Além de uma inflação persistente, o endividamento elevado das famílias e bancos mais seletivos na oferta de crédito são vistos como um quadro adverso que pode agravar as condições no país, que já enfrenta sérias dificuldades para encontrar uma taxa de expansão satisfatória. Não à toa, segundo os analistas, os ganhos dos trabalhadores e os empregos estão sendo afetados. As empresas adiaram demissões o quanto foi possível, mas, com as margens de lucro estranguladas pela carestia e por uma economia aquém do ideal, o mercado de trabalho e a renda começam a esfriar. O sonho do pleno emprego, de acordo com os economistas, está ameaçado.

 

Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) reforçam a tese do Bradesco para a renda. Diminuiu o número de categorias que obtiveram ganhos salariais acima da inflação. Em 2012, 96,3% delas conquistaram reajustes capazes de vencer a carestia. Este ano, o número caiu para 84,5%. O tamanho do ganho real também encolheu, passou de 2,3%, no ano passado, para 1,2%. Especialistas alertam que o processo de correção dos salários, em muitos casos acima da produtividade, deve se tornar cada vez mais raro.

 

Produtividade

“Os que têm salário próximo do mínimo receberam ganhos maiores que sua produtividade, não nos parece mais possível aumentos tão exagerados”, ponderou Nilson Teixeira, economista-chefe do Banco Crédit Suisse. Alexandre Schwartsman, economista e ex-diretor do Banco Central, ponderou que as empresas, em função do elevado custo de demissão e contratação, adiaram planos de cortar postos. “Houve um entesouramento de mão de obra. Os empresários optaram por esperar o máximo possível na expectativa de que o crescimento do país melhorasse. Como essa recuperação é lenta, eles pararam de absorver perdas e o mercado de trabalho esfriou”, argumentou.

 

Octavio de Barros, diretor de Pesquisas Macroeconômicas do Bradesco, faz avaliação semelhante. “Desde 2004, a demanda por mão de obra vinha crescendo acima da oferta. Agora, isso se inverteu, a disponibilidade de emprego desacelera a uma velocidade maior”, observou. Com a menor oferta de postos de trabalho, a possibilidade de ganhos acima da inflação se reduziu. Na construção civil, até 2010, era comum um trabalhador migrar de uma empresa para outra, cooptado por rendimentos maiores. Diante da desaceleração da economia, o número de obras caiu e a necessidade de operários, também, o que possibilitou às empresas manterem um empregado por mais tempo e com o mesmo salário.

 

A situação não se restringiu apenas à construção civil. A indústria amarga as piores condições. O setor parou de gerar postos de trabalho e o total de ocupados em fábricas está nos piores níveis desde 2009. O gasto com a folha de pagamentos, em alguns setores, também está menor, a exemplo dos ramos de transporte, papel e gráfica, produtos de metal, madeira e calçados e couro.

 

Círculo vicioso

“O crescimento mais fraco da economia influencia negativamente o mercado de trabalho. Não há como ser diferente”, disse José Pastore, professor da Universidade de São Paulo (USP). “Quando se tem queda nas vendas, os segmentos de comércio e serviços sofrem e a indústria, por consequência, produz menos. Tudo isso reflete, em algum momento, em desaceleração do aumento da renda”, explicou. Para Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos, o Brasil entrou em um círculo vicioso. Na visão dele, os sinais são claros de que o mercado de trabalho está perdendo força. “Hoje, o país cresce abaixo do PIB potencial e, para reaquecer o emprego, é preciso de uma atividade mais dinâmica”, argumentou.

 

Com a renda dos trabalhadores crescendo a um ritmo menor, o varejo começa a se preparar para tempos de vendas em baixa. As projeções do Bradesco são de forte desaceleração no comércio. Enquanto, em 2012, o setor avançou 8,4%, a previsão para este ano é de 3,2%. Para 2014, o cenário piora mais, e o número cai para 3%. A instituição também estima crescimento menor para o crédito em 2013 — expansão de 14%. No ano anterior, havia sido de 16,4%.

 

Para integrantes do governo, essa diminuição da oferta de empréstimos e financiamentos é influenciada, principalmente, pelos bancos privados, que perderam espaço para as instituições públicas. Depois da cruzada do Palácio do Planalto contra os juros altos, os particulares se viram obrigados a pisar no freio por não terem condições de concorrer no mesmo nível. O endividamento das famílias, também em patamar elevado, deixou mais lento a tomada de crédito. “Tudo está ligado. Esse quadro afeta a economia e o crescimento”, observou Pastore.

 

Aposta nas concessões

A fim de minimizar a situação, tentar recuperar o dinamismo da economia, incrementar a renda do brasileiro e garantir a manutenção de postos de emprego, o governo colocou todas as fichas no programa de concessões de infraestruruta. O objetivo é ampliar os desembolsos para obras. Depois de uma queda de 4% no total de recursos alocados pelos setores público e privado no ano passado, a expectativa dos economistas do Bradesco é de uma recuperação em 2013 — um avanço de 5,5%—, o que deve deixar a taxa de investimento em 19,2% do PIB. Se o programa de privatizações obtiver sucesso, esse indicador, até 2018, deve chegar a 22,2%. Caso ele falhe, a expectativa é de que ele fique em 20,7%.

 

Fonte: Correio Brasiliense

 


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