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Selic e incertezas no cenário minam queda de juro bancário


19/06/2018

Com o fim do ciclo de queda da Selic, o aumento das incertezas políticas e a pressão externa, a chance de haver uma efetiva queda dos juros cobrados ao consumidor, que vinha se desenhando, ainda que timidamente, ficou para trás. Segundo especialistas, as instituições não têm um cenário favorável ao afrouxamento nos juros. O alívio no bolso ficará por conta do Banco Central (BC), que vem se movimentando para baixar linhas, como do cartão de crédito e do cheque especial. 

 

Pesquisa feita pelo Projeções Broadcast com 49 analistas do mercado financeiro mostra que todas as estimativas apontam para manutenção da Selic em 6,50% ao ano na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira. A Selic não é o único componente que os bancos analisam para baixar as taxas. Mas, quando ela está em queda, é um indicativo da autoridade monetária de que o ambiente está favorável a possíveis reduções.

 

O rotativo do cartão de crédito, que é a taxa que mais pesa no bolso do consumidor, caiu graças, principalmente, à intervenção do BC, mas já aponta para uma certa estabilidade, assim como o crédito pessoal. A taxa do cheque especial, que caiu muito pouco, é a única que ainda pode ter reduções.

 

A partir de julho, os clientes que utilizarem 15% do limite da conta por 30 dias devem ser direcionados para uma opção mais barata, segundo regras do próprio mercado. “Agora não dá para falar em queda de juros. O cenário mudou, o mundo mudou e as fragilidades do País estão cada vez mais evidentes: o risco Brasil e os juros do mercado futuro subiram e mostram que as taxas que vemos devem continuar assim”, diz Margarida Gutierrez, professora da UFRJ.

 

Além da possível manutenção da Selic, outro fator que dificulta as instituições a mexer em seus créditos é a disparada das taxas futuras de juros, que, grosso modo, refletem o valor do dinheiro lá na frente. Essas taxas são uma das referências analisadas para se chegar ao spread – diferença entre o custo do dinheiro para o banco (o quanto ele paga ao captar o recurso) e o quanto ele cobra do consumidor ao emprestar. 

 

O spread, segundo o próprio BC, é composto majoritariamente pela inadimplência, seguida por despesas administrativas e tributos. Com a recuperação econômica ainda tímida e a queda do desemprego amparado pelo aumento de vagas informais, Gutierrez explica que a inadimplência deve continuar pesando no crédito. Uma medida que, segundo ela, poderia contribuir para reduzir o custo do crédito seria a aprovação do cadastro positivo, que aguarda análise da Câmara dos Deputados. O cadastro deixaria disponível para os bancos o histórico de bons pagadores. 

 

Outro fator que não deixa as instituições confortáveis para mexer em suas taxas é a incerteza política, aponta a economista chefe da Reag Investimentos, Simone Pasianotto. “Estamos a quatro meses das eleições e não temos candidatos. Toda essa incerteza dificulta qualquer perspectiva de curto e médio prazo. Não tem gás pra mexer na questão do spread, ele é elevado e agora não tem como mexer”, explica.

 

O cenário agora é de espera para Nicola Tingas, da Acrefi. Segundo ele, tudo até abril apontava para uma melhora na economia e na oferta e demanda de crédito, mas agora os agentes do mercado estão observando a extensão da normalização das taxas de juros nos Estados Unidos e Europa e a percepção de risco no Brasil - que aumentou principalmente no último mês com a greve dos caminhoneiros. “Todo mundo quer entender os efeitos dessa crise externa e interna. Não dá para dizer nem que os juros vão cair nem que vão subir, não dá para afirmar nada ”, diz. 

 

Fonte: Estadão


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