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Drogas urbanas viciam trabalhadores rurais


26/01/2009

Os trabalhadores saem de várias cidades do noroeste paulista e embarcam muito cedo rumo às fazendas. A viagem leva até duas horas. A paisagem é de plantações dos dois lados da estrada por muitos quilômetros. Lá, se concentra a maior parte da produção de laranja e cana do Brasil. Mas a roça perdeu um pouco da tranqüilidade caipira. Mesmo tão longe dos centros urbanos, um mal da cidade avança pelo campo: drogas, principalmente o crack e a maconha.

Um grupo de colhedores de laranja confessa fazer uso da droga durante o serviço. Um homem diz que a maioria dos trabalhadores usa droga porque hoje é comum". Um trabalhador chega a dizer que, ao usar drogas, ele trabalha melhor.

Dos 45 trabalhadores do pomar, pelo menos 10 usam algum tipo de droga. Como o trabalho rural exige muito esforço, principalmente nas culturas canavieiras, a droga é usada para amenizar o desgaste físico provocado pelo trabalho no campo. Mas o crack vicia rapidamente e pode levar o usuário á morte principalmente por arritmia, onde o coração bate de forma diferente e perde ritmo das suas batidas, infarto do miocárdio ou derrames.

O crack é um subproduto da pasta base de cocaína e tem uma ação muito mais potente que ela, que é um estimulante do sistema nervoso central. O uso do crack deixa a pessoa aparentemente mais confiante, mais forte, mais potente, alivia o cansaço, diminui o sono e o apetite.

Só no estado de São Paulo, 600 mil pessoas trabalham na área rural, entre elas, 250 mil no corte de cana e 100 mil na colheita da laranja. No município de Palmares Paulista, a população que é de 10 mil moradores passa para quase 14 mil nas épocas de safra. Os trabalhadores são contratados por empreiteiros e ganham de acordo com o que produzem. Alguns chegam a cortar mais de 10 toneladas de cana por dia, e recebem 2,5 mil em um mês.

Hoje, o trabalhador do corte da cana perde diariamente oito litros de líquido do seu organismo, corre mais de 12 quilômetros por dia e movimentam mais de 30 mil podões por dia. Este é o esforço físico de um super atleta, mas com uma contrapartida totalmente inferior: ele não tem alimentação correta, não tem descanso adequado pra desempenhar essa função e esse desgaste acaba induzindo o trabalhador ao uso da droga.

Um empreiteiro, que supervisiona o trabalho em um pomar, acredita que a droga só piora o desempenho do trabalhador. Ele diz que, em seis anos de trabalho, acha que o trabalhador fica mais sonolento.

- Flagrei algumas vezes, tentei orientar, dar advertência, mas é muito difícil acabar com tudo isso - conta.

Quem fiscaliza a atividade é o próprio Ministério do Trabalho, inclusive quando recebe denúncias de tráfico de drogas.

- Muitas vezes, quando estamos chegando os traficantes já fugiram e deram fim às drogas que estariam ali - conta o gerente regional do Ministério do Trabalho Antônio Valério Morillas Júnior.

Um caso recente chamou a atenção das autoridades. Um gerente de uma fazenda na região de Pirassununga foi preso por pagar os trabalhadores com maconha e cocaína. Luís Aparecido da Silva, em depoimento, confessou o crime e aguarda julgamento no presídio da cidade de Itirapina.

Metade dos internos de uma casa de recuperação do noroeste é formada por trabalhadores rurais. Gente que foi em busca da falsa sensação de mais disposição para o trabalho, perdeu o emprego e hoje, luta pra conseguir ficar longe da droga.

- Com o crack eu cheguei ao fundo do poço, eu trabalhava, pegava meu pagamento, fumava tudo, não tinha mais contato com a família e cheguei a ficar quatro dias dentro de um buraco usando drogas, não queria saber de nada - confessa um dos internos.

A casa abriga 45 pessoas, mas o coordenador do local, Padre Osvaldo Rosa, diz que é impossível atender todos os pedidos de internação.

- A procura é de 80 a 100 pedidos por mês, nós conseguimos acolher de 15 a 20 pessoas por mês, completa.

Quem consegue vaga, pode contar com o otimismo do padre. "É possível recuperá-los sim, ninguém nasceu usando droga".

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