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O empresário que quer precarizar o trabalho é um tolo. Sem renda, quem vai consumir? - Diz Patah em entrevista


12/09/2016

Presidente da União Geral dos Trabalhadores, a UGT de franco crescimento e forte presença no setor de serviços e no comércio, Ricardo Patah é um sindicalista cuja rotina inclui viajar permanentemente pelo Brasil. Ele percorre suas bases sindicais e, dessas andanças, extrai informações que o fazem ter uma leitura apurada da realidade nacional. “O presidente Temer que não se engane”, alerta ele nesta entrevista ao BR:. “Se ele e seu governo insistirem nessas ameaças de precarização do trabalho e do trabalhador, as manifestações, as vaias e o desapreço da população por sua gestão vão crescer muito além dos grandes centros. Temer irá se deparar com uma verdadeira muralha de descontentamento por onde quer que passe”. Patah está particularmente atento às ameaças que, disparadas do Palácio do Planalto, visam ampliar jornadas de trabalho e reduzir salários e renda dos trabalhadores. “O empresário que apoiar este tipo de iniciativa é um tolo”, acredita Patah. “Se o emprego se tornar precário e a renda ainda menor, quem vai consumir o que no Brasil?”, pergunta.

 

Confira:

 

BR: Essa proposta de trabalho remunerado por hora parece ter como alvo preciso o setor do comércio. Como o sr. avalia essa intenção do governo?

Ricardo Patah: Nenhuma forma de precarização do emprego é boa para a sociedade. Reduzir custos retirando direitos e aumentando a superexploração dos trabalhadores pode ter algum efeito imediato aumentando os lucros das empresas, mas no médio e longo prazos tem efeitos devastadores para toda a economia, em especial para o comércio, que depende diretamente do poder de compra das famílias. Comerciante que apóia precarizar emprego na sua empresa é um tolo, pois se o mesmo acontecer nas demais empresas, quem é que vai consumir na loja dele? Sessenta por cento da economia brasileira é movida pelo consumo das famílias. Mais inteligente que reduzir custos salariais é aumentar a produtividade e a renda dos trabalhadores, gerando mais consumo e ganhos de escala para aumentar lucros por aumento das vendas.

 

BR: Fala-se agora em jornada diária de 12 horas de trabalho, depois de o presidente da CNI ter jogado no ar o balão das jornada semanal de 80 horas. Com o debate posto neste nível, onde o patronato e o governo querem chegar?

Patah: Pelo jeito, querem chegar aos tempos pré-CLT ou, pior, pré-Lei Áurea. Não acredito que o governo leve esta proposta adiante. O próprio ministro já disse quê não disse. E o Planalto sentiu o tamanho da rejeição que este tipo de proposta gera na população. Se insistirem nisso, vão bater de frente com uma muralha, mas ainda acredito que o diálogo do governo com o movimento sindical pode ser o caminho para construir consensos e acordos que modernizem as relações de trabalho sem ameaçar direitos ou matar de fome os trabalhadores.

 

BR: Michel Temer, agora, é presidente efetivo, não mais interino. Como o sr. se posiciona diante deste fato consumado?

Patah: Ao movimento sindical compete representar e defender os trabalhadores frente a qualquer governo. Minha posição, como presidente da UGT, é pelo diálogo e a negociação, sem abrir mão da organização e mobilização das bases para adotar ações s mais contundentes, se for impossível chegar amigavelmente acordos aceitáveis com governo e empresários.

 

BR: A UGT tem participado das discussões formais, no Palácio do Planalto, coordenadas pelo ministro Eliseu Padilha, para a reforma da Previdência. Essas discussões têm sido efetivas? Elas são sinceras, por parte do governo, ou apenas uma forma de manter as centrais por perto?

Patah: A UGT, quando chamada, compareceu à mesa de negociações e expôs suas propostas e posições. Depois disso, o governo não nos chamou mais para prosseguir dialogando e agora aparece o mesmo ministro Padilha lançando um balão de ensaio por dia pela imprensa. Proposta concreta, por escrito, o governo não apresentou nenhuma até agora. Quando o fizer, vamos avaliar e decidir com clareza o que fazer a respeito.

 

BR: O noticiário está repleto de ameaças, atribuidas ao Palácio do Planalto, a direitos trabalhistas. Como o sr., pela UGT, as avalia? Quais são os maiores riscos?

Patah: A maior ameaça é o governo não pautar, mas ser pautado pela imprensa, que nestes temas deixa o jornalismo de lado e atua mais como assessoria de imprensa da elite empresarial brasileira.

 

BR: O sr. já usou a imagem de uma avalanche contra os direitos trabalhistas para definir a postura do governo Temer. Como se pode parar essa onda de ataques?

Patah: Você já viu como fazem para minorar os danos de avalanches no Alasca? Explodem o topo das montanhas sob risco de desmoronamento e fazem a neve rolar para um lado que não ofereça riscos. Devemos, na mesma estratégia, mostrar o governo que o ajuste tem de ser feito em outros setores, e não apenas e exclusivamente em cima do trabalhador. Na Previdência, por exemplo. Há dívidas bilionárias de empresas com o INSS, mas o governo vem e diz que o problema está em benefícios como o auxílio-doença ou o auxílio-funeral. Está claro que o caminho não é este que o Planalto aponta.

 

BR: As centrais sindicais já realizaram um ato unitário contra a perda de direitos trabalhistas e articulam outro para o dia 22. Como a UGT vê esse tipo de articulação?

Patah: Acredito que vale o lema: Unir para lutar. Unificar para vencer!

 

BR: Como dirigente do maior sindicato de trabalhadores do país, o dos comerciários de São Paulo, qual a sua posição sobre essa promessa do governo de estabelecer uma idade mínima de 65 anos para a aposentadoria de homens e mulheres? Esse é o melhor caminho para resolver o problema de caixa do sistema? Esse tipo de intenção pode ser revertida?

 

Patah: Problema da economia brasileira se resolve com reforma política, reforma fiscal, reforma tributária, reforma bancária, reforma educacional, reforma do Estado e, depois destas que são as vitais, se pode falar em outras reformas, inclusive a trabalhista e a previdenciária. Colocar a carroça na frente dos bois não faz ninguém chegar a lugar algum.

 

Fonte: BR 2 Pontos


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