Enilson Simões de Moura
Vice-presidente da União Geral dos Trabalhadores
30/05/2022
Quando o ministro Ricardo Salles sugeriu que se aproveitasse a pandemia para “passar a boiada” não poderia ter sido mais assertivo. O governo seguiu a recomendação à risca nas mais diversas áreas: educação, saúde, meio ambiente, terras indígenas, direitos humanos, cultura.
No caso específico dos direitos humanos esse ataque não é de hoje, reconheça-se. Figuras como Datena e seus clones bombardeiam diariamente com cenas de violência justamente aqueles que são as maiores vítimas da ausência desses direitos e se transformam em seus piores algozes. A maior violência é aquela estrategicamente pensada para que o Estado se faça ausente onde deveria estar mais presente.
No caso brasileiro, as populações mais vulneráveis como os negros, os pobres, os LGBTQIA+, os povos originários, não raras vezes se sentem como “apátridas” em seu próprio país. Entendamos o termo como se referindo a pessoas deslocadas que passaram a ser ignoradas como um problema político. Apesar de pertencerem a uma comunidade são considerados sem a devida dimensão política e sem um lugar no mundo onde possam ter suas opiniões levadas em conta e perdem seus direitos de cidadãos.
O que vimos no abominável caso Genivaldo é representativo desse momento que vivemos no qual qualquer direito dos mais indefesos é visto como privilégio em uma absurda inversão de valores.
Foi um assassinato! Um assassinato cruel e injustificado, mas perfeitamente dentro da tragédia que tem como autor maior o inominável Presidente da República.
As falas do presidente fazem efeito junto aos seus comparsas, incluindo aí o comandante da Polícia Rodoviária de Sergipe que deu um show de cinismo em suas declarações minimizando o ato criminoso.
Saliente-se que a Polícia Rodoviária Federal retirou de sua formação a disciplina sobre Direitos Humanos que abordava temas como proteção de crianças e adolescentes, violência sexual, trabalho infantil, tráfico de pessoas, machismo dentro da corporação e também a brutalidade policial. Em seu lugar entraram temas como \"uso legal e progressivo da força\" e \"direitos humanos com enfoque no trabalho policial\", um eufemismo para o jargão “direitos humanos para humanos direitos” tão utilizado pela ultradireita.
Ainda no começo de maio, o diretor-geral da PRF, Silvinei Marques, como reles sabujo nefando de Bozonaro, revogou o funcionamento e as competências de Comissões de Direitos Humanos dentro da polícia rodoviária. Essas comissões também tinham o papel de orientação educacional dos agentes a respeito do tema.
A porteira que se abriu foi como se fosse uma Caixa da Pandora e toda sorte de tragédias se soltaram, mas, assim, como na caixa, termos uma esperança nas próximas eleições. Que ela vença o medo e que consigamos fechar essa porteira deixando para trás uma triste página de nossa história.
UGT - União Geral dos Trabalhadores