16/03/2015
A mudança no patamar do câmbio está provocando um reequilíbrio da economia brasileira. A forte desvalorização do real em relação ao dólar, acumulada em 22,79% neste ano, e a deterioração do cenário econômico têm levado a uma piora nas expectativas para inflação e juros.
A alta da moeda americana deve se tornar mais um fator de pressão para os preços. A inflação está bastante pressionada por causa da recomposição dos preços administrados (energia elétrica, combustíveis e tarifas do transporte público). Na sexta-feira, Bradesco e Itaú deram o tom de mais uma rodada de piora de humor com os indicadores da economia brasileira.
O Bradesco passou a projetar um câmbio para o fim de 2015 num intervalo entre R$ 2,90 e R$ 3,10 ante os R$ 2,75 previstos inicialmente. A projeção para a inflação aumentou de 7,5% para 8%. Já o Itaú estima que a taxa de câmbio deve encerrar o ano em R$ 3,10, e o IPCA vai subir 8%, acima da previsão anterior, de 7,4%.
Nesse cenário de piora das expectativas inflacionárias, o BC pode ser obrigado a promover um aperto monetário mais duro para manter a inflação no dentro do teto da meta, que é de 6,5% ao ano. Uma escalada mais forte de juros deve prejudicar ainda mais a atividade econômica.
“Nós estimamos mais duas altas nos juros de 50 pontos base, mas isso não garantirá que a inflação alcance 4,5% (centro da meta) nem em 2016 nem em 2017”, afirma Nilson Teixeira, economista-chefe do Credit Suisse (leia a entrevista nesta página). Com a desvalorização do real, Teixeira não descarta que a inflação fique próxima de 9% em 2015.
Por ora, é difícil prever qual o tamanho desse ciclo de desvalorização do real, mas o que se sabe é que o novo patamar do câmbio veio para ficar. Há um movimento internacional de expectativa pelo aumento dos juros nos Estados Unidos que tem provocado a desvalorização de várias moedas em relação ao dólar. Quando o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) elevar a taxa de juros, essa tendência deverá ser reforçada.
Internamente, as desconfianças com a economia brasileira também colaboram para a desvalorização do real. Em 2015, o Brasil enfrenta um forte ajuste fiscal. A piora das contas públicas colocou o País de entrar no radar das agências de classificação de risco e tornaram real o risco de perda de grau de investimento.
“Há um problema de risco político alto e ele está crescendo. Além disso, existe uma visão entre os analistas de que está se tornando muito forte o risco de o Brasil perder o grau de investimento”, diz José Márcio Camargo, professor da PUC-Rio e economista da Opus Gestão de Recursos.
“A situação da Petrobrás é muito grave, e é difícil acreditar que o governo não vai socorrê-la se a situação piorar. Se o governo precisar socorrer a Petrobrás, a probabilidade de o País perder o grau de investimento é muito alta”, afirma. A previsão da Opus é que a inflação encerre o ano em 8,5%.
A equipe econômica também sinalizou que deverá reduzir a intervenção no câmbio, o que reforça a expectativa pela desvalorização do real. Desde o início do ano, o Banco Central diminuiu o programa de “ração diária” – oferta feita por meio de leilões de swap cambial, instrumentos que equivalem à venda futura de dólar.
Balança.
Embora complique o cenário para os preços, a alta do dólar pode começar a trazer um alento para o setor externo da economia brasileira – os dados do Banco Central mostram que a economia brasileira tem um déficit em transações correntes de 4,17% do Produto Interno Bruto (PIB), um número considerado elevado e que indica um alta necessidade de financiamento externo. “Com um câmbio mais apreciado, as empresas tendem a importar mais, o que acelera o déficit em conta corrente”, afirma Bruno Lavieri, economista da Tendências Consultoria Integrada.
Menos intervenção.
A equipe econômica também já sinalizou que deverá reduzir a intervenção no câmbio, representada pelos leilões de swap, o que reforça a expectativa pela desvalorização do real.
Fonte: Estadão
UGT - União Geral dos Trabalhadores