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Operários migram para setor de serviços


02/03/2015

A estagnação da economia está provocando uma migração de trabalhadores ocupados da indústria, que geralmente paga melhores salários e oferece mais benefícios, para os setores prestadores de serviços que ainda têm algum fôlego para contratar. Esse movimento, que ocorreu no ano passado, quando o Produto Interno Bruto (PIB) não cresceu, é o inverso do que houve em períodos quando a economia ainda andava para frente e a indústria “roubava” trabalhadores do setor de serviços.

 

“No ano passado, o setor de serviços começou a absorver trabalhadores da indústria, mudando totalmente a mão de direção. Em 2012 e 2013, o fluxo era inverso: os trabalhadores iam dos serviços para a indústria”, diz o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas, Rodrigo Leandro de Moura.

 

Ele faz essa afirmação com base num estudo feito a partir de um recorte da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE. Por esse recorte, é possível acompanhar a posição dos trabalhadores na população ocupada entre janeiro e dezembro de cada ano. Esses trabalhadores são identificados pela data de nascimento e sexo. Ficam de fora trabalhadores que conseguem o primeiro emprego e aqueles que estão no trabalho por período inferior a um ano.

 

O estudo mostra que, no ano passado, 14.671 trabalhadores deixaram a indústria e foram trabalhar no setor de serviços, que inclui transporte, intermediação financeira, serviços domésticos e outros. Moura explica que esse é o saldo líquido de trabalhadores, isto é, desconta aqueles que foram dos serviços para a indústria. 

 

Em anos anteriores, o fluxo era no sentido oposto e favorável à indústria. Em 2012, o saldo líquido de trabalhadores que deixou o setor de serviços para trabalhar na indústria tinha sido de 7.098 e em 2013, de 6.857.

 

Debandada.

 

“Está ocorrendo uma debandada geral da indústria”, observa o pesquisador. Em 2014, além de migrar para o setor de serviços, os trabalhadores egressos da indústria foram para fora da População Economicamente Ativa (PEA). Quase 20 mil pessoas das 100 mil que saíram da indústria deixaram de procurar emprego. “O forte desaquecimento da economia, com a alta da taxa Selic e mudança do ambiente regulatório, afetou muito a indústria e provocou demissões”, diz Moura.

 

No mês passado, a indústria, ao lado da construção civil, foi o principal responsável pela redução da população ocupada, observa o economista da Tendências Consultoria Integrada, Rafael Bacciotti. Em janeiro, a população ocupada na economia como um todo caiu 0,5% em relação ao mesmo mês de 2014, com recuo expressivo da indústria (-6%) e da construção civil (-4,2%). “A queda da ocupação na indústria e na construção é forte e bem superior à retração da média da ocupação.

 

Outro indício de que os trabalhadores da indústria estão migrando para os serviços aparece nos dados de participação dos setores na população ocupada.

 

Em janeiro, a indústria respondeu por 14,7% do total de trabalhadores ocupados nas seis regiões metropolitanas do País. Um ano atrás essa fatia era de 15,6%. Foram 216 mil postos de trabalho a menos nas fábricas em relação a janeiro de 2014, aponta a PME do IBGE. Enquanto isso, o setor de serviços avançou. Os serviços prestados a empresas, que respondiam por 16,1% da ocupação em janeiro de 2014, subiram para 16,4% em janeiro deste ano. A fatia de outros serviços na ocupação também subiu, de 18,5% para 19,2%.

 

O pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Eduardo Zylberstajn, ratifica esse movimento com dados por setor acumulados em 12 meses. Entre janeiro de 2008, quando a economia crescia e a indústria capturava mão de obra dos serviços, e janeiro deste ano, a participação da indústria na ocupação acumulada em 12 meses caiu 9,9%. Nesse mesmo período, a população ocupada nos serviços de intermediação financeira, atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados à empresa cresceu 10,4%.

 

Zylberstajn lembra que, como a taxa de desemprego diminuiu no período, isso indica que os trabalhadores não migraram para o desemprego. “Portanto, esses trabalhadores foram para outros setores, entre os quais está o de serviços.”

 

Apesar de o setor de serviços ter absorvido o contingente demitido da indústria em 2014, a perspectiva para este ano não é favorável. “Há várias evidências de que o setor começa a enfrentar dificuldades”, diz Bacciotti, da Tendências. Entre essas evidências, ele aponta a queda na receita do setor, o aumento da inflação e a própria contração da indústria, que gera menos demanda por serviços.

 

Fonte: Estadão


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