24/02/2015
O faturamento dos micro e pequenos empresários paulistas em 2014 foi R$ 3,9 bilhões menor em relação ao registrado no ano anterior. A pesquisa, elaborada pelo Sebrae-SP e obtida com exclusividade pelo Estado, mostra ainda que o comércio foi o setor mais afetado pela economia, com retração de 5,9% das receitas.
Já o faturamento do segmento de serviços apresentou alta de 6,5%, beneficiado pelo desempenho positivo dos nichos de transporte e armazenagem, que contaram com aumento de demanda durante a Copa do Mundo. A queda no faturamento da indústria foi de 1,8%
"A economia como um todo prejudicou a confiança dos empresários em 2014. Houve um aumento contundente na taxa de juros e a inflação se manteve relativamente alta, perto do teto da meta. Isso tudo deixou a atividade econômica mais calma (estável)", analisou o coordenador de pesquisas do Sebrae-SP, Marcelo Moreira.
A região do Estado que mais sofreu com a desaceleração foi o Grande ABC, com queda de 4,6% no faturamento anual. Essa retração pode ser explicada pelo mau desempenho da indústria, em especial do setor automobilístico, principal atividade econômica da região.
Esse cenário de retração estabelecido pela pesquisa já é vivido, na prática, pelo empresário Humberto Gonçalves, sócio de uma fábrica de parafusos e arruelas na zona leste de São Paulo. Para adaptar-se, ele precisou cortar gastos, o que envolveu a demissão de 14 dos 46 funcionários que começaram o ano na empresa.
"Quando, em 2014, o governo admitiu que o crescimento do Brasil poderia ser próximo de zero, a indústria já estava em retração. Produtores, fornecedores e clientes também estão no mesmo barco. Tenho problema de até 50 dias de atraso no recebimento com clientes que sempre foram fiéis. É um efeito em escala", lamenta Gonçalves.
Quando é levado em consideração apenas o mês de dezembro, o faturamento dos pequenos empresários teve um saldo positivo de 0,2% em relação ao ano interior. A maior alta foi no setor de serviços, com 14,4% de crescimento real, seguido pela indústria, com 12,9%. O comércio, mais uma vez, apresentou uma queda acentuada e faturou 12,6% menos em relação ao período anterior.
Para o assessor econômico da Fecomércio, Vitor França, a alta da inflação e a instabilidade do câmbio costumam afetar mais os micro e pequenos empreendedores em relação às grandes redes do comércio. "As grandes empresas se saem melhor, pois conseguem fazer promoções, compram em larga escala, incorporam preços", explica França. "Para se proteger da crise, o pequeno empresário precisa trabalhar mais em cima de planejamento, cortar gastos e os cortes, infelizmente, implicam em redução do quadro de funcionários."
Conforme explica o economista, 2014 foi o ano em que a situação econômica desfavorável, que já vinha se delineando, ficou evidente. "Caiu a ficha. E 2015 já começou com medidas restritivas, aumento de impostos. Um futuro em médio prazo tão ruim não estava na cabeça do empresariado. Após a eleição, a perspectiva de melhora foi adiada, pois o que se seguiu foi um pacote de notícias ruins", define França.
Pessimismo. A queda contundente no faturamento das micro e pequenas empresas fomentou o maior índice de pessimismo já registrado pelo levantamento do Sebrae-SP. Para os próximos seis meses, 16% dos empresários consultados esperam uma piora no desempenho de suas empresas em 2015. Outros 55% acreditam que o quadro tende a se manter como está.
Outro recorde de pessimismo aparece na percepção da situação da economia brasileira para este ano: 32% dos pequenos e micro empreendedores acreditam que a tendência é de piora no panorama nacional. Apenas 15% confiam em resultados positivos.
O receio do empresário Humberto Gonçalves confirma a pesquisa. "Estou com medo da economia brasileira. Não tenho confiança no mercado e tenho encontrado muita dificuldade na linha de crédito. O gráfico está muito inconstante. O meu grande desafio para 2015 é me manter vivo, sem precisar me desfazer de mais nada. Infelizmente, me manter no zero a zero já vai ser uma grande vantagem".
Para Marcelo Moreira, especialista do Sebrae-SP, a maior cautela do empresário deve ser com o financiamento, que deverá ser acessado como última opção e quando há planejamento para cumprir todos os prazos. "Para 2015, o empreendedor precisa aumentar suas chances de sobrevivência. É um período que vai demandar planejamento e aprimoramento. Em vez de sair em busca de novos mercados, talvez seja preferível fidelizar o cliente. Será um ano difícil, mas não tenebroso", define.
Fonte: Estadão
UGT - União Geral dos Trabalhadores