09/02/2015
A vida financeira das construtoras envolvidas na operação Lava Jato, que investiga esquema de corrupção nos contratos da Petrobrás, anda tão difícil que nem as despesas mínimas estão sendo pagas. Com caixa debilitado e sem crédito na praça, as empresas vivem um bombardeio de ações judiciais movidas por fornecedores, que cobram por serviços prestados, venda de produtos e locação de equipamentos. Na outra ponta, o reflexo tem sido a redução do ritmo das obras e do quadro de funcionários de algumas construtoras.
Os problemas surgiram com a sétima fase da operação Lava Jato, da Polícia Federal, desencadeada na primeira quinzena de novembro e que prendeu executivos de várias construtoras, como Camargo Corrêa, OAS, Mendes Júnior, UTC, Engevix, Iesa, Galvão Engenharia e Queiroz Galvão. No fim de dezembro, a situação se complicou ainda mais com a lista de 23 empresas proibidas de participar de novas licitações da Petrobrás.
Sem receber contratos em andamento e impedidas de participar de novos negócios, as empresas também deixaram de pagar fornecedores e estão enxugando suas estruturas. A Galvão Engenharia, por exemplo, decidiu fechar a divisão de engenharia industrial, a mais ligada aos projetos da Petrobrás.
A empresa diz que, além das dívidas vencidas, tem cerca de R$ 900 milhões a receber da estatal, que paralisou todos os pagamentos desde 2014. Sem dinheiro, a companhia, que representa 16% do grupo, também parou de pagar seus fornecedores.
Um deles é a Four Tech, empresa que faz locação de equipamentos para o ramo de petróleo. A empresa alugou máquinas para a Galvão Engenharia usar nas obras da Refinaria de Paulínia. No começo, os pagamentos eram regulares. Mas, depois da Lava Jato, a empresa deixou de pagar até uma dívida de apenas R$ 14 mil.
"Entramos em contato com a empresa no fim de janeiro e ela disse que só no segundo semestre (teria dinheiro para pagar)", diz o advogado da companhia, Vinicius Feitoza Paes. Segundo ele, a alternativa escolhida pela Four Tech para receber o dinheiro foi cobrar na Justiça.
Mesmo caminho foi seguido pela Engete Engenharia, de Belo Horizonte (MG). O diretor Vicente Paulo conta que havia feito um acordo com a Galvão para pagamento parcelado de uma dívida, que ele prefere não contar o valor. Mas o negócio não foi cumprido e a empresa também teve de ir à Justiça.
"Eles alegam que estão esperando o pagamento da Petrobrás para regularizar a situação com os fornecedores", diz Paulo, que presta serviço na área elétrica. "Não quero mais trabalhar com esse povo. É mais fácil lidar com empresa menor. A gente recebe mais rápido."
A SH Formas, locadora de equipamentos para construção (andaimes, escoras metálicas, etc.), foi além de uma simples ação judicial para cobrar a dívida da Mendes Júnior: pediu a falência da empresa. O advogado da companhia, Renato Leal, conta que a construtora se comprometeu a pagar o débito, de R$ 2,2 milhões, em oito vezes, mas só quitou três parcelas. Segundo ele, além desse valor, há outros contratos em andamento que ainda não foram pagos.
A Mendes Júnior afirmou que o processo ainda não foi julgado e que, portanto, não comentaria o assunto. Desde que a Operação Lava Jato foi deflagrada pela Polícia Federal, a empresa vive um problema atrás do outro. No começo do ano, ela teve dificuldade para pagar funcionários da obra de Transposição do São Francisco. A segunda parcela do 13.º salário foi paga na segunda semana de janeiro, mas os trabalhos no canteiro de obras só tiveram início mais tarde porque a empresa não tinha dinheiro para despesas básicas, como combustível.
Rodoanel.
Segundo fontes do setor, a construtora está prestes a entregar o contrato de construção do trecho Norte do Rodoanel de São Paulo. A Dersa Desenvolvimento Rodoviário afirmou, entretanto, que até o momento não recebeu manifestação do Consórcio Mendes Júnior - Isolux Corsán. Mas disse que, caso algum contratado se manifeste neste sentido, ela tomará "todas as medidas legais e administrativas necessárias para preservar a boa evolução do empreendimento".
A vida de OAS e Queiroz Galvão também não anda nada fácil. As duas são campeãs em ações judiciais. Só no Tribunal de Justiça de São Paulo, elas acumulam quase 50 pedidos de janeiro até agora, sendo a maioria referente a execução de títulos não pagos. Além da redução do quadro de funcionários, essas empresas também estão com dificuldade para tocar obras importantes Brasil afora.
O vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Construção da Bahia (Sintepav-BA), Irailson Warneaux, afirma que depois dos empreendimentos da Petrobrás, a Lava Jato agora começa a afetar projetos de outras áreas. Ele conta que duas obras de mobilidade em Salvador (Corredor Transversal I e II) estão em ritmo muito aquém do previsto.
Fonte:Estadão
UGT - União Geral dos Trabalhadores