06/02/2015
Num gesto para recompor sua credibilidade e estender a mão ao mercado financeiro, o Banco Central trocou parte da diretoria e trouxe um nome da iniciativa privada para um colegiado até então quase todo composto por servidores públicos. A mudança ocorre 36 dias depois do início do novo governo e em meio a um cenário de expectativas "desancoradas", com projeções de inflação ao redor de 7% para este ano, bem acima do limite de tolerância de 6,5% fixado pelo BC.
A diretoria de Assuntos Internacionais será ocupada por Tony Volpon, diretor-executivo e chefe de Pesquisas para Mercados Emergentes das Américas da Nomura Securities International.
O diretor Luiz Awazu Pereira da Silva, que acumulava Assuntos Internacionais e Regulação, passa a dirigir a área de Política Econômica. Otávio Ribeiro Damaso, ex-chefe de gabinete da presidência do BC, passa a comandar a área de Regulação.
No mercado, a avaliação é de a chegada de Volpon deve melhorar a comunicação do BC. A dúvida, porém, é se a entrada de Damaso no Comitê de Política Monetária (Copom) e a migração de Awazu para um posto chave dentro do colegiado, pode deixar o BC mais "dovish", um adjetivo usado por economistas para classificar uma postura tolerante com a inflação. Awazu é considerado um dos diretores mais "dovishs" da cúpula. Carlos Hamilton, em contraponto, era o "hawkish", termo aplicado aos mais duros contra a alta do custo de vida.
A indicação de Toni Volpon para a diretoria mostraria uma renovação no BC. Um integrante da área econômica do governo lembra um "paper" distribuído por ele, por meio da corretora na qual ainda é executivo, recomendando a venda de "Brasil e a compra de México". Nos últimos tempos, as críticas foram amenizando, ressaltou a fonte. Volpon, procurado pela reportagem, disse que não se pronunciaria até a confirmação de seu nome pelo Senado Federal, onde será sabatinado.
Ao Broadcast, Awazu mostrou-se alinhado com o discurso do presidente Alexandre Tombini ao dizer que vai "trabalhar para trazer a inflação para a meta de 4,5% em dezembro de 2016". "Os desafios estão sendo enfrentados com rigor e determinação".
Com as mudanças, Carlos Hamilton Araújo, agora ex-diretor de Política Econômica, deixa a instituição ainda hoje. A saída dele era cogitada há algum tempo no mercado financeiro e encerra uma fase de grande desgaste para o diretor. Apontado inúmeras vezes como a "bola da vez" do BC, Hamilton manifestava já há algum tempo para colegas de trabalho a sua insatisfação com essa situação.
Hamilton era o "porta-voz" mais visível das críticas internas do BC à política econômica conduzida pelo ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, principalmente em relação à política fiscal. Por diversas vezes, declarações suas em entrevistas coletivas foram interpretadas pela equipe de Mantega como uma divergência à política econômica do Ministério da Fazenda.
Durante o tempo em que ocupou o cargo, eram frequentes as notícias de que a presidente Dilma Rousseff não havia gostado de declarações emitidas por Hamilton. Essas críticas alimentaram boatos recorrentes de que ele deixaria o cargo. Antes mesmo dos ruídos em torno de sua eventual transferência para o Tesouro Nacional, para integrar a equipe do novo ministro, Joaquim Levy, Hamilton já havia manifestado a intenção de deixar o BC para trabalhar no mercado financeiro.
Ele ficou ainda mais frustrado depois de que seu nome foi preterido para o posto. Fontes ouvidas pelo Broadcast confirmam que ele foi, de fato, indicado para o Tesouro, mas Marcelo Saintive acabou sendo o escolhido por Levy.
Fonte:Estadão
UGT - União Geral dos Trabalhadores