26/01/2015
Após avançar para as cidades do interior, grandes grupos de supermercados disputam o mercado de vizinhança de alimentos e de produtos de higiene e limpeza para fisgar tanto os consumidores mais ricos como os mais pobres. No ano passado, as pequenas lojas de vizinhança de grandes redes varejistas foram as que mais ampliaram as vendas, superando de longe o desempenho dos hipermercados, supermercados e do pequeno varejo independente.
Estudo feito pela consultoria Euromonitor, obtido com exclusividade pelo Estado, mostra que as pequenas lojas das grandes redes varejistas aumentaram em 15% as vendas em dólar no ano passado em relação a 2013, enquanto o faturamento dos hipermercados, dos supermercados e do pequeno varejo independente cresceu 0,5%, 2,3% e 0,5%, respectivamente.
"O brasileiro está mudando o hábito de consumo: no passado fazia compra do mês e agora, do dia ou da semana", afirma Marcela Viana, analista de pesquisa de mercado da Euromonitor Internacional, que acompanha esse mercado em 80 países. Ela observa que o varejo de vizinhança tem posição de destaque em países desenvolvidos, como no Japão, onde movimentou US$ 113,5 bilhões no ano passado. No mundo, o Brasil ocupou a 12.ª posição na lista de países que mais aumentaram as vendas em 2014. Juntas, as pequenas lojas das grandes redes, com até 400 m², faturaram US$ 250,1 milhões no País. Até 2019, essa cifra pode somar US$ 412,9 milhões, com alta de 64,7%.
Alguns fatores explicam esse potencial de crescimento: o consumidor quer praticidade na hora de fazer as compras, sem ter de percorrer grandes distâncias para chegar ao mercado. Além disso, o poder aquisitivo da população melhorou, especialmente com um maior número de mulheres no mercado de trabalho. Trata-se de um cenário muito diferente do de 20 anos atrás, quando os hipermercados eram os "queridinhos" do consumidor que, na prática, era um "caçador" de ofertas para se defender da inflação de 40% ao mês.
Para Caio Gouvêa, sócio da GS&MD, não foi só o perfil do consumidor que fez aumentar o interesse das grandes redes pelo mercado de vizinhança. A especulação imobiliária, que encareceu os imóveis, acabou dificultando a expansão dos hipermercados, obrigando as varejistas a buscar alternativas.
Demanda.
"As lojas de vizinhança de grandes redes surgiram e estão crescendo por causa da demanda do cliente por praticidade", diz o diretor de formato de proximidade do Grupo Pão de Açúcar, Renato Giarola. O GPA atua nesse segmento com duas bandeiras. O Minimercado Extra, lançado em 2011, é voltado para a venda de produtos básicos para todas as classes. A outra bandeira é o Minuto Pão de Açúcar, que começou em junho de 2014, e está focado no público de maior renda que compra produtos diferenciados, como bebidas importadas. Segundo o executivo, as duas bandeiras crescem dois dígitos.
Hoje, o GPA tem 256 lojas das duas bandeiras, sendo 241 do Minimercado e 15 do Minuto. A meta é abrir mais 300 lojas até o fim de 2016, que devem consumir investimentos de R$ 290 milhões. Um terço das lojas terá a bandeira Minuto e o restante será Minimercado. O formato de proximidade é o que tem maior abertura de lojas programadas no grupo para os próximos anos. "Já temos previsão de abrir lojas de vizinhança no Nordeste até o fim deste semestre", conta Giarola. Hoje, esse formato só existe no Estado de São Paulo e o grupo ergueu um centro de distribuição só para abastecer essas lojas.
Cinco anos atrás, o Carrefour abriu sua loja de vizinhança, mas desistiu porque, na época, não era o que o consumidor buscava, explica Marcela, da Euromonitor. A nova investida no setor ocorreu em agosto do ano passado, com a bandeira Carrefour Express. São lojas de 200 m², com cerca de 2,7 mil itens básicos e de consumo rápido.
O Carrefour não revela os planos para esse formato, mas já tem um centro de distribuição exclusivo capaz de atender 100 lojas desse tipo. O grupo fechou 2014 com quatro Carrefour Express. O formato de vizinhança foi o que mais inaugurou lojas em 2014, atrás do atacarejo, mistura de atacado com varejo.
A rede espanhola Dia% é outra que aposta no mercado de vizinhança com a nova bandeira Dia Market. Procurada, a empresa não forneceu informações. Mas, segundo fontes do mercado, há 15 lojas em operação em São Paulo.
Relacionamento.
O interesse das grandes redes internacionais de supermercados em abrir unidades menores não assusta os donos de mercadinhos, que têm apenas uma loja, diz Álvaro Furtado, presidente do Sincovaga, sindicato que representa, no Estado de São Paulo, tanto o pequeno varejo das grandes redes como as empresas de familiares com um ponto de venda.
Na avaliação do executivo, o diferencial das pequenas lojas que pertencem a grupos familiares é o relacionamento com a clientela, conhecendo os seus gostos e preferências. Isso não existe no caso das grandes redes que iniciaram operação nesse segmento. “A loja independente vai sofrer um pouco, mas os mais afetados são os supermercados com duas a três lojas e que não estão ligados a grandes redes.”
Ele explica que esses supermercados ficam em situação complicada porque não conseguem comprar grandes volumes para ter ofertas atraentes e, ao mesmo tempo, não têm o relacionamento pessoal com a clientela. Furtado acha que os formatos promissores do varejo de autosserviço são lojas de vizinhança e atacarejo.
Fonte:Estadão
UGT - União Geral dos Trabalhadores