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Represas terão de dobrar volume para evitar racionamento elétrico


26/01/2015

O volume de água nos reservatórios do sistema Sudeste/Centro-Oeste terá de dobrar até abril para livrar o Brasil de um novo racionamento de energia elétrica, se for levado em conta o cálculo do ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga. Hoje, as represas estão em 17,28% da capacidade e precisam chegar a, pelo menos, 35% para aguentar a demanda entre maio e novembro (quando o volume de chuvas é menor) e não cair abaixo do limite de 10% estabelecido na quinta-feira por Braga para a adoção de racionamento.

 

No período seco, o nível dos reservatórios costuma cair, em média, 31 pontos porcentuais, segundo levantamento feito pelo Estado, com base em dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) entre 2010 e 2014. Mas, como o desempenho da economia será fraco neste ano, a expectativa é de que o comportamento das represas siga o ritmo dos dois últimos anos, quando o volume de água armazenada recuou em torno de 22 pontos.

 

Portanto, se as chuvas dobrarem o nível atual dos lagos, as hidrelétricas terminarão o período seco um pouco acima do limite de 10%. O problema, porém, é que as previsões climatológicas não apontam para chuvas acima da média. Segundo o meteorologista da Climatempo, Alexandre Nascimento, devem ficar entre 70% e 80% do volume normal previsto para fevereiro.

 

"Teremos chuvas nos próximos dez dias, mas serão pancadas localizadas, muito ruins para o enchimento de reservatórios." Segundo Nascimento, a situação é preocupante, já que o ponto de partida das represas está muito baixo - o que exigiria muita chuva. Além disso, o calor intenso deste verão tem provocado recordes de consumo e deteriorado o volume das represas num momento em que elas deveriam acumular água. Em 20 dias, o nível caiu 2,01 pontos porcentuais.

 

Algumas hidrelétricas, como Nova Ponte, Itumbiara e Furnas, estão com o armazenamento pouco acima de 10%. Com menos água no reservatório, a potência das turbinas cai e a capacidade de produção diminui, deixando o País vulnerável a apagões, como o que ocorreu na segunda-feira passada e deixou dez Estados e o Distrito Federal sem luz. Naquele momento, houve um pico de consumo, causado pelo calor, e o Brasil não tinha energia suficiente para atender à demanda.

 

Com o armazenamento no limite, não se pode descartar novos apagões até o fim deste verão, uma vez que, nos últimos dois anos, os picos de consumo ocorreram em fevereiro, afirma o presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales. Na opinião dele, a atual crise de abastecimento é resultado de uma conjunção de problemas que vêm se acumulando ao longo dos últimos anos, sem reação por parte do governo.

 

Origem.

 

A lista de problemas é encabeçada pelos constantes atrasos dos projetos de expansão da oferta. No último relatório de fiscalização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), 35% dos empreendimentos de geração tinham algum tipo de restrição, sendo 12% deles com problemas graves e sem previsão de entrada em operação. Mesmo aqueles que hoje estão sem restrição têm atraso no cronograma, como é o caso da Hidrelétrica de Belo Monte. A primeira turbina deveria começar a funcionar no mês que vem, mas só entrará em operação em novembro, se tudo der certo.

 

"É preciso ter mais fluidez na construção de hidrelétricas. Não adianta achar que as fontes alternativas vão resolver os problemas", afirma o presidente da Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica (Abrage), Flávio Neiva. Ele destaca, entretanto, que os atrasos não afetam apenas as obras de geração, mas também as de transmissão. Há casos em que a usina fica pronta e a linha ainda não foi concluída, a exemplo da Hidrelétrica Teles Pires.

 

Na avaliação do presidente do Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Energético (Ilumina), Roberto Pereira D'Araújo, a situação atual é resultado de uma expansão da oferta baseada em térmicas caras, que só entram em operação em casos extremos. Apesar de a capacidade instalada do País aumentar, as hidrelétricas são sobrecarregadas, pois têm de gerar pelas térmicas que não entram em operação, afirma o executivo.

 

Além disso, mesmo as térmicas têm atraso na construção. O Grupo Bertin, por exemplo, não conseguiu construir várias usina arrematadas por ele em 2008 e comprometeu o planejamento de expansão do setor.

 

Para o professor Nivalde de Castro, coordenador do Gesel-UFRJ, a situação do setor é complicada e exigirá esforço do governo para resolver o problema. Na opinião dele, o realismo tarifário terá de chegar aos leilões de energia, seja de geração ou transmissão, para atrair mais investidores, num momento em que as empresas do setor estão em desequilíbrio e o cenário macroeconômico é desfavorável a novos investidores. "O preço-teto e a RAP (receita fixa de transmissão) terá de aumentar para atrair investidores."

 

Fonte:Estadão


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