22/01/2015
A crise enfrentada pelo setor elétrico levou o governo a tomar uma medida emergencial para garantir o abastecimento do País. Um dia após o apagão que deixou dez Estados e o Distrito Federal sem energia, o governo decidiu recorrer à Argentina para suprir a demanda nacional. Foi a primeira vez que o País teve que importar energia de países vizinhos desde novembro de 2010, época em que o Brasil não vivia situação crítica como a atual. A energia serviu para cobrir problemas pontuais de geração, sobretudo na Região Sul.
Desta vez, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) pediu ao país vizinho uma oferta entre 500 megawatts (MW) e 1.000 MW de energia, como antecipou o Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado. A importação da energia ocorreu por meio da estação de Garabi, no município de Garruchos (RS), na fronteira com a Argentina.
O objetivo era atender aos horários de maior consumo: das 10h23 às 12h e das 13h às 17h02. A potência máxima da energia chegou efetivamente a ser utilizada. Às 14h48 de terça-feira, a Argentina injetou 998 MW nas linhas de transmissão que seguem para o Brasil.
O pedido do ONS à Argentina ocorreu no momento em que um novo apagão se pronunciava. O Broadcast apurou que a frequência do sistema elétrico voltou a oscilar na manhã de terça-feira, repetindo a mesma situação que levou ao blecaute do dia anterior. Para evitar um novo colapso, o operador fez o pedido de injeção de energia "em tempo real".
Em nota, o governo informou que "pode haver intercâmbio de energia, quando necessário, sem interferência do Ministério de Minas e Energia". No governo, avalia-se que não há problemas em contar com a energia de países vizinhos. Mas é uma estratégia arriscada, já que os problemas de abastecimento de energia não são exclusividade do Brasil e, há anos, atingem a Argentina.
A importação foi vista como um sinal de desespero do governo brasileiro, segundo fontes do setor. Na terça-feira, quando a eletricidade gerada na Argentina já abastecia milhões de brasileiros, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, reiterava que o País tinha folga de geração. Ao anunciar o plano de emergência para evitar novos apagões, Braga não mencionou que o Brasil já contava com energia do país vizinho.
Uruguaiana.
A necessidade de geração é tamanha que o Brasil já negocia acionar as turbinas da usina térmica de Uruguaiana, instalada no Rio Grande do Sul, na fronteira do Brasil com a Argentina. É uma medida considerada extrema no setor. Por duas razões: primeiro, pelo desgaste político das negociações com a Argentina, que rompeu o contrato de abastecimento de gás da usina em 2009. Depois, em razão do elevado custo de geração da térmica.
Com o acionamento de Uruguaiana, o governo poderia adicionar 639 MW de geração ao sistema nacional. "O MME está avaliando a possibilidade de acionar a UTE Uruguaiana", informou, em nota, o ministério. A AES Brasil, dona da usina, afirmou ao Estado que a planta "está pronta e à disposição para operar".
Em março e abril de 2014, a usina chegou a ser acionada, em caráter emergencial. Na época, a Petrobrás teve que importar gás de Trinidad e Tobago, no Caribe, e enviar o insumo por navio até Bahía Blanca, no sul da Argentina, para só então transportar o combustível por gasoduto até a usina.
Fonte:Estadão
UGT - União Geral dos Trabalhadores