19/01/2015
O embaixador do Brasil na Indonésia, Paulo Alberto da Silveira Soares, deve se apresentar nesta segunda-feira no Itamaraty. Ele seguiu as instruções da presidente Dilma Rousseff de deixar imediatamente aquele país, em retaliação à decisão do governo indonésio de executar o brasileiro Marco Archer na tarde de sábado.
Apesar das relações estremecidas, o Itamaraty reinicia, nesta segunda-feira, novas gestões junto aos indonésios para evitar que Rodrigo Muxfeldt Gularte, de 41 anos, outro brasileiro que está no corredor da morte também condenado por tráfico de drogas, seja fuzilado.
Trazer de volta o embaixador de um País "para esclarecimentos", como fez o Brasil agora, é um gesto forte nas relações diplomáticas, sinal de que as relações entre os dois países estão "gravemente abaladas". Embora jornais indonésios noticiem que a execução de Gularte poderá ocorrer dentro de um mês, o Itamaraty informou que nenhuma data foi informada oficialmente ao governo do Brasil.
Gularte foi preso em 2004, no aeroporto de Jacarta, com seis quilos de cocaína que estavam escondidos em oito pranchas. O surfista, que seguia para Bali, estava com dois amigos, mas assumiu a autoria do crime de tráfico internacional de drogas sozinho. Gularte perdeu todos os recursos possíveis na Justiça da Indonésia - o último, em 2011 - e sua única chance de evitar ser fuzilado é obter o perdão do presidente daquele país, Joko Widodo.
Mas, o pedido de clemência também foi negado. Na última sexta-feira, em conversa por telefone com a presidente Dilma Rousseff, Widodo insistiu que o combate e a severa punição ao tráfico de drogas com morte dos traficantes foi uma promessa de campanha. Por isso, não teria como atender ao apelo de Dilma, que alegou razões humanitárias e lembrou que no Brasil não existe pena de morte.
O Itamaraty está oferecendo assistência psicológica a Rodrigo Muxfeldt Gularte, como fez com Archer, e confirma que levou às autoridades indonésias pedido da família do paranaense para que seja analisada a grave situação de saúde dele. Segundo o jornal Gazeta do Povo, do Paraná, uma prima de Gularte foi ao país asiático para levar às autoridades um laudo que atesta que o paranaense sofre de esquizofrenia e que, por isso, precisaria ser internado em um hospital psiquiátrico. Os familiares acham que isso poderia, ao menos, adiar a sua execução.
Em entrevista na noite de sábado, o novo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, assegurou que o governo brasileiro está empenhado em tentar evitar uma nova tragédia, que foi o fuzilamento de Archer. "Estamos continuando da mesma forma com que fizemos com Marco Archer, dando toda assistência e acompanhamento (a Rodrigo Gularte) e não poupamos qualquer tipo de gestão ou de pressão contra o governo da Indonésia" para evitar a sua morte, declarou o ministro.
Vieira estava em Washington providenciando sua mudança para o Brasil, quando foi convocado por Dilma, por conta da crise com a Indonésia. Ainda no sábado, ao desembarcar em Brasília, ele foi ao Palácio da Alvorada, residência oficial da presidente, para acertarem o pronunciamento que seria feito pelo governo brasileiro, em repúdio à execução do brasileiro.
Uma nota assinada pela presidente foi divulgada em seguida ao fuzilamento de Archer, na qual Dilma "lamentou profundamente" o ocorrido e disse estar "consternada e indignada" com a decisão do governo indonésio. Anunciou ainda que estava chamando de volta o embaixador brasileiro.
O tempo regular de serviço do embaixador Paulo Alberto da Silveira Soares em Jacarta está terminando e o Brasil estava em processo de troca de diplomatas. Mas, o episódio do fuzilamento fez com que o governo brasileiro suspendesse, ao menos por enquanto, a nomeação de um novo embaixador do Brasil na Indonésia.
É outro sinal de agravamento das relações entre os dois países. Os diplomatas evitam falar, no entanto, em rompimento das relações entre os dois países como consequência natural, caso o segundo brasileiro seja morto naquele país. Alegam que todas as gestões ainda estão em andamento para evitar que isso aconteça. Colaborou Renata Veríssimo.
Fonte:Estadão
UGT - União Geral dos Trabalhadores