16/01/2015
Com o orçamento apertado e inflação em alta, um número menor de inadimplentes renegociou dívidas no ano passado. Em 2014, a quantidade de dívidas vencidas que não foram regularizadas caiu 3% em relação ao anterior. Essa foi a menor variação anual do Indicador de Recuperação de Crédito do Consumidor da Boa Vista SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito) desde 2006.
Os dados nacionais da empresa especializada em informações financeiras mostram que no ano passado houve uma reversão na renegociação de dívidas vencidas, uma vez que em 2013 tinha aumentado 3,4% a regularização de pendências na comparação com 2012.
"A notícia não é boa", afirma Fernando Cosenza, diretor da Boa Vista SCPC. Ele atribui esse resultado negativo à combinação de três fatores. O primeiro é o avanço da inflação registrado no ano passado, que corroeu a renda do consumidor. O segundo fator é a desaceleração do crescimento da renda. "Os reajustes salariais foram menos interessantes em 2014 do que em anos anteriores." Além disso, os juros mais elevados dificultaram as e negociações. "Uma pessoa inadimplente que procurou renegociar as dívidas vencidas teve mais dificuldade porque a dívida ficou mais cara em relação a dois anos atrás."
Apesar de todos esses fatores negativos terem afastado os inadimplentes da renegociação de suas pendências em atraso, o economista pondera que o recuo no número de recuperação de créditos em atraso em 2014 em comparação com 2013 foi influenciado pela menor base de comparação. Como 2013 foi marcado pela queda da inadimplência de 0,3%, o volume de dívidas renegociadas naquele ano foi pequeno, o que, de certa forma, influenciou o aumento registrado em 2014.
Calote.
O juro em alta e a renda crescendo em ritmo menor também afetaram o desempenho do calote no ano passado, que voltou a subir. A inadimplência do consumidor encerrou 2014 com alta de 2,3%, segundo o indicador da Boa Vista SCPC, depois de ter recuado 0,3% em 2013. "A boa notícia é que o aumento da inadimplência poderia ter sido maior no ano passado", diz Cosenza.
O economista argumenta que a inadimplência cresceu, mas não foi explosiva em 2014 porque as instituições financeiras que concedem o crédito foram mais rigorosas nas aprovações e isso segurou o calote. Na outra ponta, o brasileiro, por sua vez, ficou mais cauteloso para se endividar. Tanto é que, ao longo de 2014, a demanda por crédito por parte do consumidor diminuiu.
Para este ano, a expectativa do economista é de um ligeiro aumento da inadimplência que, na sua avaliação, deve crescer 3% em relação a 2014 por causa da atividade ainda fraca, dos juros e da inflação em alta.
Além disso, existem segmentos da economia que enfrentam problemas que podem respingar no emprego, na opinião de Cosenza. Nessa lista de segmentos críticos estão a indústria automobilística, a indústria do petróleo e a construção civil. "Não esperamos mudanças que afetem o emprego em geral."
Mas uma pesquisa realizada pela Boa Vista SCPC com cerca de mil inadimplentes no último trimestre do ano passado para traçar o perfil de quem deixou de pagar dívidas mostra que o desemprego, com 36% das respostas, continua a ser o principal fator que explica o aumento do calote, seguido pelo descontrole financeiro (28%).
Fonte:Estadão
UGT - União Geral dos Trabalhadores