17/12/2014
A piora do cenário econômico mundial ocorre num momento de dificuldade para o Brasil. A economia brasileira enfrenta uma série de desequilíbrios na área fiscal e no setor externo, num cenário composto por baixo crescimento e inflação bastante pressionada.
Por ora, não há sinais de que a crise russa possa contaminar outros países. Até agora, a turbulência só adicionou mais nervosismo ao mercado, que está de olho na possibilidade de alta dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), no escândalo da Petrobrás e na piora das contas públicas. Nos 12 meses até outubro, o déficit nominal foi de 5% em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) o pior resultado nos últimos 11 anos. Esse resultado mostra que o valor das despesas do governo supera amplamente as receitas, já contabilizando o pagamento dos juros. Para efeito de comparação, em 2010, o déficit nominal era de 2,48% do PIB.
A piora na área fiscal já fez com que o Brasil entrasse no radar das agências de classificação de risco. Em setembro, a Moody's passou a perspectiva da nota brasileira de estável para negativa. Em março deste ano, a Standard & Poor's (S&P) reduziu o rating brasileiro para BBB-, o menor possível entre os países com grau de investimento.
"O agravamento da situação fiscal que ocorreu nos últimos anos fragilizou a economia brasileira, não apenas levando ao baixo crescimento, mas trouxe uma consequência adicional: o Brasil ficou mais sensível ao cenário externo", afirma Marcos Lisboa, vice-presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica.
No setor externo - outro ponto de fragilidade do País -, o déficit em transações correntes chegou a 3,74% do PIB entre janeiro e outubro deste ano, o que indica uma elevada necessidade de financiamento externo.
A expectativa futura com o cenário interno também não ajuda. Há dúvidas com relação à condução da política econômica no segundo governo Dilma Rousseff, embora ela já tenha nomeado Joaquim Levy para o cargo de ministro da Fazenda. Com perfil ortodoxo, a nomeação de Levy foi bem recebida pelo mercado.
"Se uma nova política macroeconômica for colocada em prática a partir de 2015, uma parte importante das apreensões pode desaparecer, mas, no momento, o que existe é apenas uma expectativa", diz José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
Diante de tantas incertezas, a deterioração de uma economia considerada emergente acaba afetando países de mesmo grau de desenvolvimento considerados frágeis. "A Rússia deveria ter sido o principal risco externo na tela brasileira, não porque a economia brasileira tenha qualquer semelhança com a russa, mas porque, quando um grande país emergente começa a dar sinais ruins, leva todo mundo junto", diz Monica de Bolle, diretora da consultoria Galanto.
Fonte: Estadão
UGT - União Geral dos Trabalhadores