21/11/2014
Samuel Klein, o homem que fundou as Casas Bahia e popularizou as compras a pequenas prestações no Brasil, morreu na manhã desta quinta (20) aos 91 anos em São Paulo por insuficiência respiratória. O empresário estava internado havia 15 dias no Hospital Albert Einstein.
Nascido em 1923, na Polônia, Klein teve uma infância de privação numa Europa ainda em reconstrução após a Primeira Guerra Mundial. Os pais, sem posses, tiveram nove filhos, e Klein só pôde cursar os primeiros quatro anos do ensino fundamental.
Com o início da Segunda Guerra, a família, judia, sofreu com a perseguição nazista. Pouco depois, em 1942, pais e filhos foram presos. A família foi separada. Klein, o irmão mais novo e o pai foram levados a um campo de trabalhos forçados; a mãe e os outros irmãos, encaminhados ao campo de extermínio de Treblinka, onde ela e a maioria deles morreriam.
Klein passou dois anos no campo de concentração de Majdanek. Fugiu em 1944, permanecendo na Polônia.
Terminada a guerra, foi procurar o pai na Alemanha. Aprendeu o ofício de marceneiro, mas logo percebeu que ganharia mais atendendo a necessidades das tropas aliadas: vendia vodca a russos e cigarros a americanos.
Foi assim que juntou algum dinheiro para deixar a Alemanha, onde não via perspectiva de melhorar de vida. Em 1951, partiu para a América do Sul com a mulher, Anna, e o Michael, 2 anos, o primeiro de quatro filhos. Os outros três nasceriam no Brasil: Saul, Eva e Oscar (este último, também falecido).
Depois de uma experiência fracassada na Bolívia, chegaram ao Brasil em 1952. Klein tinha uma tia no Rio de Janeiro, mas preferiu morar em São Caetano do Sul (SP).
O dinheiro, cerca de US$ 6.000, foi suficiente para comprar uma casa e uma carroça. O meio de transporte veio com um cavalo e, mais importante, uma lista com 200 fregueses do mascate que passara o negócio adiante.
Com essa estrutura precária e sem falar português, começou a revender cobertores e toalhas aos nordestinos que chegavam à região do ABC para trabalhar na nascente indústria automobilística.
Foi só em 1957, quando multiplicou por dez a clientela, que abriu "o primeiro loja", como dizia, trocando o gênero dos substantivos com seu sotaque carregado.
Os fregueses, chamados de "baianos" pelos paulistas, deram o mote para o estabelecimento: Casa Bahia. O singular logo teria que ser corrigido para refletir o número crescente de lojas --são mais de 500 unidades em 15 Estados e no Distrito Federal.
Samuel Klein se tornou o rei do comércio varejista popular muito antes de a classe C entrar para a ordem do dia. Mais do que a venda de produtos para o lar, fez fortuna com o crediário, que era liberado mesmo para quem tivesse nome sujo na praça.
Depois da forte expansão nos anos 90, com sucessivas aquisições de redes regionais, em 2009 foi a vez de as Casas Bahia virarem alvo. Já sob a gestão de Michael Klein, o controle da empresa foi adquirido pelo Grupo Pão de Açúcar, criando um grupo de R$ 40 bilhões.
Samuel Klein gostava do mar, de que desfrutava em um iate de 61 pés. Com exceção dessa extravagância, era um homem simples, que trabalhava de sandálias, quando não tinha compromissos externos. Por mais de cinco décadas, teve dedicação total às Casas Bahia.
Fonte: Folha de S.Paulo
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