13/11/2014
O governo paulista está responsabilizando os moradores sem caixa-d'água pela rotina de torneiras secas durante as madrugadas em diferentes pontos da Grande SP.
O Estado vive hoje a maior crise hídrica já registrada e, para economizar água, o governo decidiu reduzir a pressão na rede de distribuição.
Quanto menor a pressão, menor a quantidade de água que se perde pelos canos.
Por causa dessa medida, que segundo a Sabesp atinge até 2% da população (400 mil pessoas), residências em diferentes pontos das cidades têm ficado sem água entre o final da tarde e o início da manhã.
Nesta semana, o governo afirmou que essa redução de pressão será permanente.
Ontem (12/11), em sessão da CPI da Sabesp, na Câmara Municipal, o secretário estadual Mauro Arce (Recursos Hídricos) disse que o problema da falta de água "nasce principalmente na falta de atendimento" a uma norma técnica da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).
Na interpretação do governo, essa regulamentação obriga as pessoas a terem uma caixa-d'água em seus imóveis para permitir o abastecimento por 24 horas.
O texto da norma, entretanto, não é tão taxativo. Os edifícios são realmente obrigados a instalarem caixas-d'água para um dia inteiro de consumo. Mas, para casas de menor porte, existe apenas uma recomendação de que sejam instalados reservatórios de 500 litros.
Uma caixa-d'água com essa capacidade abastece uma família de três a quatro pessoas por 24 horas. Uma unidade custa cerca de R$ 360.
Após o depoimento na Câmara, ao ser questionado se o problema da falta de água ocorria pela ausência de caixas-d'água nas casas, o secretário disse: "Exatamente. [O problema] é a falta de caixa adequada. Muitas vezes tem caixa, mas não adequada".
Na Vila Barbosa, na zona norte, o motorista Maione Souza, 25, se disse surpreso com essa cobrança do governo. "Ninguém me avisou. Aí avisam isso só agora."
Ele e a mulher, Juliana, vivem numa casa ainda em construção, sem caixa-d'água. Sem reserva, ficam sem água com frequência a partir das 18h. "Acabamos estocando em garrafas e baldes para a noite", disse Maione.
O discurso sobre a falta de caixa-d'água nas casas vem sendo repetido por membros do governo Geraldo Alckmin (PSDB) para explicar as reclamações de torneiras secas.
Essa redução de pressão na rede da Sabesp, segundo o governo do Estado, é uma medida antiga, que vem sendo feita desde 2007.
Na sessão de ontem, a gestão da crise hídrica recebeu críticas dos membros da CPI.
O presidente da comissão, vereador Laércio Benko (PHS), também candidato derrotado ao governo do Estado na eleição de outubro, disse que caberia à Sabesp financiar a compra de caixa-d'água em áreas periféricas.
O vereador Nabil Bonduki (PT) voltou a cobrar da Sabesp um plano de contingência, caso as chuvas do próximo verão voltem a ser baixas.
O secretário saiu em defesa do governo. "Reduzimos a retirada de água do sistema Cantareira (...), e a população continua abastecida". Informada sobre as declarações do secretário, a assessoria do governador não se manifestou.
Fonte: Folha de S.Paulo
UGT - União Geral dos Trabalhadores