30/09/2014
As declarações homofóbicas feitas no debate de presidenciáveis, domingo na Record, pelo candidato à Presidência do PRTB Levy Fidelix provocaram reações de repúdio de entidades da sociedade organizada. Durante o embate na TV, Levy disse que gays precisam de ‘ajuda psicológica’. Ontem, a Ordem dos Advogados do Brasil, OAB, ingressou com ação pedindo a cassação de sua candidatura ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
No Facebook, um grupo de mais de 6 mil pessoas coleta dados pessoais para formalizar denúncia coletiva contra o candidato à Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos do governo federal. Preocupado com as repercussões, Fidelix afirmou ontem que pedirá proteção à Polícia Federal.
No debate, nenhum dos candidatos contestou Fidelix imediatamente. Mas ontem, diante da grande repercussão do caso nas redes sociais e na imprensa internacional, Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB), Marina Silva (PSB) e Eduardo Jorge (PV) criticaram a postura homofóbica do candidato do PRTB.
A candidata Luciana Genro e o deputado federal Jean Wyllys, do Psol, protocolaram ação no TSE, pedindo multa para o integrante do PRTB por incitação ao ódio e à violência. A presidenta Dilma defendeu a criminalização da homofobia, Aécio classificou a fala como “sem sentido e equivocada”, e Marina indicou que seu partido também estuda entrar na Justiça.
A declaração de Levy surgiu a partir de uma pergunta de Luciana Genro (Psol) sobre a violência contra a população LGBT. “O Brasil é campeão de morte da comunidade LGBT. Por que que as pessoas que defendem tanto a família se recusam a reconhecer como família um casal do mesmo sexo?”, indagou a presidenciável.
“Tenho 62 anos e, pelo que vi na vida, dois iguais não fazem filho. E digo mais: me desculpe, mas aparelho excretor não reproduz. Luciana (Genro), você já imaginou que o Brasil tem 200 milhões de habitantes. Se começarmos a estimular isso aí (casamentos entre homossexuais) daqui a pouquinho vai reduzir pra 100.
Então, gente, vamos ter coragem, nós somos maioria, vamos enfrentar essa minoria . Vamos enfrentar, não ter medo de dizer que sou pai, mamãe, vovô. E o mais importante é que esses, que têm esses problemas, realmente sejam atendidos no plano psicológico e afetivo mas bem longe da gente, bem longe mesmo por aqui não dá”, disse Levy.
“Uma fala como essa, vinda de um político, legitima a violência homofóbica que sofri e à qual está exposta toda comunidade LGBT”, opinou o antropólogo João Batista Júnior João, que conta ter sido vítima de tentativa de humilhação quando, em 2011, foi expulso de um cinema em Copacabana depois de beijar seu namorado.
Um dos jornais mais tradicionais do mundo, o britânico ‘The Guardian’ classificou as declarações de Fidelix como marco de uma “pobre noite para a democracia e a tolerância brasileira”. A publicação afirmou ainda que as declarações homofóbicas não foram imediatamente repudiadas por nenhum dos três candidatos que lideram as pesquisas: “Os comentários passaram despercebidos por Dilma, Marina e Aécio, mas logo dominaram as discussões das redes sociais. O incidente levantou o desafio de como manter uma campanha justa com sete candidatos”.
Houve vozes de apoio nas redes sociais. Controverso apoiador de causas homofóbicas, Silas Malafaia, pastor líder da Assembleia de Deus, escreveu no Twitter que ia “dormir rindo”. A página de Fidelix no Facebook recebeu mais de 7 mil curtidas só ontem.
Fidelix disputa sua décima primeira eleição. Desde 1986, já foi candidato a deputado estadual, federal, vereador, prefeito, governador, e é candidato à Presidência pela segunda vez. Somando todos os pleitos até agora, teve apenas 120 mil votos.
Fonte: Ig
UGT - União Geral dos Trabalhadores