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Fundo de pensão dos Correios perde R$ 200 mi com calote argentino


07/08/2014

O calote da dívida argentina vai afetar a poupança dos carteiros que contribuem para a aposentadoria por meio do Postalis, o fundo de pensão dos Correios. Nesta semana, a fundação foi comunicada de uma perda de R$ 200 milhões em um fundo de investimentos, administrado pelo banco BNY Mellon, que tinha aplicações em títulos privados argentinos. 

As perdas se referem não somente ao fato de a Argentina ter suspendido o pagamento de sua dívida, mas também por causa de algumas operações que podem ter sido superfaturadas em US$ 79 milhões. Há suspeita de fraude no fundo.

 

Chamado de Sovereign, o fundo tem quase R$ 400 milhões em aplicações. Ele foi criado pelo Postalis, entre os anos de 2006 e 2008, para investir em títulos públicos da dívida externa brasileira. Uma série de irregularidades na gestão do fundo, na época sob responsabilidade da extinta empresa de administração de recursos Atlântica, colocou o patrimônio em risco. Os gestores compraram títulos privados argentinos com alto risco de crédito. Segundo o Postalis, essa compra foi feita sem sua autorização. 

 

Em junho, reportagem do Estado mostrou que o fundo de pensão admite em ação judicial na Justiça de São Paulo que pode perder todo o patrimônio do Sovereign. A fundação alega que não sabe o tamanho do rombo e que registrava em seu balanço apenas o que lhe era informado pelo administrador, o BNY. 

 

No fim da noite de terça-feira, no entanto, o rombo começou a ser conhecido. O BNY Mellon enviou um fato relevante à Comissão de Valores Mobiliários informando valores superfaturados na compra dos títulos argentinos. Em sua diligência, o BNY apurou que houve um pagamento excedente de US$ 79 milhões, ou R$ 180 milhões, sobre o valor efetivo da dívida adquirida. A apuração desses fatos chega cinco anos depois que os órgãos reguladores americanos constataram os primeiros indícios de fraudes. 

 

O BNY informou também à CVM que fez a provisão para perdas de 51,4% do patrimônio do fundo Sovereign por dois motivos: a suspensão do pagamento da dívida argentina, que era uma espécie de garantia para os títulos que estavam no fundo, e também por causa da mudança na metodologia de avaliação de alguns títulos. Na prática, isso significa que, mesmo que a Argentina resolva seus problemas e volte a pagar sua dívida externa, o fundo pertencente ao Postalis terá ainda de avaliar as perdas com os US$ 79 milhões apontados pelo BNY. 

 

Para o fundo de aposentadoria dos funcionários dos Correios, o prejuízo com as provisões anunciadas pelo BNY Mellon é significativo e representa quase 2,5% do total dos R$ 8 bilhões em patrimônio da fundação. Se o Postalis perder tudo o que aplicou no exterior a perda será de quase 5% do patrimônio.

 

O prejuízo anunciado pelo BNY terá de ser reconhecido no balanço do Postalis deste ano e podem causar novo déficit. Cerca de 80 mil funcionários dos Correios ligados à fundação já estão fazendo pagamentos extras por déficits registrados há alguns anos. Em 2012, foi R$ 1 bilhão. Os carteiros pagam pelo menos R$ 5,90 a mais nas mensalidades, a depender de seu salário, por causa disso. E esse pagamento é por tempo indeterminado. Os próprios Correios, como patrocinadores, gastam R$ 24 milhões por ano para cobrir o déficit de 2012. 

 

Em 2013, o Postalis apresentou nova conta negativa de quase R$ 1 bilhão, mas por causa de mudanças nas regras talvez não precise repassar o prejuízo. 

 

Até o fechamento desta matéria, a fundação não havia se pronunciado. A assessoria de imprensa informou que colocaria um comunicado em seu site, mas ele estava fora do ar.

 

Fonte: Estadão

 


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