23/10/2024
Fomos surpreendidos com a notícia de que os ministérios da Fazenda e do Planejamento defendem cortes no seguro-desemprego e no valor da multa por demissão sem justa causa.
A proposta inclui reduzir o direito do trabalhador à multa de
40% do FGTS nas demissões sem justa causa e o redirecionamento de parte dos
recursos dela provenientes para o seguro-desemprego.
A equipe econômica acena também com retrocessos nas regras do
abono salarial e do Benefício por Prestação Continuada (BCP), que deixaria de
ser reajustado de acordo com o salário-mínimo. Deste modo, o valor do BPC,
atribuído aos idosos pobres e desamparados, seria inferior ao salário-mínimo.
Hoje, isto é vedado pela Constituição, de forma que a alteração requer emenda
constitucional (PEC).
Já vimos este filme e o final não foi nada bom. Em 2014, a
equipe econômica do governo Dilma propôs uma série de ajustes na economia, que
conduziram o Brasil a uma situação de recessão e desemprego. O Governo perdeu
sua base social, viu corroer sua popularidade e abriu espaço para essa agenda
ser radicalizada nos Governos de Temer e Bolsonaro.
Com a alegação de combater fraudes e distorções, as Medidas
Provisórias 664 e 665, tal como agora está sendo feito, foram implantadas sem
discussão com a sociedade e com as centrais sindicais, alterando as regras para
o seguro-desemprego, abono salarial, pensão por morte, auxílio-doença e
seguro-defeso dos pescadores artesanais.
As Centrais Sindicais atuam historicamente no combate ao mau
uso de recursos públicos e reconhecem e atestam a necessidade de fiscalização,
transparência, bem como maior controle social na gestão, mas consideram um
equívoco que a correção dessas distorções pontuais se dê por meio de ações que
penalizem todos os trabalhadores, restringindo ou retirando direitos já
conquistados.
Não fomos chamados para opinar e soubemos pela imprensa de
mais esta ameaça de retirada de direito. Mas, como representantes dos
trabalhadores, reivindicamos nosso espaço e afirmamos que não é justo abalar a
segurança financeira de quem já está desempregado no mercado formal, de quem
está afastado para buscar qualificação ou dos pescadores no período do chamado
defeso.
Tais propostas dos Ministérios de Fernando Haddad e Simone
Tebet, assentam-se na falácia neoliberal que privilegia o mercado financeiro em
detrimento do desenvolvimento social e inclusivo. É uma visão que considera
“gasto” investimentos importantes para o povo brasileiro.
Reiteramos nossa luta para que os ricos paguem a conta da
crise através de um imposto sobre as grandes fortunas, taxação dos dividendos,
das remessas de lucros ao exterior pelo capital estrangeiro e da revogação dos
absurdos e volumosos benefícios fiscais concedidos às Petroleiras
Internacionais.
Esperamos do presidente Lula a sensibilidade social
condizente com sua história. Que ele não aprove a redução do seguro-desemprego
e convoque as centrais sindicais, representantes dos trabalhadores, para a
retomada de um diálogo democrático e franco.
São Paulo, 16 de outubro de 2024
Miguel Torres, Presidente da Força Sindical
Ricardo Patah, Presidente da UGT (União Geral dos
Trabalhadores)
Adilson Araújo, Presidente da CTB (Central dos
Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)
Moacyr Roberto Tesch Auersvald, Presidente da NCST
(Nova Central Sindical de Trabalhadores)
Antonio Neto, Presidente da CSB (Central dos Sindicatos
Brasileiros)
UGT - União Geral dos Trabalhadores