26/03/2014
Autonomia, igualdade de oportunidades, fim da violência e ações contra qualquer tipo de discriminação marcam mesas de debate da “II Conferência Nacional de Gênero e Raça da UGT”, nesta quarta-feira, 26/03, em Itapecerica da Serra, SP, data que foi bastante comemorada pela vitória da cota 678 para os serviços públicos, aprovada hoje, pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), na Câmara. Evento que contou com a participação do Movimento Negro e Inspir, mostrando que em diferentes culturas, das africanas à americana, urge atentar ao cuidado com a mulher trabalhadora e em especial com a raça negra.
Cássia Bufelli, coordenadora do evento e secretária da Mulher da UGT, iniciou as atividades destacando a falta de creches, a necessidade de adequação dos horários das mães trabalhadoras. “Qual o nosso papel nesse contexto? Temos que procurar de diversas formas, parar essa diversidade que reflete no ambiente de trabalho”, adverte.
As mulheres conquistaram a política de cotas, que estabelece que as mulheres ocupem 30% nos cargos de direção nas empresas, entidades sindicais ou espaços políticos. Mas ainda é preciso mais. Mais autonomia na economia, no movimento sindical, na política e a consequente oportunidade de qualificação.
Ana Cristina dos Santos Duarte, também coordenadora da II Conferência e secretária da Diversidade Humana da UGT, pontuou a necessidade de parcerias e que tipo de parceiros o movimento está buscando para isso.
Na primeira parte do dia a mesa discutiu Autonomia Econômica, Política e Sindical das Mulheres. Neuza Tito, secretária adjunta de Políticas de Trabalho e Autonomia Econômica das Mulheres da Presidência da República (SPM), falou sobre Autonomia Econômica. Para ela, todo o desenvolvimento deve levar em consideração as pessoas para que ele não passe a ser excludente. E o espaço ocupado pelas mulheres ainda é esparso. “As políticas públicas têm que estar estruturadas, reconhecendo que a desigualdade existe. É preciso ter políticas públicas como instrumento e superação. O estado não pode ser neutro”, ressalta.
Projetos da SPM, como cursos de qualificação são algumas das ações para capacitar a mulher para o mercado de trabalho e alcançar a liderança. São poucas as mulheres que têm autonomia para manter-se em cargos de diretoria, devido ao cuidado que necessita ter em casa e a maternidade. E a maioria das mulheres com cargos eletivos ou dirigentes são solteiras. Muitas vão para o mercado informal, com baixa remuneração e sem reconhecimento. “Com a PEC das Domésticas, houve uma alteração positiva”, acrescenta Neuza Tito.
A deputada estadual de SP, Elizabeth Sahão, apontou em que para uma autonomia política, é preciso investir na melhor capacitação. “A escolaridade da mulher terá reflexos positivos na autonomia feminina na política?”, convida a deputada a refletir.
Waldeli Melleiro, responsável por projetos sindicais da Fundação Friederich Ebert abordou a Autonomia Sindical. Apesar da luta do movimento sindical pela empoderamento feminino, Waldeli explica que os espaços sindicais não são acolhedores para as mulheres. “Há uma dificuldade de os homens cederem seu espaço. Ainda há muita disputa. É preciso ações afirmativas para superar a participação das mulheres. Participação igualitária de homens e mulheres nas direções sindicais”, argumenta como forma de mudar essa distribuição desigual de poder.
Ações contra a violência
O tráfico de pessoas e o combate à Violência contra a Mulher foram abordados na segunda mesa do dia, que trouxe a temática: Enfrentamento a todas as formas de violência contra mulher.
A partir de um DNA histórico do Brasil, constata-se o tráfico de pessoas, desde o tráfico negreiro escravo e exploração para diversos fins. E não e possível falar de tráfico de pessoas sem falar do componente racial. Na Europa falava-se das escravas brancas traficadas para exploração sexual. No Brasil, devido à cultura da escravidão foi por muito tempo natural considerar a exploração do escravo negro. “O Brasil foi o último a abolir o tráfico de escravos no mundo É uma problemática, uma medida que precisamos discutir, enfrentar e reconhecer para prevenir”, esclarece Claudia Luna da ONG Elas por Elas.
Nos EUA os negros lutaram muito para conquistar o direito ao voto, por exemplo. O Inspir (Instituto Sindical Interamericano pela Igualdade Racial) – que esteve representado por Jana Silverman - articula com as centrais brasileiras, orientações aos dirigentes sindicais para uma luta eficaz contra a discriminação. São muitos os problemas que devem ser enfrentados para poder mudar a humanidade.
“A dinâmica do tráfico é a da exploração do outro. Enquanto o outro me servir, vou utilizá-lo como se mercadoria fosse. Reduz-se a condição da pessoa à condição de coisa, a ela é atribuído um valor, como se fosse um produto”, explana Claudia Luna, ressaltando a importância de políticas públicas de enfrentamento ao tráfico de pessoas. E o movimento sindical, reconhecendo esses núcleos em cada estado, pode colaborar.
Mônica Mata Roma, secretária adjunta de Relações Internacionais da UGT, defende o papel do movimento sindical, de ator político e ajudar nas relações de famílias. “A OIT vai discutir o trabalho escravo este ano em uma de suas comissões e que o movimento sindical, quanto representante da classe trabalhadora, precisa estar lá, levando suas ideias e reivindicações.
São diversos os tipos de tráfico: humano, de órgãos, exploração sexual, drogas, seqüestros, entre outros. E tudo entra no parâmetro da violência. Dra. Floralice do Carmo, delegada de polícia, da Delegacia de Defesa da Mulher, em Embu das Artes, SP, argumenta que o ser humano está em estado de alerta, devido à crescente onda de crimes, somando-se a isso, ainda há a violência dentro de casa, nos locais de trabalho ou no convívio com a sociedade. Mas é preciso saber denunciar para contribuir com a queda dos índices de violência causados por falta de denúncia, pela cultura do medo. Procurar os serviços de proteção à vitima e à testemunha é muito importante.
Mundo do trabalho
A mesa de Igualdade de Oportunidades no Mundo do Trabalho contou com a presença de Edna Maria de Andrade, secretária da Mulher do Sindicato dos Motoristas Urbanos e Anexos de São Paulo. Edna representa a mulher em um ambiente ainda muito masculino, que é o dos condutores, e como forma de ajudar no seu trabalho, Cássia Bufelli propõe que os Grupos de Trabalho da Conferência criem uma pauta unificada na questão de gênero e raça, como forma de pontuar as propostas na orientação dos sindicatos filiados, sem que se esbarre com dificuldades.
E para finalizar as atividades, o grupo Contra todas as formas de discriminação teve a temática abordada por Dojival Vieira, diretor e editor da Afropress. Há um despreparo da sociedade em perceber que não é questão apenas de preconceito, mas trata-se de crime e as pessoas tratam do problema como se fosse do outro. “Temos que entrar no problema e fazer parte do problema. É preciso nos reeducar para essas coisas e fazer com que a realidade se transforme. Espero deixar aqui essa mensagem: Acordem!”.
Fernando Quaresma, presidente da Associação da Parada LGBT de SP, presente na mesa, levantou a questão LGBT e Discriminação no Mercado de Trabalho, ainda há muita homofobia.
Mariana Veltri – imprensa UGT
UGT - União Geral dos Trabalhadores