06/12/2013
*Laerte Teixeira da Costa
Há homens que nascem com seus destinos traçados. Ao olhar o lugar onde nasceu, em uma tribo no interior da África do Sul, negro, numa sociedade segregacionista até a medula, entre os grilhões do Apartheid, é quase inacreditável que Nelson Mandela tenha mudado o seu destino e o de milhões de pessoas à sua volta.
Em 18 de julho de 1918, nasceu Rolihlahla. Em 1925, ao entrar na escola, uma professora, que tinha o costume de apelidar as crianças com nomes ingleses, passou a chamá-lo de Nelson, em homenagem ao Almirante Horatio Nelson. O nome pegou e ele seria um dos homens mais galardoados no século 20, certamente um dos maiores líderes morais de nosso tempo.
Dizem que para fugir de um casamento indesejado, Mandela mudou-se para Johanesburgo, onde passou a trabalhar num escritório de advocacia. Entrou, em 1943, para o curso de direito, mas sua permanência na faculdade foi tumultuada. Envolveu-se em greves, foi expulso e sua licença para advogar só seria recebida em 1952.
Filiou-se ao Congresso Nacional Africano (CNA) em 1944 e, junto com vários companheiros, fundou a Liga da Juventude do CNA (Ancyl). O CNA começava a sua resistência pacífica contra o Apartheid, oficializado pelo governo em 1948. Chegou a ser preso e solto com outros manifestantes em 1956.
No final da década de 50, o CNA percebe que a resistência pacífica é insuficiente e, já no início dos anos 60, cria o primeiro braço armado. Desde que entrou para a Faculdade de Direito e para o CNA, o envolvimento de Mandela tornou-se cada vez maior. Popular, torna-se secretário nacional da Liga da Juventude e executivo nacional do CNA. O mundo condena o Apartheid e seus líderes passam a ter visibilidade.
Mandela dá entrevistas, encontra-se com atores negros, faz discursos, lança campanhas, viaja pela África e passa a ser muito conhecido. É um líder perigoso, na avaliação do governo branco e racista da África do Sul. Começam as prisões e seus julgamentos, com imputações cada vez mais graves.
Numa de suas defesas, desafiando o governo a enforcá-lo, Mandela falou por várias horas e concluiu: “Durante a minha vida, dediquei-me a essa luta do povo africano. Lutei contra a dominação branca, lutei contra a dominação negra. Acalentei o ideal de uma sociedade livre e democrática na qual as pessoas vivam juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal para o qual espero viver e realizar. Mas, se for preciso, é um ideal pelo qual estou disposto a morrer”.
Mandela se tornou o famoso prisioneiro da Ilha Robben, cela 466/64, com dimensões reduzidíssimas e apenas uma janela de 30 cm. Esteve em outras prisões e, a partir de 1985, em cárcere isolado, tomou a decisão de agir por si mesmo, sem consultar ninguém. Enquanto isso, o CNA incendiava o país.
O resto da história é contemporâneo. Mandela negociou sua liberdade, venceu as oposições, branca e negra, refundou a África do Sul, recebeu o Prêmio Nobel da Paz, tornou-se o primeiro presidente negro e mostrou-se um estadista seguro e capaz. Morreu em 05/12/2013.
*Vice-presidente da UGT, Secretário de Políticas Sociais da CSA (Confederação Sindical das Américas)
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