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Defensivos agrícolas permanecem mais de 100 anos no meio ambiente


30/10/2012

30/10/2012

Falando sobre sua visão em relação ao uso indiscriminado de agrotóxicos, a professora Cláudia Saleme, pesquisadora e gestora ambiental do Centro de Estudos Avançados na Gestão Pública e Privada, concedeu uma entrevista para o site da União Geral dos Trabalhadores (UGT).

UGT - Os agrotóxicos são heróis ou vilões para os consumidores brasileiros?

Claudia - Esta pergunta depende de vários fatores, inclusive da visão do profissional e sua área de atuação. A falta de conhecimento e informação sobre o assunto não permite ao consumidor considerar se o uso dos agrotóxicos e seus efeitos são de cunho negativo ou positivo. Esta discussão é de amplitude complexa e profunda. Como Gestora Ambiental uma das preocupações é o desequilíbrio ambiental em todo o processo da biogeocenose, pois existe o efeito de intoxicação direta e indireta dentro da cadeia produtiva. Neste processo de interação do ambiente com as populações presentes que devem continuar num sistema dinâmico e equilibrado existirão intoxicações no ambiente e humana ao longo de gerações. Mas quanto à necessidade de abastecimento populacional devido ao crescimento demográfico é necessária para evitar a escassez dos alimentos.

UGT - Segundo a Embrapa, no mundo são consumidos, aproximadamente, 2,5 milhões de toneladas de agrotóxico e só no Brasil esse consumo tem sido superior a 300 mil toneladas do produto. Como você avalia essa situação?

Claudia - É um consumo alarmante se pensarmos na biodiversidade brasileira e consequências no uso abusivo de produtos químicos. As regiões brasileiras são diferentes, deve-se utilizar uma metodologia adequada caracterizando a necessidade da utilização de produto químico baseado num planejamento regional de acordo com a cultura de plantio, tipo de solo, preservação dos aquíferos, etc. A participação e o envolvimento da sociedade local tanto na execução dos trabalhos quanto na aquisição de conhecimento é fundamental. Alguns defensivos agrícolas podem permanecer por mais de 100 anos no meio ambiente além dos efeitos nocivos ao organismo humano.

UGT - Como entidade de classe, a UGT vem encampando medidas para enfrentamento ao uso indiscriminado de agrotóxicos e, consequentemente, para melhoria da alimentação que a população consome. Como você vê essa iniciativa?

Claudia - Esta iniciativa é extremamente necessária, porém não é tão simples. Levar à população informação é um dos princípios de cidadania. Abordar sobre agrotóxicos precisa rever uma série de normas, leis, condutas de retaguarda com profissionais específicos e conhecedores de todo o ciclo da cadeia produtiva, inclusive verificar as orientações de um Toxicologista quanto aos efeitos nos trabalhadores e consumidores finais dos produtos.

UGT - Existe uma política de controle na utilização de agrotóxicos?

Sim. Existem legislações específicas que normatizam sobre os Agrotóxicos desde sua classificação, grau de toxicidade, periculosidade ambiental, cuidados na aplicação dos produtos, armazenamento, embalagens, uso adequado de equipamento de proteção individual, etc. Os agrotóxicos também conhecido como defensivos agrícolas foram desenvolvidos para vários tipos de culturas agrícolas no controle de pragas (insetos, doenças e plantas daninhas). Os produtos devem ser registrados, desta forma atesta sua qualidade. Inclusive o Ministério da Agricultura, em parceria com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), disponibiliza listas consultivas dos componentes que poderão ser utilizados na fabricação de agrotóxicos autorizados para importação. O registro dos agrotóxicos é fundamental para prevenir efeitos prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente.

Também podemos citar que a integração dos Ministérios da Agricultura, Saúde, Meio Ambiente e Trabalho de acordo com suas competências utilizam de mecanismos e instrumentos legais no combate ao uso indiscriminado e prejuízo no ambiente (humano e natural).

UGT - Como controlar a qualidade dos alimentos?

Claudia - Falar em qualidade de alimentos é preciso interagir numa cadeia holística compreendendo todo o processo produtivo, econômico, social, cultural e ambiental da sociedade, ou seja, desde a escolha do grão e região a ser plantada com foco na saúde humana do trabalhador local e consumidor final. Através dos alimentos adquirimos os nutrientes necessários à manutenção dos nossos órgãos e sistemas, porém o abuso de ingredientes desconhecidos e seus efeitos muitos deles ainda não comprovados intoxicam as células. Existem agrotóxicos como os organoclorados, com efeitos negativos gerando distúrbios dermatológicos, endócrinos, neurológicos, digestivos entre outros. A população precisa ser informada assim como os produtores é um direito de cidadão.

UGT - Os alimentos orgânicos podem ser produzidos em grande escala?

Claudia - Para que os alimentos sejam considerados orgânicos são necessários cuidados específicos, como: uso responsável do solo e grau de pureza, da água, ar e demais recursos naturais. Pesquisas e análises dos resíduos presentes, etc., sempre levando em consideração as relações sociais e culturais no desenvolvimento da área de plantio. De acordo com dados do Ministério da Agricultura hoje o Brasil ocupa posição de destaque na produção de orgânicos, encontra-se em processo de elaboração um Plano Nacional para produção Orgânica onde norteará provavelmente os critérios para produção em maior escala, como alternativa no Brasil.

UGT - Porque quando se fala de produtos que não agridem o meio ambiente ou que sejam saudáveis, seus preços finais são extremamente altos?

Claudia - Existem investimentos, pesquisas científicas e desenvolvimento de novas tecnologias, talvez ainda insuficientes que contribuam em políticas públicas específicas referentes a este assunto. O Brasil possui grandes áreas de plantio, porém desenvolver resultados econômicos agregando valores diferenciados na agricultura poderá ser uma das alternativas de transformação em produção à qualidade para algumas culturas produzidas por regiões.

UGT - Como um produto produzido sem o aditivo de defensivos agrícolas pode custar mais nas gôndolas dos supermercados?

Claudia - É simples. A produção com químicos é maior devido ao controle de pragas, numa escala em quantidade o valor econômico diminui. Para uma produção menor, onde a durabilidade do produto também é menor devido ao tempo da colheita, transporte, armazenamento, abastecimento, até chegar à mesa do consumidor final terá prejuízo na qualidade e quantidade de produção.

UGT - A agricultura familiar é uma saída que poderia suprir as necessidades alimentares de uma população do tamanho da brasileira?

Claudia - É um grande desafio. De acordo com dados da Embrapa os pequenos e médios produtores representam a maioria de produtores rurais no Brasil. Assim como abordei anteriormente nossas regiões são diferentes, é importante voltar o olhar para o produtor que se encontra distante, pois ele é um grande gerenciador de negócios, contribuindo na geração de renda do município e prestação de serviços e abastecimento da população. Eles conhecem como diversificar o cultivo de novos produtos para diminuir os custos. São pessoas do campo que vivem da natureza usufruindo os bens disponíveis, portanto um cuidado maior para adequar necessidades e transformação dos processos produtivos levando em conta o desenvolvimento sustentável da região.

UGT - De que forma entidades como a UGT podem contribuir para melhorar a qualidade dos produtos que vão a mesa do trabalhador e como é possível fiscalizar o uso indiscriminado desses produtos?

Claudia - Este é outro desafio. O Seminário é uma grande contribuição, mas existem outros mecanismos e instrumentos necessários neste processo.

• Levantamento local através de pesquisas científicas por região;

• Desenvolvimento de um Plano Avançado diferenciado para o Produtor: aquisição de conhecimento quanto ao uso responsável do solo, bioeconomia, valorização das tecnologias muitas delas criadas pelos produtores, agregando valores para o município;

• Criar Monitores Ambientais com capacidade de auxiliar em treinamentos (educação, meio ambiente, saúde e alimentação) e contribuir na fiscalização de acordo com as Leis vigentes no País;

• Inclusão Municipal na Agenda Verde das ações dos produtores rurais como contribuição de Responsabilidade Social;

• Projeto para capacitação dos trabalhadores e uso adequado de EPI's;

• Conhecer e alinhar os projetos existentes nos municípios no contexto de agricultura familiar, orgânica e alternativa para futuras parcerias;


Por Fábio Ramalho - Redação UGT


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