27/06/2011
27/06/2011
Aos 52 anos, Francisco Freitas é nascido no Ceará. Sua história de vida se iguala a trajetória de muitos nordestinos que deixaram sua terra natal para tentar a sorte em cidades grandes como São Paulo. Chegou a Terra da Garoa" em 1974 e, com 15 anos, tornou-se metalúrgico em Santo André. Aos 22 anos já era presidente da Comissão de Funcionários da fábrica Santa Marina de Mauá, do setor de vidros. Militante do PCdoB, Freitas foi candidato a deputado estadual no pleito de 86. No ano seguinte, foi para a Europa, onde permaneceu por um ano e meio trabalhando na Inglaterra como lavador de pratos para sustentar a família que havia ficado no Brasil. Há 12 anos, Francisco vive no Japão, neste período trabalhou na montadora Suzuki e, atualmente, exerce a função de presidente da comissão de trabalhadores estrangeiros do Sindicato dos metalúrgicos de Maquinários e Informáticas do Japão (JMIU).
O dirigente sindical que atua focado no trabalho de ampliar os direitos dos trabalhadores brasileiros e tem, entre os projetos em tramitação, a criação de um balcão do trabalhador nas repartições consulares, proposta que pode ser estendida a outras embaixadas. Nesse período Freitas vivenciou as conseqüências da crise econômica mundial de 2008, além das catástrofes do tsunami e do terremoto que devastaram parte do país em março deste ano. Como ativista encampou projetos sociais de ajuda humanitária as vítima deste desastre natural e luta pela desocupação das bases militares que permanecem no país desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
Em entrevista ao site da UGT Freitas explicou como é fazer sindicalismo num país cultural e socialmente tão diferente do Brasil.
UGT - Em 2000, quando você chegou ao Japão, como era a situação vivida pelos brasileiros e como está hoje?
Na época eu vi que os trabalhadores brasileiros não tinham férias remuneradas, as mulheres eram tratadas como "lixo" e mesmo gestantes eram obrigadas a pegar peso e faziam serviços perigosos. Quando vi essa realidade, usei minha experiência do movimento sindical brasileiro para lutar pelos direitos dos trabalhadores estrangeiros. Ingressei no JMIU e, a partir daí começamos a organizar os trabalhadores.
UGT - O que mudou nesse período?
Infelizmente a exploração continua, mas as empresas já respeitam os direitos sociais dos trabalhadores. Mas uma conquista importante foi que em 2005 me encontrei com o então presidente lula e solicitei para que houvesse um acordo na área da Previdência brasileira e japonesa, para que o trabalhador, quando for se aposentar, não perca os anos de contribuição que fez em nenhum dos dois países. A negociação durou cinco anos e foi assinada em 29 de julho de 2010.
UGT - Porque você acha que é tão difícil militar no sindicalismo no Japão?
Porque é difícil fazer sindicalismo num país conservador e preconceituoso, pois os estrangeiros lá só são "vistos" e "úteis", segundo eles, para a realização de trabalhos sujos, pesados e perigosos, ou seja, aquele que ninguém quer fazer.
UGT - Como é o movimento sindical no Japão?
Diferente do movimento sindical brasileiro, para os japoneses não existe bandeira de luta unitária. Aqui, a UGT tem bandeiras comuns para todas as centras como: as questões referentes à redução da jornada de trabalho e o fim do fato previdenciário. É fato que para o trabalhador japonês seu inimigo é o patronato, mas as duas federações que agregam as entidades de classe não se juntam para pressionar o governo.
UGT - Nesse período de residência no Japão você passou pelas recentes tragédias do tsunami, terremoto e trabalhou com ajuda humanitária. Como foi essa experiência?
Criamos a campanha chamada Brasil solidário, que serviu para ajudar as vítimas da tragédia. A partir daí conseguimos o apoio de empresas como Banco do Brasil, Vale do Rio Doce, Petrobras, Caixa Econômica Federal, Bradesco e Itaú para desenvolvemos um trabalho de mapeamento nas províncias, visando levantar quais as reais necessidades dos desabrigados. Fizemos esse trabalho e constatamos que muita gente perdeu tudo. Fizemos a entrega de 400 bicicletas, materiais escolares,
entre outros.
UGT - O programa Brasil Solidário continua atuante?
Continua. O trabalho de levar conforto às vítimas dessa tragédia ainda é uma realidade, pois temos uma média de 28 mil pessoas que perderam suas vidas e, aproximadamente, sete mil desaparecidos e muitas famílias perderam tudo o que tinham.
UGT - Sabemos que os brasileiros que esperam conquistar melhorias de vida indo trabalhar no Japão não encontram vida fácil. Após essa sequencia de fatos houve alguma mudança nesse perfil?
Houve sim, principalmente em relação ao emprego porque as pessoas que foram obrigadas a deixar suas casas em suas devidas províncias, migraram para outras regiões e passaram a buscar novos empregos. Com isso, milhares de brasileiros perderam seus empregos e em torno de nove mil brasileiros já voltaram ao país.
UGT - Isso também é reflexo da ameaça nuclear de Fukushima?
Também, pois o Japão não oferece segurança, mais essa situação é um conjunto de fatores. Muitos trabalhadores já haviam deixado o Japão com a crise de 2008, que diminuiu muito o número de emprego para estrangeiros. Os salários caíram cerca de 40% em três anos, isso inviabilizou a permanência desses trabalhadores estrangeiros no país. Com o tsunami e o terremoto o desemprego aumenta e a radioatividade também influenciou, pois já existem restrições do consumo de alimentos.
UGT - Fukushima é uma nova Chernobyl?
Com certeza, pois a população já tem dúvidas do que podem ou não comer. No primeiro momento, o governo japonês, assim como o governo Soviético em 1986, escondeu a real situação do problema na usina nuclear. Hoje está provado que a cidade de Fukushima não poderá voltar a ser habitada pelos próximos 10 anos, ou seja, será uma cidade fantasma.
Por Fábio Ramalho - Da Redação UGT"
UGT - União Geral dos Trabalhadores