22/02/2011
22/02/2011
Recente pesquisa da Fundação Perseu Abramo em parceria com o SESC mostra que a cada 2 minutos 5 mulheres são agredidas de forma violenta no Brasil, um número preocupante embora seja menor que há dez anos. Já a Polícia de São Paulo quer entender por que o assassinato de mulheres vem aumentando ano a ano, enquanto os homicídios despencaram 78% na última década no Estado. Há quase 5 anos a Lei Maria da Penha está em vigor, mas a violência contra a mulher ainda é grande. Os crimes acontecem dentro de casa e são cometidos pelos companheiros em sua maioria. O que se questiona é se a causa se deve à emancipação feminina.
A pesquisa intitulada mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado" foi realizada em 25 Estados. Foram entrevistadas 2.365 mulheres e 1.181 homens com mais de 15 anos. Chegou-se ao resultado final fazendo uma projeção média para a população total. Confirmando uma problemática já constatada pela ONU como tendência mundial, a violência doméstica é a que mais faz vítimas.
E, segundo a pesquisa, já foi mais grave: há 10 anos, oito mulheres eram espancadas no mesmo intervalo de tempo.Quanto aos homens 8% admitem já ter agredido fisicamente uma mulher, 48% dizem ter um amigo ou conhecido que fizeram o mesmo e 25% têm parentes que agridem as companheiras.
"Muito vem da cultura machista: o homem desempregado não admite que a mulher esteja trabalhando e ele não. Isso é fator de violência", analisa Cleonice Caetano Souza, da Secretaria da Saúde e Segurança no Trabalho da UGT. Segundo a pesquisa, a violência doméstica, apesar de se passar no âmbito doméstico, é um problema social. No Brasil, 7,2 milhões de mulheres com mais de 15 anos já sofreram agressões, das quais 1,3 milhão nos 12 meses que antecederam a pesquisa.
Dos homens entrevistados, 2% declararam que "têm mulher que só aprende apanhando bastante". A pesquisa indicou que quem agride repete com frequência a agressão, o que demonstraria um padrão de comportamento e não uma exceção.
A Lei Maria da Penha despertou mais consciência na mulher com relação à proteção aos seus direitos, mas ainda é preciso orientá-las onde procurar ajuda. Os centros de apoio necessitam ter mais pessoas para o atendimento. O movimento sindical precisa estar mais presente, explicar melhor a legislação, trabalhar o próprio local de trabalho nas questões de saúde e segurança com o trabalhador.
"Há dificuldades em encaminhar as mulheres, muitas voltam para casa, porque ainda não temos abrigo o suficiente. As delegacias atendem apenas durante a semana, nos horários das 8h às 18h
a maioria das agressões acontece à noite ou aos fins de semanas, quando os homens mais bebem. E as denúncias devem ser feitas no ato da agressão", explica Cleonice Souza.
Por isso a necessidade de o movimento sindical trabalhar a questão da saúde, da segurança e da família. A começar pelo local de trabalho - o homem violento é reflexo do ambiente em que trabalha. "Quando eles passam por um estresse, despejam toda a sua frustração na mulher, que também teve um dia difícil, mas acaba sendo violentada", diz Cleonice Souza. Os filhos, que acabam vivenciando as agressões, desenvolvem uma cultura familiar de violência e acreditam que esse tipo de atitude faz parte do comportamento em família, gerando mais violência.
A UGT trabalha esta questão da mulher no local do trabalho junto com a Secretaria da Mulher e diversas ONGs, realizando palestras e debates com a sociedade para conscientizar o movimento sindical de passar informações a mulheres e homens e poder levar ao Ministério o que deve ser trabalhado. "O movimento sindical precisa ter um olhar mais crítico e acreditar na Lei Maria da Penha. A lei vale para os dois, tanto para o homem como para a mulher. Ela é contra a violência doméstica", salienta Cleonice.
Mariana Veltri, da redação da UGT"
UGT - União Geral dos Trabalhadores