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Concurso difunde implementação da cultura Afro-brasileira no currículo das redes oficiais de ensino


26/11/2010

Como parte da campanha de divulgação da Lei Federal 10.639 de 2003, que determina a inclusão da História da África e Cultura Afro-brasileira no currículo das redes oficiais de ensino fundamental e médio no Brasil, será realizada nesta sexta-feira (26/11) na Câmara Municipal de São Paulo, a premiação do concurso de redação Camélia da Liberdade 2010.

Voltado a alunos do ensino médio de escolas públicas, particulares e cursinhos pré-vestibulares, o concurso organizado pelo o Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP) teve como tema: João Cândido - 100 anos da Revolta da Chibata" e contou com a participação de 84 municípios, 70 escolas públicas, 8 escolas particulares, 2 cursinhos populares, 67 unidades da Fundação CASA e 4.140 alunos.

Os vencedores

Como muitos que sonham em terminar com as injustiças sociais, a vencedora do concurso de Redação Camélia da Liberdade 2010, descarrega suas emoções na escrita. Ana Carolina Gonçalves Elói, de 16 anos, que está no segundo ano do ensino médio, é filha única de um casal que trabalha na "roça" como ela mesma diz. Sua vida é levantar às 5 da manhã, viajar 9 km em perua do governo para chegar à Escola Estadual (E.E) Dr. Miguel Priante Calderaro, da pequena cidade, com 10,5 mil habitantes de Bernardino de Campos, região de Ourinhos.

"Muita aplicada", diz seu professor de História e orientador no Camélia, Valdeci Benedito Fernandes. Ele, como os demais professores que orientaram seus alunos vencedores em 2010, não sabia da existência da Lei Federal 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que determina a inclusão do tema História e Cultura Afro-Brasileira no currículo da rede oficial de ensino básico e médio. A base do concurso será agora seu projeto de pesquisa do curso de Pedagogia na UNESP.

Ana Carolina ainda cuida da casa, faz o almoço e passa suas horas livres escrevendo seu primeiro livro, "O Diário de um soldado", que já conta com 170 páginas. Seus escritores prediletos são Machado de Assis, Clarice Lispector e Paulo Coelho. "Vencer o concurso foi um grande presente, fiz aniversário em setembro e soube do resultado em outubro. A cidade está em festa. Meu nome está até na Praça em frente à prefeitura", conta emocionada. A jovem, que sonha concluir as faculdades de Biologia e Jornalismo, emendou: "Eu, que não sabia da existência da Lei e nada sobre João Cândido, aprendi muito com o tema do concurso. O que quero em minha vida é quebrar preconceitos e lutar para acabar com as injustiças."

Segundo colocado é de Fernandópolis

Romper barreiras, também faz parte da vida do segundo colocado, Vítor Hugo Santana Duarte, de 16 anos. Ele está no 2º ano do ensino médio da E.E Líbero de Almeida Silvares. Vitor vive com a mãe, vendedora de doces, e um irmão de 19 anos, em Fernandópolis, região de São José do Rio Preto. Ele conta que já sentiu o preconceito na pele: "Mas sempre passei por cima. Infelizmente, ainda na nossa sociedade, o negro é apenas aceitável", declara.

Vitor Hugo tomou o gosto pela literatura na 4ª série do ensino fundamental ao ler O Pequeno Príncipe. Anteriormente, ele não gostava de ler, "eu demorava muito para ler e tinha dificuldades para escrever". Hoje, como Ana Carolina, já está escrevendo sua própria obra. "Estou no segundo livro da série "Tailor Reing - O Mistério do Lago", faltam alguns ajustes para publicação."

O ano de 2010 para Vitor Hugo tem sido de vitórias. Ele foi o primeiro colocado do projeto Ser Autor, da Secretaria da Educação do Estado e tem sido motivo de orgulho para o pai que é pedreiro. Quanto ao Camélia da Liberdade, Vitor diz que se inspirou em Caio, vencedor do ano passado. "E como já conhecia um pouco do sofrimento dos negros me empenhei nas pesquisas sobre o tema. Estou feliz por tudo que aprendi e também pelo computador que receberei, porque ainda não tenho."

Limeira ficou com a terceira classificação

O sonho de cursar a Universidade de Educação Física, se formar professor, e saber se a mãe Lúcia Lourenço da Silva está viva e revê-la, faz parte do universo do 3º colocado, Guilherme Lourenço da Silva, de 18 anos, vencedor pela Fundação CASA, unidade Rio Tamias - Brás, na capital.

Guilherme e seus dois irmãos menores moram com seus avós maternos, por quem foram criados: Ivonete Lourenço da Silva e Paulo Martins Alves. A mãe sumiu, há 14 anos depois do nascimento de seu irmão mais novo. Ele, que também não conhece o pai, trabalha de servente de pedreiro. Quanto ao Camélia da Liberdade, Guilherme conta que se sentia desmotivado a escrever, mas se identificou com a história de João Cândido e de sua luta contra a opressão. Incentivado pelo professor de Português, Hércules (qual o sobrenome não se recorda), e pelas orientadoras Ana Carolina Campos Beltrão Feitosa e Luana Morena Carollo Ferreira, terminou sua redação antes de deixar a unidade. "Fiquei muito feliz pela redação de Guilherme ter sido escolhida. Ele é um jovem com muito potencial e fala diferenciada", diz Ana Carolina. "O resultado demonstra o trabalho sério que realizamos em equipe na Fundação CASA", destaca o diretor da unidade, Fernando Faria de Andrade.

Guilherme tem outro sonho: "trabalhar para minimizar o sofrimento das pessoas que estão abaixo da linha da pobreza e não têm o que comer". Fã das obras de Machado de Assis e de Lígia Fagundes Telles, Guilherme não vê a hora de ganhar seu computador e ensina: "Estudar e se capacitar é fundamental. Devemos valorizar o amor à nossa família e não entrar na onda dos outros."

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