24/09/2010
24/09/2010
O governo do Brasil embarcou em uma guerra verbal com os mercados financeiros para conter a constante valorização da moeda brasileira, o real.
Depois de uma forte intervenção nos mercados de câmbio este mês, ele ameaçou usar outras armas, incluindo o fundo de riqueza soberana do país, que os analistas dizem que poderão ser seguidas por swaps reversos destinados a enfraquecer o real e até outros controles de capital.
Mas analistas advertem que o governo pode estar disfarçando o custo da intervenção e até usando-a para massagear sua contabilidade fiscal antes da eleição geral em 3 de outubro.
A forte valorização do real - a moeda subiu mais de 26% em relação ao dólar desde o início de 2009 - prejudicou os exportadores brasileiros, que já lutavam com uma infraestrutura deficiente e com uma forte carga fiscal. O Banco Central do Brasil comprou mais de US$ 1 bilhão por dia na semana passada - cerca de dez vezes sua média diária recente -, enquanto os investidores estrangeiros se preparavam para participar de uma enorme emissão de ações planejada pela Petrobras, a companhia de petróleo nacional, no fim do mês.
Diante desses influxos tão fortes, as aquisições do banco apenas conseguiram conter aumentos ainda maiores do real. Desde 9 de setembro - data em que a maioria dos corretores acredita que o BC começou a intervir - até o fim da semana passada, o real aumentou 0,4%, para R$ 1,716 contra o dólar.
No entanto, um anúncio do Ministério da Fazenda na segunda-feira à noite de que seu fundo de riqueza soberana tinha sido autorizado a fazer compras ilimitadas" de dólares para evitar a força do real, fez a moeda baixar. O ministro da Fazenda disse que isso não teria impacto no orçamento nacional, pois envolvia administrar ativos de propriedade do Tesouro, e não gastos.
A declaração contrasta com a admissão do Banco Nacional da Suíça, em julho, de que perdeu mais de 14 bilhões de francos suíços tentando conter o valor do franco através de intervenções no primeiro semestre deste ano.
Tony Volpon, diretor de pesquisa de mercados emergentes para as Américas na Nomura Securities, diz que em uma estimativa conservadora os brasileiros já estão pagando US$ 44 bilhões por ano, na verdade, por se situar no lado perdedor de um "carry trade" [tomar dinheiro emprestado em um país a juros baixos e aplicar em outro que pague juros mais altos] em que os investidores estrangeiros compram títulos brasileiros que rendem pelo menos 10,75%, cuja renda o governo investe em instrumentos em dólar que rendem cerca de meio ponto percentual por ano.
"[As autoridades brasileiras] acham que descobriram a pedra filosofal", ele diz. "Nos últimos anos o governo empreendeu uma série de medidas políticas que aumentam sua dívida bruta, embora a dívida líquida não seja afetada."
O Brasil constantemente apresentou superávits orçamentários primários grandes o suficiente para produzir reduções constantes em sua dívida líquida. Mas como diz Nick Chamie, diretor de pesquisa de mercados emergentes na RBC Capital Markets em Toronto, enquanto a dívida líquida tende a baixar, a dívida bruta - que muitos analistas consideram mais relevante - tende a subir.
"Nós nos preocupamos com a dívida bruta", ele diz. "Os riscos fiscais são maiores do que muitos na comunidade de investimentos admitem." O fundo de riqueza soberana do Brasil é diferente de qualquer outro no mundo, pois o país não tem um superávit de conta-corrente nem um superávit orçamentário nominal. O fundo foi montado com valores que haviam sido orçados, mas não gastos, no final de 2008 e atualmente consiste em cerca de R$ 18 bilhões, embora suas atividades possam ser financiadas pela emissão de mais dívida do governo - levando Volpon a dizer que na verdade deveria se chamar fundo da dívida soberana.
Analistas manifestaram preocupação por outras medidas recentes, como a decisão de transferir as ações do governo na Petrobras para bancos do setor público antes da emissão de ações, uma medida que daria um impacto positivo no superávit orçamentário primário sem necessidade de dolorosos cortes de gastos.
Flavia Cattan-Naslausky, da RBS Global Banking, diz que o custo fiscal da intervenção monetária pode se justificar pela volatilidade reduzida e a resistência da economia brasileira durante a crise global, em parte garantida por seu acúmulo de reservas estrangeiras, atualmente em mais de US$ 260 bilhões.
"A questão é quando eles vão começar a inverter algumas dessas políticas?", ela pergunta. "Estas só se tornam uma preocupação quando os investidores sentem que o Brasil não pode mais cobrir seu déficit. Até agora o mercado não vê isso como um risco."
Volpon concorda: "O mercado prefere acreditar que é temporário e será revertido. É como uma disputa feia. Comparado com [problemas fiscais em] outros mercados, o Brasil não parece tão mal".
Fonte: Financial Times / UOL
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