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Diminuição dos salários, amargo remédio para a Europa


19/03/2010



Na sexta-feira (5), a Grécia foi paralisada por uma greve dos transportes urbanos e por interrupções de trabalho dos controladores aéreos. Na véspera, foram os serviços públicos de Portugal que sofreram com uma greve organizada pelos sindicatos dos funcionários.

Esses acessos de fúria são motivados pelos cortes de salário previstos pelos planos de socorro desses países em grandes dificuldades. Na Grécia, anunciam uma diminuição de 30% do décimo terceiro e 60% do décimo quarto salário dos funcionários. Em Portugal, um congelamento dos salários do setor público. As aposentadorias também são alvo das economias.

Já em 2009, os funcionários públicos irlandeses viram uma queda de 7,5% em média de seus salários, e os letões, de cerca de 17%! Esse remédio tão amargo é necessário? É o único que funciona?

Esses países sofrem de dois males", responde Agnès Benassy-Quéré, diretora do Cepii [Centro de Estudos Prospectivos e de Informações Internacionais]. "Eles acumularam déficits insustentáveis e sofrem de uma grave perda de competitividade. Ao abaixar a massa salarial da função pública, eles tratam os dois problemas ao mesmo tempo, aliviando suas finanças e atenuando a alta de seus preços".

Um número explica por que os gregos, por exemplo, vivem além de seus recursos. "A evolução de seus preços no consumo foi 10% superior à da zona do euro desde o primeiro trimestre de 2001 e até o quarto trimestre de 2009, ressalta Claude Giorno, economista da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE). A moderação salarial era necessária".

Patrick Artus, diretor de pesquisa da Natixis, protesta contra a ideia de que os países em crise exageraram. "A Espanha, é verdade, aumentou seus custos salariais 40% a mais do que a Alemanha desde 1999", analisa. "Mas essa convergência não tem nada de anormal, pois os custos salariais espanhóis representam somente 80% dos da Alemanha".

Em compensação, ele teme que a diminuição dos salários vá distorcer a distribuição de renda em favor do lucro. "Como este não é reinvestido, isso irá gerar economias no momento em que houver excedentes, quando seria preciso haver mais consumo", diz.

Pois os planos de austeridade provocam inevitavelmente uma desaceleração econômica que se traduz por cortes de empregos também no setor privado, e o aumento do desemprego leva para baixo as remunerações pagas pelas empresas.

Para evitar que o esforço de restabelecimento recaia demais sobre o poder de compra, muitos especialistas defendem, assim como Giorno, reformas estruturais que melhorem a competitividade do país. "A Grécia deveria abrir suas profissões como a de arquiteto", afirma. "Deveria se facilitar para eles a criação de empresas, e deve ser revisto o salário mínimo de 727 euros que, apesar de ser baixo, causa um desemprego maciço de 27,8% entre os jovens".

Olivier Blanchard, economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), apoiado por Jacques Delpla, membro do Conselho de Análise Econômica, defende há vários anos uma outra iniciativa para os países da zona do euro. Esses países "cigarras", que não podem mais desvalorizar suas moedas para recuperar competitividade, "devem congelar ao mesmo tempo seus preços, seus aluguéis e seus salários, o que representa uma queda no poder de compra somente em termos de bens importados", afirma Delpla.

O problema, responde Gilles Saint-Paul, professor da Escola de Economia de Toulouse, "é que se trata de uma quase desvalorização, e como essas quedas diminuirão o produto interno bruto (PIB) do país, ao passo que a dívida externa permanecerá intocada, a proporção dívida/PIB se agravará".

O outro problema, analisa Bruno Cavalier, economista-chefe da Oddo Securities, "é que isso não funcionará em razão da grande rigidez na diminuição dos salários, mas também dos bens". Segundo ele, "seria preciso ainda que a Alemanha não aniquilasse os esforços gregos ou portugueses ao buscar uma moderação salarial que reforça sua competitividade".

A equidade tem um papel a cumprir

O "sistema Blanchard" é muito engenhoso, conclui, mas ele "não funcionará", porque se esquece da urgência em que se encontram esses países em crise e da "massa humana" que nem sempre se comporta de acordo com as recomendações dos especialistas.

Então de volta ao tradicional apertar de cintos do cidadão comum, que parece ainda mais insuportável para as populações envolvidas uma vez que elas não sentiram como se estivessem vivendo acima de seus meios, mas somente alcançando o nível de vida de seus vizinhos europeus.

Garantia de manifestações violentas? "Segundo analistas escandinavos, os sacrifícios são mais bem tolerados quando atingem todos os cidadãos do país", acredita Benassy-Quéré. Não pode faltar equidade no sistema.

Fonte: Le Monde"


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