03/02/2010
(resposta de Ricardo Patah, presidente nacional da UGT, ao artigo PLR compulsória", de José Pastore, publicada na edição de 2/02/10, no caderno de Economia do Estadão)
O artigo do professor José Pastore, o ideólogo do empresariado brasileiro que ensina relações de trabalho na Universidade de São Paulo, com o título "PLR compulsória" cai em cheio no gosto dos empresários brasileiros que apostam, desde que há empresa no Brasil, na concentração de renda.
Estes empresários que têm hoje como ideólogo o professor da USP aceitam a PLR, conforme definida na Constituição de 1988, porque não há uma obrigatoriedade de distribuir a participação nos lucros.
E as empresas que adotam a lei da PLR o fazem por causa da pressão de sindicatos fortes, que mobilizam seus empregados para buscar mais rendimento. Onde não tem sindicato forte não existe PLR. E o professor José Pastore sabe disso.
O que estamos discutindo com a obrigatoriedade de repasse dos 5% do lucro líquido é algo completamente diferente. Trata-se de repassar para os empregados 5% do lucro líquido, que só será conquistado com a participação dos trabalhadores. É um mecanismo que, ao contrário que o professor José Pastore explica para os leitores do "Estadão" e para apenas um dos lados da moeda produtiva, ou seja, os empresários, vai vincular ainda mais trabalhadores e patrões em torno de resultados.
Pois as categorias que ao longo dos anos estabelecem metas de produtividade, independente dos critérios adotados, já estão desgastadas. Ninguém agüenta mais correr atrás de máquinas, metas de vendas ou se exaurir por meses a fio atrás das sempre renovadas metas de produtividade. Objetivos inexeqüíveis impostos por gerentes e chefes autoritários e ditatoriais, a serviço de retrógrados empresários.
A lei da PLR se tornou um engodo para que os patrões obriguem seus empregados a se desgastar em troca de valores nem sempre claros. Muitos setores, pressionados pelos sindicatos das categorias, acabam estabelecendo um valor arbitrário já que, muitas vezes, os critérios que dariam bases aos cálculos da PLR não são objetivos.
Com a transferência automática e sujeita às penas das leis de 5% dos lucros líquidos para as folhas de pagamento a situação se inverte. Teremos clareza dos valores e, por isso, todos trabalharão para aumentar a produtividade, reduzir o retrabalho, garantir a satisfação de fornecedores e clientes.
É a harmonia que só o trabalho sério a favor da distribuição de renda garantirá tanto aos empregados quanto aos patrões que têm preocupação social e econômica. Que, com certeza, respeitam o professor José Pastore, mas sabem distinguir os "capitalistas umbiguistas", ou seja, os capitalistas brasileiros que só pensam no próprio umbigo, dos empresários que sabem que com mais distribuição de renda, através da distribuição de lucros, ainda que parcial, que construiremos um Brasil muito mais justo.
Ricardo Patah, presidente nacional da UGT"
UGT - União Geral dos Trabalhadores