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UGT PRESS 146: A crise inacabada


29/12/2009

FANTASMAS: em todos os finais de ano sobram previsões otimistas. Em geral, pouco se fala dos esqueletos do passado recente, aqueles que ainda terão capacidade de nos assombrar no futuro próximo. Sem intenções lúgubres (que a época não recomenda), mas com preocupações didáticas, é bom lembrar alguns dos fantasmas insepultos que apareceram em 2009.

MUNDO BIPOLAR: no período da Guerra Fria, existiram duas forças que durante meio século trouxeram conflitos periféricos e revoluções internas, capazes de desestabilizar o século de maior progresso da humanidade. O século 20 está por ser mais bem estudado, tantos foram o seus acontecimentos. Agora, no início do século 21, surge de novo o fantasma da bipolaridade, bipolaridade consentida e acordada. Esta visão apavorante surgiu antes da cúpula de Copenhague: China e Estados Unidos se uniram para dinamitar as pontes em favor do controle ambiental. Para o professor Yan Xuetong, especialista em política chinesa, hoje é cedo para falar em G2, mas em 15 anos (ou no máximo 20) teremos uma "situação G2", quando a China terá efetivamente diminuído a distância que tem entre si e os EUA em termos de poder abrangente" (Folha de São Paulo, 28/12).

SPREAD BILIONÁRIO: diversos estudos, o último da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), mostram que o Brasil gastou centenas de bilhões de reais em juros nos últimos anos. A Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) contesta os números com os argumentos de sempre: inadimplência, custos de captação e tributação sobre a intermediação. Na verdade, os lucros dos bancos engordaram muito nos últimos dois governos (FHC e Lula) e esse dinheirão, arrancado à custa dos superávits primários, fez falta aos programas de governo, especialmente para os da área de educação e saúde. Parece que o fantasma se tornou manso e todos o aceitam como fato normal da vida econômica brasileira. A União Geral de Trabalhadores (UGT) lembra o flagelo e protesta contra essa política de sangria dos recursos governamentais. Neste caso, soma-se a todas as instituições que protestam contra os juros altos.

JUSTIÇA BRASILEIRA: 2009, o ano que termina, talvez tenha sido o ano com maior visibilidade do sistema judiciário em termos de impunidade. Muitas denúncias de corrupção vieram à tona, sem qualquer condenação. Vale relmbrar:: certamente, Arruda terminará o seu governo no Distrito Federal
foram revogados os mandados de prisão contra o banqueiro Daniel Dantas
o médico acusado de 59 estupros foi libertado em tempo recorde, na penúltima semana do ano e, o caso do menino Sean Goldman ganhou as páginas dos jornais e horários nobres da TV, mostrando ao mundo que a Justiça brasileira demorou nada menos do que cinco longos anos para resolver uma pendência que envolve a guarda de uma criança, sobrando ainda acusações de ambas as partes. Não é à toa que há gente importante defendendo a reforma do Poder Judiciário como a mais necessária das reformas brasileiras.

A CRISE INACABADA: bons economistas e administradores públicos estão anunciando que a crise não acabou e que o perigo não passou. No início, o presidente Lula disse que estávamos apenas sujeitos a uma "marolinha". Depois, acordou e tomou providências, reduzindo os juros e os impostos sobre produtos duráveis. Embora existam boas perspectivas para a economia brasileira, não podemos esquecer que 2010 é um ano eleitoral e normalmente sujeito às medidas de caráter político, nem sempre recomendáveis em termos econômicos. O maior perigo brasileiro está exatamente na força do câmbio e na valorização de sua moeda, o que poderá levar a um déficit espetacular em contas correntes, prá lá de 30 bilhões de dólares. Nas palavras de José Ángel Gurria, secretário geral da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), grupo do qual o Brasil não faz parte, "a política monetária deve ser adequada aos resultados da conta corrente, da conta comercial, com o tipo de câmbio. Uma coisa é economia com inflação elevada, que exige juros mais altos. Mas neste momento não há nenhuma relação forte entre os preços e o custo do crédito. O que caba ocorrendo é uma dupla especulação, porque não só os ativos produzem rendimento maior, mas também há o rendimento do câmbio. Essa situação pode causar enormes distorções" (Estadão, em 27-12). O governo estaria preparando uma bomba-relógio para o sucessor?"


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