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Aumenta o tráfico de homens na Europa


29/10/2009

Por Pavol Stracansky, da IPS

Bratislava, Eslováquia, 04/08/2009 - O tráfico de homens para serem usados como trabalhadores escravos aumenta nos países mais pobres da Europa oriental. Ativistas pedem urgência a governos e organizações no sentido de se conscientizarem sobre a masculinização destes crimes. Cada vez mais os homens são vítimas de traficantes. Ao contrário das mulheres que acabam se prostituindo, eles são obrigados a realizar trabalhos forçados e se convertem em virtuais escravos de organizações criminosas. Estima-se que centenas de milhares de homens sofrem essa situação.

Nos países pobres da Europa oriental, com Bielorússia e Ucrânia, alguns deles sofrem o pior do que organizações especializadas consideram um problema crescente no mundo". O assunto ganha maior visibilidade, mas é preciso mudar a percepção generalizada a respeito. O tráfico tem o propósito de explorar a vítima, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). Não necessariamente implica cruzar as fronteiras nacionais. Embora às vezes inclua o tráfico de migrantes, pois supõe a entrada ilegal em determinado país de pessoas estrangeiras para submetê-las a trabalhos forçados.

"É um problema crescente e é necessário criar consciência sobre o tráfico de homens para poder ajudar as vítimas", disse à IPS Jean-Philippe Chauzy, chefe de imprensa e informação da Organização Internacional para as Migrações (OIM). "A idéia generalizada é que as vítimas são mulheres vulneráveis obrigadas a se prostituírem e se trabalhar como escravas sexuais. As pessoas não pensam que é um problema muito mais amplo e que também afeta uma considerável quantidade de homens", explicou Chauzy. "As organizações da sociedade civil devem trabalhar para conscientizar sobre o fato", acrescentou.

O tráfico de pessoas se tornou um negócio internacional multimilionário. Estima-se que milhões de pessoas caem em mãos de redes criminosas todos os anos, e os homens constituem uma proporção importante, segundo a OIM. Estudo feito por esta organização e divulgado no começo deste ano conclui que 2,83% das vítimas às quais prestou assistência na Bielorússia, entre 2004 e 2006, e 17,6% na Ucrânia eram homens. Os traficantes de seres humanos primeiro convencem as vítimas a emigrar em busca de trabalho e, quando chegam ao destino, se servem de uma combinação de maus-tratos, ameaças, falta de pagamento e restrições de deslocamento para evitar que voltem ao seu país de origem.

Uma pequena proporção é obrigada a se converter em escravos sexuais, segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR). Mas a maioria realiza trabalhos forçados em condições atrozes por mais de 14 horas por dia em troca de um salário ínfimo e, em geral, no setor da construção. O problema é pior nas nações mais pobres da Europa oriental. Calcula-se que somente na Bioelorússia mais de 800 mil pessoas "desaparecidas" podem estar na Rússia contra sua vontade. Nesse país não é ilegal o patrão reter o passaporte de seus empregados nem mantê-los virtualmente detidos no local de trabalho.

"A Rússia é um dos principais destinos do tráfico de homens. Os cidadãos da Bielorúussia e da Ucrânia não necessitam de visto e os controles das autoridades bielorussas para entrar e sair do país são frouxas devido à união aduaneira", explicou à IPS Joe Lowry, representante para Bielorússia, Moldávia e Ucrânia da Federação Internacional de Sociedades da Cruz Vermelha e da Meia-lua Vermelha. "Na Rússia não existe uma lei que impeça um patrão de manter detido um empregado no seu local de trabalho ou o uso de segurança privada" nas empresas, acrescentou.

A atual crise econômica e financeira afundou mais os países pobres da região e aumentou a vulnerabilidade das pessoas, que se tornam presa fácil de traficantes de seres humanos. Com a crise, "a quantidade de homens vítimas de tráfico aumenta porque são obrigados a emigrar em busca de trabalho para sustentar suas famílias, uma situação que leva a assumir mais riscos", disse Lowry. "No desespero, arriscam-se mais e não examinam a oferta de trabalho, a empresa em questão nem o lugar onde vão trabalhar", acrescentou.

Alguns homens enganados relataram que foram obrigados a trabalhar 12 horas por dia em condições terríveis, sete dias por semana, e apanhavam quando protestavam. Além disso, eram vigiados por homens armados que à noite soltavam cães para evitar que fugissem. Na Rússia ocorreu um incidente, documentado pela OIM, no qual o dono de uma empresa com estrangeiros obrigados a realizar trabalhos forçados teria colocado fogo no local onde vários homens estavam fechados como forma de castigo coletivo. Alguns morreram, e os sobreviventes foram levados para seus países de origem pelos próprios criminosos.

Como no caso das mulheres, os homens ficam física e psicologicamente perturbados pela terrível experiência. Mas costuma-se deixá-los de lado mais do que a elas na hora de encontrar ajuda uma vez que conseguem escapar de seus agressores. O estigma que atormenta as mulheres depois de passar por esse tipo de experiência traumática também afeta os homens, e, às vezes, de maneira pior, segundo vários relatos. "Existe um estigma vinculado a este tipo de situação e para os homens que emigraram em busca de trabalho, regressar e reconhecer que foram enganados por traficantes de seres humanos é algo com que a psique masculina não sabe lidar bem", afirmou Lowry.

Muitos deles nem mesmo sabem que podem buscar ajuda. "Se uma pessoa acaba em um país que não é o seu, sem passaporte, trabalho e dinheiro, as possibilidades de ser explorada são enormes. A rede de contenção nesses casos é muito mais ampla para as mulheres do que para os homens", disse Chauzy. "Muitos homens não sabem que há serviços de assistência para casos de exploração porque grande parte da ajuda, como as linhas telefônicas gratuitas, se concentra nas mulheres", acrescentou. Com maior conscientização entre a população e as organizações que trabalho no terreno pode-se reforçar a atenção aos homens que caíram em redes de tráfico de pessoas, ressaltou o representante da OIM.

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