UGT UGT

Filiado à:


Filiado Filiado 2

Notícias

Brasil sem o povão


12/09/2009



Magno Lavigne

Matéria Publicada no jornal Correio da Bahia (11/09/2009-pagina 31) tem o nome Brasil sem povão". Ela foi escrita pelo jornalista Eduardo Rocha e traduz muito do penso em relação ao momento que estamos vivendo na Bahia, em especial em Salvador. "A festa da seleção em Salvador foi só para a elite. A massa participou pela TV". E em minha opinião com medo da onda de violência em que cidade esta envolvida.

Uma parte das manchetes falava do sucesso da seleção. A outra em contraste falava da transferência do seria a nata do crime baiano para uma penitenciária de segurança máxima no Paraná. O que podemos extrair disso? O que tem a onda de crimes haver com o jogo seleção? Não são coisas totalmente diferentes? Ou faces da mesma moeda de nossas profundas contradições sociais?

Penso que estes aparentemente contraditórios assuntos demonstram alguns elementos que devemos levar em conta, à divisão de classes sociais na Bahia (em especial, mas não somente) tem no elemento cor da pele algo muito marcante, os que foram para o jogo da seleção pertenciam majoritariamente à classe media soteropolitana e queiram ou não a classe média de Salvador é branca (alguma duvida é só ir a Shopping e ver), para um amigo meu presente ao evento parecia que Pituaçu tinha se transformado num estádio Europeu, os preços entre R$ 100,00 e R$ 250,00 expulsou do os seus freqüentadores mais assíduos, que tiveram que ver o jogo pela TV. Os ônibus em Salvador continuaram cheios não pela ida ao estádio, e sim pelo deslocamento normal do dia a dia. Voltando ao texto do jornalista "os pontos de ônibus (Pituaçu) não tiveram a disputa habitual. A briga foi por táxi".

Algum desavisado poderia ainda dizer que a sociedade não é dividida em classes, e que a cor da pele não influencia em nada as questões sociais, para mim o jogo da seleção foi mais uma prova contundente que a sociedade baiana é dividida em classes e que pelo menos aqui com toda certeza a classe tem cor. E só ver a cor dos ditos bandidos que tombaram em "confronto" com a policia e a dos homens e das mulheres que estão apavorados com o numero de ônibus incendiados. Será que os que servem ao trafico hoje, não tiveram o sonho de jogar na seleção um dia, como toda criança tem? O crime emerge da raiva e do abandono. A gente enche a cara de desespero. Por ser mantido em bairros fétidos, sem saneamento. E ter que buscar a sobrevivência sem emprego, sem a garantia da refeição e são estes os corpos no noticiário.

Não se pode cair nas armadilhas fáceis de lutar contra as desigualdades raciais colocando negros e brancos em campos opostos, o que faço é uma constatação, a todos deve ser dado o direito aos encantos da cultura, da musica e sim claro do futebol, ainda mais quando se fala de uma seleção que em agosto de 2004 foi jogar no Haiti com a intenção de levar paz e alegria e para fazer o que chamávamos de diplomacia da chuteira, ou seja, se podemos jogar lá, para trazer um pouco de Brasil, da alegria do futebol ao Haiti, porque então se nega ao povo o direito ao futebol, será que assim não ajudamos a consolidar os nossos próprios haitis? Não estamos assim sendo contraditórios demais?

Enquanto a classe média com todo direito vibrava com os gols de Nilmar em Pituaçu, algumas mães choravam os filhos mortos em "confronto", e outros assistiam ao jogo pela TV, aguardando no noticiário do outro dia a contagem dos gols e dos corpos. Esta é a Bahia de todos nos.

Magno Lavigne, é Secretário Para Assuntos da Diversidade Humana da UGT."


Categorizado em: UGT,


logo

UGT - União Geral dos Trabalhadores


Rua Formosa, 367 - 4º andar - Centro - São Paulo/SP - 01049-911 - Tel.: (11) 2111-7300
© 2023 Todos os direitos reservados.